Academia do Papo: De volta aos doidos de Conquista

Paulo Pires

Paulo Pires

Dizem por aí que jamais devemos usar o termo “doido”, porque isso é politicamente incorreto. Intrigado com esse negócio de politicamente incorreto, perguntei a um doido o que ele achava dessa restrição (ou advertência). O doido me olhou (com aquele olhar de doido), sorriu e me pediu um dinheiro. Eu que não sou tão doido, claro, dei cinco reais a ele.  Desse diálogo pude concluir o seguinte: um cara quando é doido não está nem aí para esse negócio de ser chamado de doido. Ao contrário, ele sorri e acha até legal, porque se sente livre para fazer suas doidices.

O que me leva a escreve a crônica de hoje, é esse frio, essa tarde chuvosa e as lembranças que me vieram daquela Conquista fria de outrora e, porque não dizer, lembrança também, entre tantas,  dos famosos doidos que habitavam nosso município.

É isso.  Vitória da Conquista, além de ser uma deliciosa cidade, sempre teve fama de ter muitos  doidos.  Acho que nessa categoria, só perdíamos (ou ainda estamos perdendo) para Barbacena, Minas e Itaguaí, Rio de Janeiro.  Depois dessas duas, me parece que a medalha de bronze no campo da maluquice, pertence a nós. Isso nos enche de orgulho. Alguns conquistenses consideram  que  deveríamos ter na entrada da cidade uma placa:  Medalha de Bronze em Doidice.  Não vejo como discordar desse lugar no pódio.  Para ser fiel à realidade, confesso aos amigos que realmente já vi alguns conquistenses se orgulhando desse destaque. Para se ter uma ideia,  algumas  famílias  se  notabilizaram historicamente como  Família de Doidos.  Um amigo (esse não muito doido) disse que há injustiças em relação à classificação existente. Advertiu para o fato de que embora algumas sejam  mais citadas, na realidade o “destaque” deveria ser de outra.  Há divergências, há divergências.

Informo que há algumas semanas, antes dessa tarde chuvosa, e já em dúvida em relação ao assunto perguntei a Gilmar Correia sobre quem era quem.  Gilmar, todo orgulhoso, respondeu que em volume  de doidos em Conquista ninguém supera o pessoal dele.  No momento em que me dizia isso um conquistense tradicional interrompeu nossa conversa e disse que o Correia estava errado:  A família que tinha mais maluco em nossa terra era e ainda é a dele (como não fui autorizado a dizer o nome da família do distinto, vou omitir o nome).  Daí em diante os dois iniciaram uma discussão interminável citando, doido por doido, os membros de cada Clã.  Vejam em que maluquice me meti.

Mas, tirando os nomes das famílias malucas, o que me veio à memória foi aquele conjunto de pessoas que zanzavam pelas nossas ruas, todos eles indiferentes aos hábitos, às regras, aos costumes e coisas da chamada sociedade convencional.  Para nossos irmãos malucos, os malucos deveriam ser nós, cheios de  quasquasquás, salamaleques, rapapés e tudo o mais.

Sinceramente, gostaria de saber o que Cafezinho (um doido tranquilão) pensava da sociedade em que vivia.  E Medõe?  Qual seria o pensamento desse doido infantil sobre nós?  Balalaica, sim Balalaica, como seria seu olhar interno sobre os “normais”?  Mistério, mistério…

Lilita.  E Lilita? Ninguém sabe por que Lilita ficou tantã (eu sei… contaram-me). Que mistério existia no coração de Lilita?  Por que tanta paixão?  Ah, meu amigo, minha amiga,  não nos esqueçamos da lição de Pascal: “O coração tem razão que a própria razão desconhece”.  E a mente? A mente humana é um labirinto cheio de labirintos. Nesse momento, olho pela janela, a garoa cai, os doidos foram embora e só, fiquei eu, meio doido ou doido e meio, para contar essa estória mal acabada.  Um abraço cordial e até a próxima…


3 Respostas para “Academia do Papo: De volta aos doidos de Conquista”

  1. Alex

    Minha família só perde p os correia, depois é a nossa, Gusmão de Oliveira!!!

  2. Rosalvo Junior

    Ainda menino , ali pelas cercanias do bairro São Vicente, conheci alguns doidos fabulosos… Chico Leva-Eu… Zé Crispim… Tisôrinha… e Néu – o único que vi rasgar nota de dinheiro, na venda de Seu Almerindo…
    Ah! Doidos, quão de vós inda respira o passado disto? Bi, bip, bi, bip, bi,bi…

  3. cardoso

    Tanto a família Correia e Gusmão são
    descendentes de Manoel de Oliveira Freitas genro de João Gonçalves da Costa.

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