Um dia com os madrugadores da Olivia Flores

Ezequiel Sena

Quando se acostuma a acordar no silêncio da madrugada é praticamente impossível forçar novo sono. Dá até dor de cabeça. O que era tédio, quando jovem, cede espaço ao prazer. Apreciar o raiar das primeiras luzes no horizonte é maravilhoso. Então, o melhor mesmo é sair da cama, dar um basta na preguiça, preencher o tempo e deixar os olhos abrir o caminho do novo dia. São 4h50min, a Avenida Olivia Flores me espera, vai se encher de vozes dos apressados madrugadores, em nome da saúde. Para mim, não andar com essa gente falta algo, a caminhada fica sem graça, parece que o tempo se alonga. Prefiro me juntar a eles.

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A turma dos homens de bem, assim chamada, não dá moleza, anda pra valer, percorre a pista todo santo dia até a curva de entrada da Uesb. Muito bom esse contato diário, fortalece ainda mais os laços de amizade. Logo ao clarear, principia o formigueiro humano: senhores e senhoras andantes, ciclistas e velocistas de todo tipo. De repente aparece um grupo de belas moças, como se flutuassem pela estrada. Todas bem vestidas de malhas coloridas coladas ao corpo, a lhes cobrirem as linhas harmoniosas de cada reentrância – parece que as roupas foram costuradas com elas dentro – tão desenhadas que foi inevitável a nossa contemplação.

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Feitos bobos, um olha para o outro meio sem graça, enquanto elas passam em direção ao destino bendito. Viu aí? Escuto um perguntar, como se fosse possível alguém deixar de enxergar tanta exuberância! A natureza é perfeita, as bonitas carregam consigo a majestade de suas geografias naturais. Que me perdoem as feias, como bem escreveu o poetinha Vinícius. Colírio em circulação suaviza as veias do coração. Não precisa dizer mais nada.

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Já é dia, o sol ainda manso não é mais como um bocejo avermelhado detrás da serra, surge o verde do pasto dando lugar às novas edificações, logo à frente se avista o prédio da Justiça Federal. Outros caminhantes, fugindo do sedentarismo, nos cumprimentam pelo caminho. É hora de a turma colocar o papo em dia, uns tentam seduzir os demais colegas a escutarem os seus comentários. Todos têm na ponta da língua uma visão crítica sobre o jogo do time do coração, das extravagâncias do fim de semana, das experiências vividas em seus trabalhos ou se ufanam com as conquistas do passado.

A caminhada prossegue, lá íamos nós quando por alguma razão que até Deus duvida, um resolve chamar o outro pelo apelido. Pra quê?  A turma inteira cai na gargalhada. Caçoam numa chacota sem igual. Apelido é como praga, se assemelha a erva daninha,  espalha-se como água morro abaixo ou fogo morro acima. Ninguém segura. Quem enfeza – coitado –, está condenado ao fogo eterno. Valha-nos, Senhor! O homem virou uma fera. Fez ameaças, quis brigar. Por ser a turma formada de pessoas maduras e equilibradas a paz volta a reinar; resolve-se dar um basta. Até porque, ninguém é doido de mexer com o ofendido, mas a vontade de atiçar para ver o circo pegar fogo é enorme, a língua coça e ninguém tem coragem. Ainda bem. Caminhada em grupo é assim, como fenda aberta, por ela o que se vê vazio pode se encher de tudo.

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4 Respostas para “Um dia com os madrugadores da Olivia Flores”

  1. Dargilan filho

    Parabéns, meu pai faz parte dessa turma .

  2. Dargilan filho

    Meu pai faz muita gozação com os vascaínos e tricolores, pois sao eternos fregueses do mengão.

  3. Dargilan

    Parabéns, meu pai faz parte dessa turma, ele faz muita gozação com os vascaínos,botafoguenses e tricolores, pois sao eternos fregueses do mengão, além de sempre ir com o cachorro ”binbin”

  4. Dantas de BH

    Dargilan,
    A atividade física nunca esteve tão em moda, como nos dias atuais e, se praticada com os devidos critérios médicos, é benéfico à nossa saúde, até aí tudo bem, só não entendi o seu entusiasmo com tantos “parabéns”. Foi pelo texto do Ezequiel, ou pela caminhada que ele diz fazer?
    Aliás, meu caro, não entendi foi nada mesmo: Você é baiano ou é CARIOCA DO SERTÃO? Pois, nordestino de coração, torce para o time da sua região…
    Entendeu…… FLAMÍDIA?

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