Caça aos Mestres

Por Ezequiel Sena

Um tema seriíssimo e um vazio de grandes proporções à sociedade brasileira: o desinteresse dos jovens pelo Magistério. Esta lamentável estatística foi divulgada recentemente pelo Ministério da Educação. A carreira que já ecoou aos quatro cantos como símbolo do amor e da vocação de tantas gerações. Quem diria! – hoje sequer desperta a mínima vontade da classe estudantil. É triste dizer isso. A que ponto chegou talvez a mais nobre das profissões. Por que isso está acontecendo? Negligência ou descaso dos governantes? Claro, ambas as respostas são verdadeiras. Faz-me recordar a atualíssima frase do notável educador brasileiro, Paulo Freire (1921-1997), “Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores.” Muito me intriga saber que, além da descrença dos jovens pela carreira pedagógica, ainda existe escassez de salas de aula de qualidade. Imagine que futuro tem um país que admite reduzir seus professores? Para se ter uma idéia, a quantidade de estudantes nos cursos que preparam docentes para os primeiros anos da educação básica caiu pela metade em quatro anos, segundo dados do Censo do Ensino Superior do MEC, o que vem comprovar a renúncia dos jovens à carreira. Outro fato curioso, ao mesmo tempo em que se forma menos professores desencadeia um número de profissionais dando aula sem a devida formação.

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Poucos especialistas, convém enfatizar, conhecem tão bem o dia a dia das escolas brasileiras quanto o senador Cristovam Buarque. O incansável Cristovam tenta levar adiante seu projeto para melhoria da educação como principal bandeira de desenvolvimento do País; é bom que se diga: uma luta que não é de hoje. Em discurso no plenário do Senado, 07/02, afirmou sua preocupação com a situação de desinteresse que chegou o ensino básico no Brasil, e não enxerga alternativa em curto prazo senão a valorização da profissão, incluindo bons salários e melhores condições de trabalho.

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Por outro lado, reconhece que nos últimos anos houve avanços, contudo limitados ao ensino técnico e superior sem chegar à educação de base. Muitos consideram utópicas suas propostas tais como a que obriga qualquer detentor de cargo público, de vereador a presidente da República, a matricular seus filhos na rede pública.  Outra, de teor amplo e significativo, é federalizar o ensino público brasileiro com os professores tendo o mesmo tratamento dispensado a categorias como Petrobrás, INSS, BNDES, Caixa Econômica e demais Órgãos Oficiais, notadamente sob o ponto de vista salarial. Aposta ele que a sua linha de pensamento vai muito além do mero repasse de recursos às prefeituras.

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Particularmente acredito piamente na viabilidade das propostas do Senador. Não precisa ser especialista para entender que a chave de um bom ensino é seduzir os melhores alunos à carreira de professor, especialmente aqueles que tenham vocação para o ofício e tragam na alma o dom de lecionar. Imagino não ser demérito copiar aquilo que já deu certo em outros países, como Taiwan e Tailândia, ao reunir em seus quadros de docentes os melhores talentos. Lá, um educador ganha o mesmo que um engenheiro, o que, por si só, atrai os alunos mais brilhantes para a docência. Entretanto, aqui no Brasil, talvez o maior entrave esteja justamente na ausência de um adequado horizonte profissional.

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Convém dizer que, além da crise de autoridade, ser educador no Brasil virou profissão de risco; a violência dentro das salas de aula tem sido constante, algo no mínimo assustador. A todo o momento deparamos com notícias de professores vitimados por alunos agressivos. Trabalhar num ambiente assim tornou-se um grande desafio. Deixa claro que isso também seja um indicador para explicar os motivos de fuga da carreira pedagógica. Infelizmente este é o retrato da maioria das escolas públicas brasileiras. Contudo, vale ainda acreditar no visionário Anísio Teixeira, (1900-1971), “Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra”

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9 Respostas para “Caça aos Mestres”

  1. Jorge fernandes

    GOSTARIA DE PARABENIZAR O EZEQUIEL SENA PELO COMENTÁRIO E AINDA INFERIR QUE EM UM PAÍS DE MILHARES DE “ANALFABETOS” – SEJAM POR QUE NÃO APRENDERAM LER E ESCREVER, SEJAM PELA INCAPACIDADE DE ASSIMILAÇÃO DE CONTEÚDOS – É INADIMISSIVEL O FECHAMENTO DE ESCOLAS, TAL COMO VERIFICADO, RECENTEMENTE, NO COLEGIO ESTADUAL DIRLENE MENDONÇA. PARECE-NOS QUE FALTA PLANEJAMENTO ENTRE TODAS AS ESFERAS DE GOVERNO – FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL – PARA QUE APROVEITEM, MELHOR, AS ESCOLAS EXISTENTES. TEMOS NOTICIAS QUE ESCOLAS FECHAM E ESCOLAS SÃO CONSTRUIDAS; PROFESSORES EM DISPONIBILIDADE (SEM CARGA HORÁRIA) E REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO. EM RESUMO, TRATA-SE DE UM GRANDE DESCASO COM A INSTITUIÇÃO “ESCOLA” NESTE PAÍS.

    JORGE FERNANDES

  2. Paulo Lima

    A qualidade dos temas abordados pelo ezequiel sena tem chamado a nossa atenção, este por exemplo, retrata de um dos problemas mais serios da sociedade, pois um país que não valoriza os seus docentes, coisa boa não pode se esperá.

  3. Francisco Silva Filho

    Ezequiel, considero de grande pertinência o tema que ora abordas. É irrefutável que a educação em nosso país esteja em estado terminal, tendo passado pela UTI e sequer sido diagnosticado pelos setores que, em tese comandam a educação. Em julho de 1976, em um congresso de educação na América Latina promovido pelo MEC – Ministério da Educação e Cultura onde o emérito educador e filósofo Paulo Freire defendia o seu método de ensino, cujo, lhe rendeu o livro lançado em 1969 “PEDAGOGIA DO OPRIMIDO”, ele, o Freire, diagnosticava que a educação em nosso país estava passando por um revés que não tinha volta. Enfatizava à ocasião que a visível deterioração do nosso ensino não era um mero acaso e sim um projeto. Zica, nós (de 53 em diante) podemos ainda nos considerarmos “um raspa de tacho” daquilo que um dia foi sinônimo de educação e ensino de qualidade neste país. O governo agora faz campanha publicitária de convencimento a que novos vocacionados ingressem no magistério e na pedagogia, dando clara demonstração do equívoco cometido contra o ensino neste país que já dura 40 anos.

    Francisco – Curitiba – PR

  4. Cláudia(CAU)

    Eu sou Professora e muito me orgulho da minha Profissão, é meu ofício, é minha missão de vida.Está em sala de aula é um bálsamo para minha alto estima.

  5. Antonia castro

    Concordo com o comentário do Sr. Ezequiel Sena. É triste saber que a profissão mais valorizada em alguns países, passa por esta situação aqui. não é descaso de nossos futuros profissionais;o que acontece é que ao desejar uma profissão, o jovem pesquisa, observa e acaba por decidir por alguma que nem seja seu ideal.A educação está falida, pois não temos mestres e sim trabalhadores em escloas. São profissionais que não deram certo com suas escolhas; acabam numa sala de aula,sem Didática, Psicologia da Educação, ou outros requisitos para saber conduzir uma turma e exergar o que falta às suas vítimas.Desculpe o desabafo. Professra Antonia Castro.

  6. Rubevaldo

    Parabens Zica. Tenho dito sempre: se quizermos ter uma geraçao de futuros homens serios, honestos, preocupados com o futuro, é preciso cuidar dos jovenzinhos, isto é, de nossas crianças.

    Tenho certeza de que os jovens com idade a partir dos 12 anos já nao muda mais, estao contaminados. E por isso que afirmo: Temos que educarmos a geraçao que ainda nao se contaminou.

    Mais uma vez parabens pelo tema que escolhestes para essa cronica.

    Abraços e boa semana.

  7. edsonsena

    Você é uma craque, na arte de abordar temas que os nossos governantes não querem enchergar, pois quanto mais formos analfa-betos melhor para essa camarilha de ladrões.

  8. carlos paraiba

    O QUE EZEQUEL SENA FALA ,SOBRE A EDUCAÇAO . E O SUMIÇO DOS MESTRES E UMA COISA QUE QUALQUER CRIANÇA HOJE SABE ,ENTAO PERGUNTO A ELE O Q DEVEMOS FAZER .POR ONDE COMEÇAR UMA REVULUÇAO,PARA QUE OS JOVENS SONHEN E LUTEM ; O QUE FAZER PARA NASCER NELES O DESEJO DE SER MESTRE,ENTAO SALVARMOS AS GERAÇOES FUTURAS DA IGNORANCIA…?????

  9. Vilomar

    Olá Ezequiel,
    Parabéns pela forma como abordou um tema tão urgente em nossa sociedade. Sou professor e sinto na pele toda essa indignação. A educação liberta, nossa estrutura política não tem interesse em libertar o povo, é necessário investimentos a médio e longo prazo, mas o governo só tem interesse em quem vota nas próximas eleições. A educação está longe de ser prioridade e sendo assim estamos longe de uma sociedade desenvolvida.
    grande abraço

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