Ponto pro professor

Por Paulo Ludovico

Pensar é privilégio de poucas pessoas. Pensar rápido nem se fala, aí, meu senhor, já é virtude de pouquíssimos. Mesmo assim, quem rebuscar na memória há de se lembrar que já deve ter conhecido um sujeito desses, bom e rápido de raciocínio. E eu conheci um assim, Gilvan Quadros, filho de Raimundo Quadros (até já contei um história dele aqui) . Gilvan, hoje, é dono de loja de informática, em shoppings, em Salvador. Bom jogador de xadrez (só podia ser), foi ele quem ensinou o movimento do pião, do bispo, da dama, da torre e do cavalo, tudo no tabuleiro, é claro, ao professor  Armínio Santos. Principiando nossa história, tudo aconteceu lá pelos idos de 1970. Gilvan devia estar, naquela época, com 15 anos (ou menos). Fazíamos parte de uma turma onde estudavam pessoas que vez por outra nos vêm à lembrança. Maria Perpétua, que trabalhou no Baneb, Mauro Muñoz, médico oftalmologista aqui em Conquista, Fernando e Crésio, filhos de Dr. Fernando Dantas Alves, Mauro, que já foi dono de revenda da Coca Cola, ali na Praça Vitor Brito, Pedro Moraes Neto, o Pedrinho, Jadel Cajazeira, irmão de Lúcia Cajazeira, do Juvêncio Terra e tantos outros. Ah!, não poderia esquecer de Maria das Graças Duarte, a Gracinha Duarte, naquela época, aluna cobiçada por todos os colegas. Perguntem ao Pedrinho, a Mauro (qualquer um dos dois), certamente eles, como os demais, devem se lembrar dela (por onde andará?). Mas voltemos ao motivo da nossa prosa.

Estudávamos todos na Escola São Tarcísio, depois Instituto, mas era Escola São Tarcísio, naqueles idos tempos. Eram nossas professoras, Edna, Edméia e Ednalva, as irmãs, que, com tanta dedicação, fizeram crescer aquela querida escola. As três foram muito importantes em minha vida. Quem fez parte daquele tempo, lembra-se, também, da professora Juanita Candançã, da professora Alzair, de Matemática de saudosa memória (ela era irmão de Jânio Freitas), os irmãos Bira e Iara Cairo, ele ensinava Ciências, ela (que também deixou o nosso convívio), professora de História. Quem ensinava Inglês pra gente era Ediroald, o competente, mas, temível Ediroald.

Pois muito bem. Num desses dias comuns, quando nada estava previsto pra acontecer, antes de nossa aula de Inglês, dois alunos travam uma cerrada discussão, a poucos centímetros de uma briga corporal mesmo (a chamada: “vias de fato”). Um dos brigões? O velho e bom Gilvan Quadros. Ofensa sai de um lado pra outro com tanta velocidade que nem dá tempo de piscar os olhos. Os dois, Gilvan e seu “oponente”, vermelhos de raiva, quase não pensam no que dizem, “vem” a palavra (ou palavrão), e sai mesmo. Coisas de assustar nos dias de hoje, imagine naquela época. As meninas, Perpétua, Sandra Ferraz (havia me esquecido da Sandra), de há muito já estão escondidas num canto da sala. Além do medo da briga, a vergonha dos xingamentos. No calor das ofensas, você é isso, você é aquilo, aquilo é você, vá tomar não sei onde, filho daquilo e daquilo outro, entra na sala o velho e temido Ediroald. Dois ou três alunos, se muito, é que percebem a chegada do professor (para meu desespero, sou um deles). Ediroald, a ira em pessoa, espera alguns segundos. Uma chance para que a sua temida presença seja notada. Nada! Palavrão atrás de palavrão corta o ar, chega a zunir, juram alguns. Os brigões continuam trocando ofensas. Não se sabe quantos segundos se passaram. Quem viu Ediroaldi entrar na sala pensa que foi uma eternidade.  O professor, aos poucos, muda a fisionomia, ia “enraivecendo” (percebi pela veia do pescoço inchada). Achando que havia chegado a hora de dar um fim naquela desavença toda, Ediruald, em voz pausada e forte, vocifera:

– Atenção! Ponto pra quem disser mais besteira.

Raciocinando velozmente, em cima da bucha e sem ligar para as conseqüências, Gilvan (com uma cara vermelha de raiva) diz, apontando o indicador, diretamente para Ediroald:

– Ponto pro senhor!

Seu moço, silêncio total. Emudecemos todos. Gilvan?… Esse levou uma suspensão. No tempo máximo!


2 Respostas para “Ponto pro professor”

  1. Gilvan

    Enviei um comentário aagradecendo e saudando o querido cronista Paulo Ludovico, e o mesmo não foi publicado. Seria possível fazê-lo?
    Grato.

    Fraternal abraço.
    Gilvan Quadros

  2. Tião

    Obrigado Paulão,

    Depois de um dia “cheio” dei muitas risadas do 1)Ponto pro Professor” e Ele só dança com homem bonito! Muito bom.

    Abração!!!

    Tião

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