Pequenas Notas

Bola pelas costas

Por Paulo Pires

O futebol sempre foi um excelente fornecedor de expressões lingüísticas para o brasileiro entender um pouco do que se passa em nossa política. Dito isso, pode-se dizer que a expressão “bola pelas costas” ajuda ao povão, ou seja, contribui enormemente para que as grandes massas entendam o momento atual de nossa política como um todo. Ajuda também  na compreensão  particular da política nesta cidade de Vitória da Conquista. Política é um cenário disforme, controverso, mutante.  Exige dos seus agentes muita perspicácia, muita acuidade visual senão perde-se a perspectiva do que se passa diante de nossas vistas. Os instantâneos políticos já foram comparados a estrutura das nuvens. Política e nuvens mudam a cada segundo. A gente as olha e estão de um jeito. Um segundo depois ei-las totalmente diferentes. Cabe perguntar: Política é ciência ou ilusão? Ora, se levarmos em conta suas mudanças, diríamos que é mais sugestivo pensá-la como ilusão, algo transitório. Mas há discordâncias. Contrariando a maioria vale lembrar que existem muitos cursos de Ciências Políticas em nossas Universidades. Ciência, claro, também não é algo definitivo, mas pelo menos sustenta hipóteses durante algum tempo. O que hoje é científico pode não ser futuramente. Mas devemos assinalar que a transitoriedade da ciência não é tão acentuada quanto à da política. Muitos postulados científicos sobrevivem séculos. Em política, enunciados ou conceitos são insustentáveis. A maioria deles não resiste a uma hora quando submetidos à realidade dos fatos.

A rigor ninguém há conceitos para esclarecer “um cenário político”. Quem seria tão imprudente? Quem se arvoraria a afirmar – com toda segurança – o que vai ocorrer amanhã no campo da política? Ninguém. Os que se julgam afirmativos nesse campo não passam de presunçosos.

Em Conquista os candidatos se movimentam para receber “apoios”. Convém advertir: Alguns desses apoios deveriam ser avaliados com serenidade. Fulano de tal do partido xis diz que agora vai apoiar tal candidatura. Quando se procura a densidade desse apoio o suposto beneficiário se decepciona. O tal apoiador não tem bala na agulha. Esse apoio é meramente pautado em interesses financeiros ou empregatícios.

  Outros são até piores. Dizem que vão apoiar tal candidato (na presença do dito cujo).  Quando esse dá as costas, o cara diz para bem alto: Vocês acham que sou maluco? Pior é que depois esse mesmo sujeito debanda para o concorrente mais forte e torna-se desse um dos mais exaltados aliados. Esse tipo existe adoidado e é  oportunista de carteirinha. Não vale uma Cibalena, como diria meu amigo Hilário.

Desprezível também são as criaturas que vivem a iludir o pobre candidato. O candidato cego não o percebe e pensa que está com a bola toda. Na realidade está é recebendo bola pelas costas. Quem conhece futebol sabe que a tal bola pelas costas é um dos lances mais indigestos para o atleta digerir psicologicamente. Ela passa por cima, o cara fica bobo embaixo vendo-a passar,  não pode alcançá-la com a cabeça, nem pode segurá-la com as mãos porque cometeria falta e acaba sentindo-se dentro  do jogo como um sujeito  totalmente abobalhado.

Pobre candidato desavisado.  Quando se dá conta vê o adversário  indo em direção ao Gol. Corre atrás dele desengonçado, desesperado, quase arrancando os cabelos, chorando internamente, sentindo o mundo ruir aos pés.  Falta-lhe fôlego, a arquibancada explode à distância e o culpa.  O infortúnio se aproxima.

Aquela bola pelas costas mata qualquer um. Triste daquele que um jogo a recebe. Sentimento de culpa pela falta de percepção da realidade. Confiança demasiada em outras pessoas. Confiança e  despreparo no trato com outros companheiros . Tudo isso vai se resumindo naquela bola pelas costas. 

            Nada pior para uma pessoa do que se sentir abobalhada. Bola pelas costas tem essa coisa desagradável. Faz a gente se sentir traído, ludibriado, enganado, otário. Mas não se engane o candidato: O que mais existe na Política são elas. Prepare-se, examine-se, analise os companheiros (ou falsos companheiros) senão vai acabar levando-a a todo instante. É triste dizer, mas em política existe esse lance em demasia… Bola pelas costas…


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