
Marco Antônio Jardim
Oscilações positivas no universo. Pela primeira vez, estou em meio e acima das nuvens. Observo e anoto, da janela do avião, para loucos que são felizes. Que escutem os desordenados, amotinados, criadores de caso. Os de corpo leve, harmônico e sensível. Corpos redondos em espaços quadrados. Mas, para mim, só leveza nesse espaço aéreo, e torpor na aterrissagem dos pensamentos. Nuvens, para mim. Agora mesmo, escrevo, etéreo, sobre elas. Montanhas de neve flutuantes que nunca antes vi. Mar de espumas em reflexo ao céu. Matizes de branco num convite ao mergulho das ideias todas. Um mar tão sem tempo ordenado que parece estacionado. Tão imenso e alvo que meus olhos fecham e marejam sob azul. Aqui estou eu no céu. Neste tempo, perdoem-me os céticos, a ordem é Deus. Não preciso findar para ver Deus. Confesso que pareço bobo, como todas as crianças que ainda sabem ser. Ainda que definam tempo determinado, melhor é o som e o silêncio que passam por mim. Deixo, no ar rarefeito, minha caligrafia em rimas simples e versos soltos. Como um haikai de beleza contida que, do céu, olha todo o mundo, mas, no fundo, está só. Soltos estão meus braços, pernas, tronco e cabeça. Respiro.