Brasil: esquizofrenias republicanas

Foto: BLOG DO ANDERSON

Dirlêi Andrade Bonfim | Contador e Professor | [email protected]

Como sabemos Platão, não elaborou apenas teorias sobre a moral e a ética humana, mas também sobre as diversas relações entre os membros de uma sociedade. De fato, sua filosofia genuína começa quando escreve o diálogo “Apologia de Sócrates”. Nele, torna-se público o discurso que Sócrates usou no dia do seu julgamento, quando teve que beber a famosa taça de cicuta – na época, esta era a forma de punir os condenados em Atenas. O que estamos a viver nesse momento tão delicado e ao mesmo tempo nebuloso na história política partidária do Brasil, é algo, crítico e estarrecedor do ponto de vista da moral e da ética, voltada para a política. Pois, todos os dias ao lê os jornais, mais estupefatos ficamos com tamanha astúcia dos criminosos com a coisa pública. Assim, entre uma crise e outra, entre um crime e outro, vamos tentando descobri no labirinto das ações governamentais, a esquizofrenia republicana que tomou conta de um país chamado Brasil. Leia a íntegra.

Segundo Tomasi (1958), “ Tudo tem que se transformar, para continuar como está…”, isso me parece muito peculiar por aqui, numa “República”, na América do Sul, onde regularmente vários magistrados se referem aos partidos políticos como “verdadeiras organizações criminosas”.

Nada de novo há, que não seja pensado e repensado para prejudicar a sociedade brasileira, mas, com um ar e, até mesmo um certo requinte de algo novo está sendo feito para salvar a pátria. E repete Tomasi (1961), “… a não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à república. Para que as coisas permaneçam, é preciso que tudo mude, mas continue da mesma forma…” Parece-me um retrato da nossa república atual, ou será que sempre fomos assim mesmo, apenas agora temos um pouco mais de compreensão sobre o que está a acontecer…?

A decepcionante “reforma política”, como outras tantas uma temeridade (uma tragédia anunciada: os políticos profissionais sabem, como ninguém, preservar seus interesses) prova mais uma vez o quanto que o Brasil é governado pelas bandas podres das suas instituições políticas e econômicas, que são reconhecidamente extrativistas (sugam tudo em benefício próprio, sem pensar no País). Enquanto lideranças podres comandarem o Estado, o brasileiro (normalmente um alienado político: seja porque odeia a política, seja porque não tem consciência crítica) está fadado a viver na miséria, no desemprego, na marginalização do mundo tecnológico, nos hábitos e costumes primitivos. Historicamente, todos os países (selvagemente) extrativistas estão condenados ao fracasso absoluto (é só uma questão de tempo e de agravamento das suas complexidades, que se incrementam diariamente e em grande velocidade quando muito populoso).

A sociedade moderna corrompeu o pensamento platônico, pois os menos aptos estão governando. Os filósofos foram esquecidos, os cavernícolas estão por todos os cantos e são guiados pelas sombras. Tolos guiando cegos, já dizia William Shakespeare. O caos foi instaurado e muito breve o sistema desmoronará, como em épocas passadas, pois a história é cíclica e tudo acaba onde começou.

O sistema é podre, Platão estava certo ao falar do seu regime de castas, cada ser tem suas aptidões, portanto o cidadão teria o seu lugar na sociedade conforme tais aptidões. Em nosso país existe um sistema oculto, para que poucos vejam como funciona, podem acreditar, o poder a séculos está nas mãos de umas poucas famílias, caracterizando o sistema da plutocracia.

Ao longo do tempo somente prosperam as nações com instituições políticas e econômicas sólidas, inclusivas, razoavelmente confiáveis.
As sociedades com instituições perversas regimes Plutocratas, (estado, democracia, mercado, justiça e sociedade civil não inclusivas) são individualistas a serviços não da sociedade, mas de grupos de interesses, (tudo é feito pensando unicamente em cada um, em cada grupo, não no todo; nada se faz concretamente para uma melhor distribuição da renda, a educação e saúde de qualidade para todos, por exemplo). Não há uma preocupação com o bem estar da sociedade.

Não há estímulo em favor do progresso social. As pessoas, nas sociedades com instituições econômicas plutocratas, não são incentivadas a pouparem, investirem e inovarem. Os Estados, com essas instituições, se dobram frequentemente ao mito do governo grátis (aquele que promete vantagens e ganhos para todos, sem custos para ninguém). Com juros em patamares absurdos, o parasitismo rentista passa a ser a regra geral do mercado.

É assombroso, a forma como os “representantes” da sociedade, costumam agir, o país assistindo perplexo as decisões desses senhores, a forma antiética como as coisas são resolvidas nos parlamentos, depois das atitudes dúbias perpetradas mais uma vez, diante da conduta covarde dos ministros do STF, deixando as quadrilhas livres para agir ao seu bel prazer. É assustador, o que está diante da sociedade, as ações corporativas, nesse sistema político viciado, corrompido do chamado “presidencialismo de coalizão”, é o jogo do vale-tudo, do balcão de negócio, do toma lá, dá cá, do farinha pouca, meu pirão primeiro, sem falar, no processo de cooptação de todos os lados, é algo que deixa qualquer cidadão que tenha o mínimo de discernimento, atenção e bem senso, estarrecido, mais que isso, assombrado, enjoado, com ânsia de vômito, o quadro que temos a nosso frente…

Se o mercado é a força econômica que deve controlar o poder político, é natural que seus defensores estejam eticamente alinhados com o modo com que esse controle se dá: o lobby. A atuação do lobismo parece ultrajante e imoral somente aos olhos de quem não reconhece que o domínio do poder econômico sobre o poder político é, e precisa ser, um dos principais mecanismos de atuação política do “indivíduo” dentro do capitalismo plutocrático. Pois, se “o mercado garante liberdade econômica” (Friedman, 1962, p. 21), por extensão, seu domínio do poder político também garantiria liberdade política.

Essa imoralidade é, em essência, gêmea da própria normalidade da plutocracia liberal. No entanto, mesmo Friedman ameaça reconhecer o problema que isso pode gerar: “se o poder econômico é somado ao poder político, a concentração [de poder] se torna praticamente inevitável.

Segundo (Eizirik, 2012), esta captura do Estado, suas instituições de controle, já é bem conhecida: “com o tempo, os interesses do mercado, mais organizado que o público, sempre vencem. O regulado acaba dominando o seu órgão regulador”.

Mais recentemente, a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do fundo partidário, o financiamento público para partidos políticos, prova que as instituições políticas possuem a mesma natureza extrativa das bandas podres das instituições econômicas.

Nesse contexto autodizimador (extrativista), todas as mudanças são feitas para manter os que se beneficiam da extração. Esse cenário é idêntico ao descrito no livro O leopardo, do escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1958).

Nossa realidade vergonhosamente extrativista só prenuncia mais corrupção, mais violência e mais miséria. Os Estados, com essas instituições, se dobram frequentemente ao mito do governo grátis (aquele que promete vantagens e ganhos para todos, sem custos para ninguém). Com juros em patamares absurdos, o parasitismo rentista passa a ser a regra.

Caminhamos para uma situação de absoluta desesperança (que começa com a total falta de confiança nas instituições). Essa historinha de que, o país está bem, pois, apesar de toda a malversação do erário público de todo o processo de corrupção, em todos os estados da federação e nos mais de 5.568 municípios desse país, porque é fato, a corrupção está impregnada em todos, e, que as instituições estão funcionando, isso é balela, as instituições no Brasil, estão igual uma torre de babel, cada uma fala uma língua, ninguém se entende e no fundo, no fundo ficam todas batendo cabeças procurando uma saída… Enquanto isso, as quadrilhas organizadas, tomam de assalto o estado brasileiro.

Assim nesse cenário caótico, mesclado com ira e a indignação da população. Um estado de apatia da sociedade e uma total desilusão das pessoas que se avoluma num grande fosso social.

Tudo sugere mudanças radicais em favor de uma vida coletiva civilizada, mas não é esse o caminho escolhido pelas sociedades e instituições extrativistas(plutocratas), que vão sucumbindo aos métodos mafiosos idênticos àqueles nascidos na Sicilia.

Quando a Justiça e o Estado de Direito se esvanecem, nos descarrilhamos naturalmente para a lei da selva, ou seja, a lei do mais forte, que conduz a nação não para a força do Direito, sim, para o direito da força, da violência, da corrupção, do engodo, do medo e da omertà (silêncio). É impressionante a atualidade da famosa frase do príncipe de Falconeri (no livro O leopardo, 1958), que dizia “tudo deve mudar para que tudo fique como está”.

**contribuição/realizada pelo Prof. DsC. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Sustentabilidade/Rede/PRODEMA/UESC, cursos de Administração, Arquitetura, Ciências Contábeis e Engenharias da FAINOR/.2017.2**


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