
O tempo é o mesmo, os ponteiros do relógio giram no mesmo compasso, a terra mantém sua rotação na mesma velocidade, mas temos a impressão que tudo hoje passa mais rápido em função da tecnologia e da vida corrida, ao ponto de muitos fatos caírem depressa no esquecimento. Vejamos, como exemplo, o caso da revitalização do centro da cidade, que não é nenhuma novidade. Essa iniciativa foi levantada há anos em Vitória da Conquista em governos passados, talvez há mais de 20 anos. A ideia era tornar o comércio num shopping center a céu aberto. Alguém aí lembra disso, inclusive a mídia? De lá para cá fizeram alguns arremedos, construíram alguns calçadões e deram um mel de coruja na Praça Nove de Novembro. O projeto incluía a preservação do patrimônio público arquitetônico, fechar algumas transversais e transformar essa área urbana num ponto mais agradável e mais humano, sem muitos carros transitando no Centro.
Agora, a Câmara de Vereadores, o que é louvável, realizou uma audiência pública com o propósito de revitalizar o centro da cidade, o que não é novo, mas torcemos que dessa vez seja para valer e o poder executivo abrace essa investida do legislativo.
Entendo, no entanto, que essa revitalização seja extensiva à cultura, caso contrário haverá um grande vácuo. Será que nessa revitalização está inclusa a abertura dos equipamentos culturais do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha que se encontram fechados há anos, ou a intenção é somente beneficiar o comércio?
Por falar em revitalização, a arte e a cultura estão necessitando urgentemente de um plano dessa natureza. Os artistas de Conquista, aqui abrangendo todas as linguagens, devem ser peças chaves nesses debates, mesmo porque neste centro estão localizados três importantes equipamentos culturais fechados que deveriam estar abertos para realização de ensaios e espetáculos.
Um centro da cidade não deve ser feito apenas de comércio apinhados de lojas para atender consumidores. Deve ser também um centro de efervescência cultural, com locais próprios para apresentação de shows musicais, peças teatrais, dança, artes plásticas, literatura, declamação de poemas e outras expressões artísticas.
A Praça Nove de Novembro, por exemplo, só é utilizada para shows nos períodos de São João e Natal quando deveria ter uma programação mais extensa durante todo ano porque o povo também é carente de cultura e consome se forem oferecidas as oportunidades.
Infelizmente ainda tem gente com a mentalidade atrasada de que cultura não dá lucro e nem voto. Quem pensa assim tem uma visão limitada de ser humano. Falei da Nove de Novembro, mas existe ao lado a Barão do Rio Branco com aquele amontoado de carros, onde ali deveria ser mais um ponto de lazer, cultura e entretenimento.
Ao invés disso, cometeram o crime de derrubar o antigo prédio da Rádio Clube. Estão destruindo os últimos casarões restantes, como uma casa na Praça Tancredo Neves. No local criaram um estacionamento para veículos. Aliás, Conquista não tem um centro histórico como a maioria das cidades do mundo.
Se vamos revitalizar o centro da cidade, vamos também aproveitar para revitalizar a nossa cultura. As reivindicações foram feitas, inclusive num documento com cerca de quatro mil assinaturas. Como resposta tivemos o silêncio através do engavetamento das propostas. Os artistas querem ser ouvidos e atendidos. A Câmara deve se atentar para isso.