Jorge Maia: A vida na cidade

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Eu era menino, e não faz muito tempo, e me lembro de uma novela transmitida pela antiga Rede Tupi. Era o início da década de setenta do século vinte. Confesso que assisti a alguns capítulos. Sei que há uma versão mexicana com o mesmo título, mas desconheço o seu conteúdo. A nossa versão, brasileira, cuida da história de alguém que muda para uma cidade grande e enfrenta todas as dificuldades que as cidades apresentam. Os personagens são sempre surpreendidos pelos problemas comuns, como se a cidade fosse planejada para atormentar a vida das pessoas. >>>>>

Naquela época, e ainda hoje suponho, cada personagem era acompanhado por um fundo musical anunciando a sua presença na cena. A trilha sonora era preparada de modo a servir de mote para a venda dos discos, LPs, ou compactos. Hoje, CDs, ou MP³ e amanhã não sei o quê.

O tema de Maria é de autoria de Paulinho da Viola. É triste e grudou em minha cabeça como chiclete. Nunca o esqueci: “Na cidade é a vida/Cheia de surpresa/É a ida e a vinda/Maria, Maria/Teu filho está sorrindo/Faz dele a tua ida/Teu consolo e teu destino/Maria”.

O restante da canção fala do sofrimento que a cidade causa às pessoas e orienta Maria a cuidar do seu filho e fazer dele o seu objetivo. O tema examina de forma singela a sociologia das cidades, as quais foram e são construídas para abrigar os seres humanos, oferecendo segurança e amparo, mas desvirtuam-se e provocam o sofrimento, quando deveria evita-lo. É verdade que o folhetim era melodramático, afinal era um folhetim.

A cada ano, em todo o mundo, é o que dizem as publicações, reduz-se a população moradora do campo, enquanto aumenta a população nas cidades. A urbanização do mundo tem sido um desafio para todos os governos. Porque poucos foram os que compreenderam as transformações e investiram nas mudanças necessárias ao acolhimento dos migrantes e  imigrantes.

Por sua diversidade, as cidades exigem administrações voltadas para a totalidade dos interesses da população. Porém, não pode perder de vistas as particularidades das diferentes manifestações culturais e sociológicas com o fim de preservar a multiplicidade de interesses que representam as riquezas históricas e direcionam o crescimento das relações culturais, econômicas e políticas de cidade.

Aristóteles entendia que uma cidade não deveria possuir mais de cinco mil habitantes, certamente por imaginar as dificuldades administrativas que isso poderia significar e seria mais fácil cuidar melhor de uma população diminuta. Penso que ele desejava que a cidade fosse um lugar de bem estar.

O tempo é outro, o espaço também. Não é possível limitar uma cidade com aquele número de habitantes. O planejamento de uma cidade no mundo atual exige mais do que tino administrativo. Exige a colaboração de vários profissionais, em especial daqueles que comumente não fazem parte das equipes administrativas, a exemplo de: Geógrafos, Arquitetos e Sociólogos os quais podem orientar sobre as ocorrências do crescimento, deslocamento de grupos populacionais, embelezamento e conforto nas cidades e novas formas de convivências.

No passado, as cidades fizeram surgir novos direitos. No presente, o direito continua marcante como fonte de organização, mas não é suficiente para resolver as dificuldades, é preciso a presença das demais ciências de modo a permitir as transformações positivas e que o sofrimento nas cidades sejam apenas versos nas canções e poesias dos nossos artistas. VC190818


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