Academia do Papo

Paulo PIRES

Mini crônica de Maria Fernanda

Paulo Pires

Meu nome é Maria Fernanda. Sou bem pequena; não sei falar nem escrever direito, só tenho um ano e três meses. Quando quero coisas, digo pelos olhos e todos me entendem. Meu avô é Nailton e anda com um treco que ele chama de bengala. Minha vó é Ana e vive o tempo todo na cozinha (ou então cantando música, no final de semana). Tem uns tios que não me deixam sossegada. Minha prima Mariana me ensinou a falar a palavra Xixi. Eu gostei e falei juntiho e baixinho prá ela: Xixi. Ela sorriu e contou para mais gente. Eu choro, choro durante muito tempo.

O pessoal me pergunta e eu não sei dizer porque estou chorando. Mas eu choro e agora descobri que quando faço isso, todos olham para mim. Por causa dessa descoberta, agora é que eu choro mais. Quanto mais eu choro, o povo fica interessado em mim. Choro, choro. Gosto de brincar mas, minha mãe quer me dar comida. Eu não gosto. Só gosto de comer quando ela deixa eu passar o macarrão e o chocolate no nariz. O povo não entende o que é criança. Quando acordo para brincar, minha mãe diz que é madrugada, que ela está cansada, mas eu não estou! Quero brincar e ela quer dormir. Eu choro e ela tem que brincar, senão eu choro mais. Ficho chateada quando o pessoal diz que estou muito grande. Eu não estou. Eu sou ainda muito pequena, nem sei falar direito.

Amanhã, na creche, se aquele menino não deixar eu pegar no sapato dele, vou chorar de novo. Ele também chora. A gente chora muito. O povo grande não entende e pergunta se a gente tá doente. Aí a gente chora mais. Eles ficam tudo doido por causa da gente. Um dia eu vou crescer e ter um sapato bem grandão, igual ao de minha mãe. Fabinho e Mariana amanhã vem a minha casa prá brincar comigo. Eu gosto! Eles são “mais maior que eu”, mas não tanto quanto os outros. Se eles não vierem, eu vou chorar.


Uma Resposta para “Academia do Papo”

  1. GILVANE

    Adorei, eu quase regredi à minha infância ao mesmo tempo foi como se eu tivesse entrado na cabeça da minha filha. Flora Maria é deste mesmo jeito.

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