A saga dos retirantes tão bem e intensamente cantada na obra elomariana de Elomar Figueira Mello é um dos eixos do romance Gabriela, Cravo e Canela (1958), de Jorge Amado. A novela retrata a vida de Gabriela, simples moça do sertão baiano que fora para Ilhéus para fugir da seca nordestina. A história se passa em 1925, quando uma seca devastadora obriga as populações famintas do Nordeste a emigrar em busca da sobrevivência. Na novela, o destino é Ilhéus, no sul da Bahia, região em expansão graças ao plantio e comércio do cacau.
Sob o comando do diretor Mauro Mendonça Filho, a nova leitura da obra promete ser fiel a 80% das linhas de Jorge Amado e mantém praticamente toda a trilha sonora da primeira exibição da novela, 10 das 12 composições da Trilha Sonora da primeira versão, em 1975, estão de volta, dentre elas, “Retirada”, de e com Elomar. No capítulo de estréia, muitos que não sabiam da participação de Elomar na trilha de Gabriela se surpreenderam com a voz grave do barítono e compositor que parece ter se inserido de forma harmônica nas paisagens emolduradas pela aridez do “deSertão” configurado na tela da Rede Globo. Não foi a toa que o crítico e jornalista mineiro João Paulo Cunha, se pronunciou sobre o timbre do compositor: “Elomar tem um travo amargo na voz”.
(Rossane Nascimento)