O Mundo Grego: seu período de trevas e esplendor

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Jeremias Macário de Oliveira | Jornalista | [email protected]

Até a criação dos Jogos Olímpicos, em 776 a. C., quase nada se sabia sobre o mundo grego de 2000 a 800 a. C., a não ser o que se lia nos poemas de Homero, mas nem tudo constituía história. Diz o historiador Denys Page no livro “O Mundo Grego”, coordenado por Hugh Lloyd-Jones, que entre 2000 e 1900 a.C., a Grécia foi invadida por um povo novo que primeiro falou o grego. Leia a íntegra.

Esses invasores se fundiram com os micênios, resultando num dos mais brilhantes períodos de civilização. No entanto, os micênios, um povo artístico, rico e aventureiro, desapareceram por volta do século XII a.C.. A luz sobre essa gente, uma teia de reinos (Atenas, Pilos, Micenas, Esparta, Tebas) só veio através dos arqueólogos Schliemann e Arthur Evans no século XIX da nossa era com a descoberta das cidades de Troia.

Depois de 1200 a.C., a rica e hábil civilização micênica foi varrida da face da terra. Os grandes palácios foram destruídos, os reis e seus povos mortos ou escravizados. Durante 400 anos a Grécia ficou isolada e entrou em decadência em todos os níveis. Não se sabe ao certo o que destruiu os micênios e deu início a esse longo período de trevas. Só prosperou a poesia épica

Com o dom peculiar da imaginação e da expressão, Homero em “A Ilíada e a Odisseia” encantou o mundo com suas poesias, misturando realidade com ficção. A “Odisseia” narra os dez anos de vagabundagens de Ulisses em seu regresso ao lar, em Ítaca, vindo do sítio de Troia. Na “Ilíada”, um poema histórico com personagens reais, descreve os episódios do sítio.

O historiador Denys, no capítulo sobre “O Mundo Homérico” destaca que a organização micênica pode ter sido a melhor, mas os alicerces da política e filosofia, direito e literatura, matemática e medicina, astronomia e arquitetura modernos encontram-se no período posterior à idade média grega, a partir do século VIII a.C.

Em “O Desenvolvimento da Cidade-Estado”, A. Andrewes fala justamente do nascimento das pequenas cidades (Atenas, Esparta), com seu poder soberano onde a autoridade tinha o título de “rei”, embora fosse um magistrado aristocrata (numerosos estados pequenos) ou hereditário eleito anualmente até fins do século III a.C.

Nos estados gregos, a população se dividia em tribos (regimentos tribais). Em divisões menores, existiam as fratrias, caso dos cidadãos de Atenas, e clãs. As manifestações das religiões (templos da Acrópole, santuários de Delfos e Olímpia) relacionavam-se com os cultos da cidade. No direito, os reis e nobres detinham o conhecimento e usavam a sanção divina em seus julgamentos, muitas vezes em favor deles, conforme se queixava Hesíodo.

Em Atenas, o código Drácon era severo, mas logo foi substituído pela legislação de Sólon. Na área do comércio, após a queda dos reinos micênicos, a Grécia tinha pouco contato com o mundo exterior. O processo de colonização só se deu mais no final do século VIII a.C.

A terra era tratada como propriedade individual, e os camponeses obrigados a pagar um sexto do produto que cultivavam, sob pena de escravidão. “O problema agrário era uma causa importante das séries de revoluções que nos séculos VII e VI a.C. derrubaram as aristocracias em muitas cidades gregas”
A dívida era outro problema crucial da época. Pela lei de Sólon, o remédio foi o cancelamento dos débitos e a abolição de toda escravidão provocada por dívidas. Sólon escreveu dizendo que libertou a terra e seu povo da escravidão.

Em Atenas, as classes superiores ocupavam postos mais elevados e as mais baixas tinham apenas o direito de comparecer à assembleia e recorrer aos tribunais de apelação que foram instituídos para rever as decisões judiciais dos magistrados. Sólon não tinha o intuito de instituir a democracia, que só veio tempos depois em pleno século V.

Suas reformas provocaram protestos por parte das camadas superiores com a perda de privilégios (coisa da nossa elite atual), enquanto as inferiores pediam modificações mais radicais, preferindo a revolta (as nossas preferem se calar). Com as rivalidades entre facções das classes superiores, abriu-se caminho para uma tirania de Pisístrato.

Esparta procurou desenvolver seu próprio sistema através da aristocracia militar, dotado de maior rigor na prática da virtude. O modelo arcaico e conservador de oligarquia foi visto pelo mundo grego como algo estranho e singular. O pequeno conselho vitalício de anciãos era diferente do dos outros estados mais modernos, mas o sistema tinha uma característica de que só a assembleia podia examinar questões sobre as quais o conselho já havia deliberado.

Do lado espartano, o maior legislador foi Licurgo. O exército, melhor treinado e mais eficiente, era o mais poderoso e temido por todos os reinos. Sua predominância no Peloponeso rendeu uma aliança geral, sob a liderança espartana. Os estados ameaçados, inclusive pelos persas, sempre recorriam a Esparta.

Mas, na primeira investida dos persas, em 490 a.C., os atenienses repeliram o ataque em Maratona, antes do auxílio espartano. Obteve vitória em 483. Com isso, a conselho de Temístocles, ampliaram sua marinha, lançando as bases de uma futura grandeza. Quando o exército de Xerxes invadiu a Grécia, em 480, os atenienses ficaram do lado de Esparta que conseguiu a vitória final.

Formaram-se várias ligas na região do Peloponeso, destacando a dos etólios e do corinto. As duas, com a série de reis da Macedônia, dominaram o cenário grego durante um século, antes da conquista romana final, em 146 a.C.

Nunca houve na antiguidade uma unidade política denominada Hélade, os helenos, como os gregos usavam essa expressão livremente e tinham consciência da diferença que havia entre eles e outros povos.

Na Grécia, os deuses tinham muitos aspectos. A grande família olímpica de Zeus, como Homero tratava, são pessoas com paixões humanas, mas distintas da humanidade pela sua imortalidade e poder. Eram os grandes poderes da natureza. Zeus no céu, Poseidon no mar e Ártemis da caça, isto desde períodos anteriores à chegada dos gregos.

Assim foram vistos para a maioria dos poetas e artistas e para o homem comum, apesar de alguns protestos de Xenófanes e Platão. Outros deuses eram patronos de várias atividades humanas, como Atena e Hefesto das artes e ofícios da civilização.

Nas grandes reuniões nacionais, de quatro em quatro anos, os gregos honravam o Zeus, patrono do festival com jogos atléticos e musicais, fundado em 776 a.C., que no período clássico transformou em pan-helênico. Nessa época, aconteciam as tréguas sagradas com interrupção das guerras.

Na política, os gregos observavam como os grandes Estados foram governados, por longos anos por um tirano, e acreditavam que suas instituições proporcionavam uma vida melhor através do direito. Os grandes Estados eram monarquias absolutas, e os bárbaros deviam ser escravos. Nisso, Aristóteles distinguia três tipos de constituição.

O governo do rei justo respeita a lei porque é justo, mas a tirania é a monarquia sem lei. A aristocracia é o governo de uns poucos virtuosos, mas a oligarquia é a deformação disso, corrompida pelo poder do dinheiro (nosso Brasil de hoje). Muitos governam segundo a lei, mas, em sua contrapartida, degenerada porque o povo levou a liberdade em excesso.


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