No tempo do brucutu

Jorge MaiaJorge Maia

O sol de verão descia preguiçoso por detrás da serra do Peri – peri. A cidade mansamente preparava-se para o descanso, em que a agitação maior, provavelmente seria a corrida para chegar a tempo de assistir ao repórter Esso. Ainda era um tempo em que havia cadeiras nos passeios das casas, o que denunciava a fraternidade entre os vizinhos. As meninas ainda brincavam de roda e os meninos jogavam bola na rua. Às vezes era uma bola de meia, mas os gols nunca foram tão de “placa”.

Estou falando da década de 60 do século vinte, afinal, não está tão distante. Surgia a jovem guarda, Beatlles e outros mais, além daqueles que ao final da década de cinquenta, ainda frequentava os programas musicais da Rádio Clube de Conquista. Minha vida musical está ali prisioneira, foi um período rico.

Volto a falar do sol que “declinava no horizonte”. Um fato ocorre no centro da cidade: na rua Cel. Gugé, lado esquerdo de quem está a descer aquela rua, próximo ao Banco do Brasil em sua parte que dá para aquela rua. Um fusca encontra–se estacionado. Uma jovem desce caminhando pelo passeio, do mesmo lado em que se encontra o fusca. De repente, atira–se contra o capô daquele veículo, e numa luta desesperada tenta arrancar uma peça metálica que era o esguicho por onde saia a água para lavar o para-brisa.

Dentro do veículo, três pessoas assistiam assustadas aquela cena meio louca. Quando a jovem percebeu as pessoas dentro do veículo, saiu em desespero, apavorada. Ninguém pode compreender o fato. O que levaria alguém a tentar, com tamanha sofreguidão, roubar aquela peça, cujo preço no mercado não justificava aquela prática?

Era moda naquele tempo usar aquela peça em uma corrente e pendurada no pescoço, era uma espécie de colar. Era uma mania dos estudantes, os quais exibiam o seu troféu. Virou uma febre. Aquela peça era chamada de brucutu, dada a sua aparência com o chapéu usado pelo velho personagem de histórias em quadrinhos. Raro era o jovem que não trazia um brucutu pendurado no pescoço.

A montadora, com aquela febre, passou a produzir brucutus plásticos, em cor chumbo, sem graça, caindo então aquela moda. Mas quem importa? Os jovens já não eram os mesmos. Os brucutus tornaram–se obsoletos. Anunciavam a era de aquários e o restante é uma confusão que ninguém consegue explicar. Hoje, fico a imaginar o perigo que a sociedade corria com aqueles jovens, cuja única violência era a de arrancar um brucutu de um fusquinha e exibir, vaidoso, em seu pescoço. Setembro de 2005.


Uma Resposta para “No tempo do brucutu”

  1. Dablio Ferraz

    O tal brucutu não é do meu tempo, mas o texto é genial, e como não poderia ser? Parabéns!!

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