Jeremias Macário: Intervenção cheira com Ditadura

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | Jornalista | [email protected]

Precisamos de uma reforma estrutural e competente no policiamento e não de estrategistas de guerra. Talvez tenha sido a voz mais sensata para retratar o caos a que se chegou a segurança no Rio de Janeiro, resultante dos desmandos, dos desvios de recursos públicos, das trapalhadas e da incompetência da turma que governou e mandou no estado nos últimos anos. Leia a íntegra.

  Bateram cabeça todo tempo, anunciaram planos de integração que não existiam e, por último, abandonaram literalmente a capital fluminense, tanto o governador corrupto como o prefeito pastor. Não foram capazes de controlar a situação de violência e, como ficaram desmoralizados, apelaram para o artigo 34 da Constituição que justifica intervenção das forças armadas por quebra de ordem, o que cheira a ditadura e quebra da lei.

  Os verdadeiros culpados por todo este quadro de desordens, bandidagens e de quadrilhas organizadas sitiando ruas, praias, avenidas e bairros da cidade maravilhosa, que se tornou bárbara e feia por dentro, vão continuar impunes e donos dos seus “postos” como “salvadores da pátria”.

   Começaram tontos com as GLOs (Garantias das Leis e da Ordem) que não solucionaram o problema, e agora o mordomo de Drácula e seu bando de vampiros recorrerm às tropas intervencionistas de guerra. O que deveria ter sido feito antes, não foi feito. No sufoco de morte, a maioria aplaude e poucos contestam.

   Nesta hora de tormento e desespero, a sociedade apoia, tornando a intervenção numa medida consentida pela grande maioria civil, inclusive pela maior mídia do país que já foi baluarte e colaboradora da ditadura de 1964. Poucos sabem que o artigo da Constituição de 1988 que fala de possível intervenção militar foi posto lá na Carta por pressão dos generais linha dura da época.

  Esta ordem através das forças que têm a função de combater inimigos externos pode gerar também quebra da lei, com arbitrariedades, opressão, prisões ilegais e até num regime de exceção. Alguém ai deve estar achando que é exagero demais da minha parte, mas a história do Brasil, por falta de conhecimento dela, costuma se repetir.

  Por se tratar de imediatismo, a intervenção, no momento, pode conter a violência, mas não se acabar de vez, porque ela virou, há muito tempo, um monstro, criado pelos próprios governantes que se desviaram de suas missões de dar educação, saúde, habitação, saneamento, emprego e assistência social digna para a população.

  Tudo isto ai que estamos presenciando é consequência da falta de políticas públicas e das injustiças sociais praticadas ao longo dos anos. No lugar disso só fizeram roubar, aprontar corrupções, desprezar e fazer pouco do clamor do povo. Preferiram se fartar em seus banquetes com guardanapos nas cabeças. Estes que faliram o estado e o país também fazem parte da bandidagem e da violência. São bandidos falantes de discursos mentirosos.

   Não é agora com a força bruta, com tanques, fuzis, metralhadoras e estratégias de guerra que vão criar ordem e paz duradoura. Pode até conter e controlar a violência por uns tempos, mas sem a moralização da política, a presença do estado nas comunidades, justiça e igualdade social com distribuição de renda, ela voltará mais tarde com mais força e brutalidade.


2 Respostas para “Jeremias Macário: Intervenção cheira com Ditadura”

  1. Renato

    Ótimo texto!!

  2. Clerisson

    Sábias palavras Jeremias!

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