Jorge Maia: Pessoas invisíveis

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado | maiajorge@yahoo.com.br

Eu era menino, e não faz muito tempo, e fazia parte do meu imaginário a possibilidade de ser invisível. Coisa de menino, tal qual os demais pensava em ser invisível para poder ouvir as conversas das pessoas sem que elas percebessem. Fazia parte das possibilidades a chance de provocar sustos e outra brincadeiras sem ser descoberto. Tudo isso era normal e até salutar, pois compunha o tecido dos sonhos da meninice, o que nunca fez mal a ninguém. Leia a íntegra.

 Não podemos esquecer do “Homem Invisível” das histórias em quadrinhos, personagem de H.G. WELLS o mesmo autor de “A máquina do tempo” obras que permanecem fazendo sucesso para quem gosta de ficção. Tempos depois vieram as versões para o cinema. Certo é que enquanto somos crianças queremos ser invisíveis para as nossas molecagens inocentes. Quando adultos, queremos ser invisíveis em certos momentos vexatórios e não sermos vistos por ninguém.

Mas a invisibilidade é algo que sempre ocorreu e está ampliando o seu espectro à medida que transformações sociais provocam injustiças e estabelecem valores duvidosos. Temos notícias sobre pessoas modestas em seus afazeres que não são vistas, portanto não recebem cumprimentos e só são percebidas eventualmente quando alguém delas necessita. Os porteiros, os zeladores, os pobres em geral. Em relação a estes últimos, ninguém é mais cego do que o estado, pois indiferente a uma ação continuada de justiça social, só os percebe em momentos cruciais em razão de turbulências.

Há um grupo social cujas fileiras aumentam a cada dia o número de invisíveis, são os idosos. Esquecidos das conversas, dos encontros e do convívio tornaram- se um peso morto para a sociedade, pois, ainda que haja alguma atividade para valoriza-los, o que é muito pouco, em verdade, não têm o direito de falar, pois sempre são interrompidos pela fala dos que acham que são mais importantes e não chegam a concluir as suas manifestações e ficam desestimulados a participarem da vida com mais tônus vital.

Vez por outra, vejo no facebook mensagens de netos, fotografias com os avós, mas tudo não passa de uma fantasia para dar satisfação à sociedade, quando em verdade não os visitam e nem sequer fazem uma ligação. Postam apenas para garantir a sua dose diária de felicidade facebookiana.

São muitos os invisíveis, ignorados e sem receber qualquer tipo de motivação que pudesse premiar   a sua existência, na maioria das vezes tão sofrida. A verdade é que muitas crianças que tinham no imaginário o inocente desejo de ser invisível terminam sendo invisíveis quando envelhecem. 290917

 


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