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Valdir Barbosa

Valdir Barbosa

Lembro-me de um tempo, nem muito distante, em que era justo fazer piquetes em portas de fábricas e promover greves a mancheia. Na esteira destes e outros lícitos pleitos, a sociedade acreditou em mudanças e apostou no novo, com grandes razões. A alternância de poder é salutar e assim ocorreu, numa terra onde se plantando tudo dá.

Contudo, ao que parece, as raízes dos absurdos amplamente contestados corromperam brotos, dos quais se dizia pretender vir renovando. Exemplos de “mensalões” e “passadenas”, certezas incrustadas nos “lavas jatos”, posto, neles todos, provas incontestes da desfaçatez de quem pregava seriedade e ética. Destarte, o dissabor daqueles que acreditaram na transformação, obrigados a assistir, por todos os lados, hora após hora, enorme cipoal de escândalos.

As margens contaminadas não se sustentam e aderem, ou são engolidas pela podridão que navega na direção de um mar, onde o verde da esperança sucumbe às cores gris do desfortunio. E o repetitivo dito, “polícia é oceano para onde deságuam todos os rios da miséria humana”, se encorpa virando verdade indiscutível. Quem deve combater e prevenir recebe o peso ilimitado da falta de drenagem, nos canais da educação, da saúde, da infraestrutura, estas sim, vias capazes de despoluir o rio no seu curso, minimizando peso aos combatentes.

Nesta paisagem vejo eclodir a greve da Polícia Militar do meu estado querido. Percebo nas mensagens divulgadas, sobretudo pelas redes sociais, tão eloquentes no mundo do agora, palavras que estimulam o caos e assisto verdadeiramente a desordem campear nos sítios desta Bahia tão bela. E observo estampado no rosto dos meus próximos, assim como de desconhecidos, a imagem do pavor e da descrença. Então, homem de polícia que sou, percebo a importância do ser homem de polícia, compreendendo a responsabilidade deste encargo. Por isto, não me faço silente.

Regozijo-me ao ver o fim da greve e volto a acreditar no bom senso de todos, em prol da paz social. De repente, medida que não me cabe discutir põe combustível no monturo e tudo recrudesce. Pouco importa, com todo respeito aos preclaros, se a providencia não guarda nexo com o momento atual, me refiro ao bom senso. Seria esta a hora adequada, pergunto.

Não entendo, entretanto, que a greve seja a solução, pois acho que a polícia pode protestar com veemência, sem, contudo, no estar ausente estimular a violência. Imagino que a corporação deveria parar as ruas colocando seus homens em prontidão, obstruindo todas as esquinas. Blitz intermináveis, inclusive com letalíssimos bafômetros mostrariam que ela – a polícia – existe, demonstrando ainda que os exageros, mesmo positivos, despropositados, sem planejamento, comprometem. Neste modelo, a população não conviveria com o pavor da violência.

Quem sabe não fosse própria a paralisação nos quintais dos poderosos -casas e assistências militares. Apenas, quem sabe, para que se sensibilizem os dominantes, posto, se lhes investimos no poder, pela força do voto, nos obrigamos a lhes fazer seguros, desde quando, caso não estejam, assim também não estaremos.

Por fim, sugiro que todos os integrantes das polícias, inclusive municipais, recebam proventos nos mesmos patamares dos, não menos competentes, companheiros da Polícia Federal, cumpridores fiéis dos seus deveres, assim como seus pares.
Desta forma, policiais de todos os quadrantes, se fariam eximidos da responsabilidade de prender semelhantes, como neste caso, pecadores, tão somente, ao exercitar seus pleitos lastreados no exemplo, não tão longínquo, como dito, de quem hoje governa o estado da Bahia, assim como o país.

Alias, vale dizer que os comandantes, da mesma forma do Judas que beijou Cristo, priscas eras, afirmam de nada saber. Coincidência, ou não, justo no curso de uma Santa Semana, para quem crê.

Assim sendo, as polícias brasileiras buscarão, respaldadas nesta mesma legalidade, que agora atinge um igual, segregar apenas bandidos, sobretudo os corruptos, estes sim, capazes de empobrecer a sociedade ávida por homens de bem, estimuladores dos inconsequentes e infelizes.

Salvador, 19 de abril de 2014
valdir barbosa


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