Jeremias Macário | duas faces da mesma moeda

Foto: BLOG DO ANDERSON

É bom que fique bem claro que não estou aqui me colocando em posição contrária ao julgamento dos réus que tramaram um Golpe de Estado contra a democracia no final do governo do ex-capitão Jair Bolsonaro, o “Bozó”, culminando com o atentado aos Três Poderes em 8 de janeiro. No entanto, quando falo de duas faces da mesma moeda, isso me faz lembrar do julgamento parecido do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão da anistia geral e irrestrita decretada em 1979, que incluía os torturadores da ditadura civil-militar de 1964. Confira o artigo na íntegra.

Os ministros do colegiado decidiram não punir os criminosos que torturaram, mataram e fizeram desaparecer centenas de presos políticos que se opunham ao regime. O tratamento deveria ser o mesmo, mas os mentores nem foram a júri.

Como há mais de 50 anos, as provas agora são bem claras, e o plano só não deu certo porque não teve a adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, bem como de outros oficiais que rechaçaram a ideia maldita. Eles se recusaram a entrar nessa barca furada dos trapalhões.

Se houvesse a adesão total das Forças Armadas, quem iria governar o país com mão de ferro seria uma junta militar, e não Bolsonaro, como muitos seguidores, que foram às ruas pedir intervenção militar, imaginavam. Como diz o ditado popular, iam “cair do cavalo”. Eles apenas estavam sendo usados como bucha de canhão, ou como inocentes úteis.

O esquema era tão “doido e maluco” que visava matar o presidente eleito da República, seu vice e o ministro do STF, Alexandre de Moraes. No meio, uns generais de pijama como maiores incitadores para derrubar a democracia e implantar um regime de opressão.

Em toda trama ditatorial existem fatos parecidos e objetivos similares, só que a ditadura de 1964 já vinha sendo urdida e esquematizada desde o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954. As cabeças eram mais pensantes e houve várias tentativas pelo caminho, incluindo a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a posse do vice João Goulart.

Naquela época da Guerra Fria entre Estados Unidos e Rússia, o maior inimigo era o comunismo, que dividia parte dos países com o capitalismo. Havia até a adesão do governo norte-americano, que não queria ver outra Cuba na América Latina. A situação geopolítica era diferente.

Em 1964, no início do movimento, também não houve adesão de todos os generais, mas o vacilo de Jango fez o jogo mudar, e a Igreja Católica, junto com a classe média conservadora, empurrou mais ainda nosso país para o abismo.

Dessa vez, os extremistas de direita e os evangélicos tentaram também colocar o comunismo como inimigo, mas não emplacou, sem contar a reação contrária das comunidades internacionais, inclusive do governo dos Estados Unidos, não do atual.

Quanto a este julgamento, pelas evidências de documentos, das ações e falas em reuniões e praças públicas, das declarações do delator Mauro Cid, dos acampamentos diante dos quartéis, dentre outras tramas, existem provas contundentes que poderão criminalizar e até punir os réus com cadeia, mas não por muito tempo.

O julgamento em si já é uma resposta e serve como exemplo para que outros não tentem mais à frente armar um Golpe de Estado contra a democracia. Pelo menos já é um fato inédito na história do Brasil ter no banco dos réus um ex-presidente que tentou dar um golpe num governo eleito pelo povo.

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