Dirlêi Bonfim: Donald Trump e o estado de natureza

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Dirlêi Bonfim | Contador e Professor | [email protected]

O atual cenário da política internacional é no mínimo assustador, a forma como se apresentam os discursos das “autoridades globais”, com a suas plataformas de poder hegemônicos anunciando que na terra uma nova tragédia está por acontecer… Quando se fala em pleno século XXI, que as questões e as diferenças tem que ser resolvidas na força bruta, nos remete a uma reflexão sobre o pensamento contratual e o estado de natureza. O contratualismo, compreende-se como as diversas formas e teorias políticas que entre os séculos: XVI e XVIII, discorrem sobre a origem da sociedade, os fundamentos do poder político, estabelecido através de um contrato social, pela boa convivência e civilidade humana. Para onde caminha a humanidade…? Civilidade ou estado de natureza…? Leia a íntegra.

Pensadores como Hobbes, Locke e Rousseau nos apresentam uma potente análise acerca da passagem dos homens do estado de natureza para o de sociedade, desenvolvidas, respectivamente, nas obras Leviatã e o segundo tratado sobre o governo. Tal passagem se deu por meio de um contrato, no qual, em Hobbes, cada homem renunciou a seu direito a todas as coisas; e em Locke, renunciou ao próprio poder natural de julgar e executar. Por meio desse pacto, o poder soberano é constituído, tendo autoridade judicial e obrigação de manter a paz e a justiça entre todos os homens. No estado de natureza os homens são livres e têm o direito natural de autoproteção, isto é, a liberdade de usar seu próprio poder, da forma que quiser para a preservação de sua vida e na destruição do outro. Vê-se, então, que o convívio não é de boa vontade, nem é agradável, mas sim convencional, aceitável e tolerável, em que os homens se abrigam, fugindo daquele estado de guerra generalizada de todos contra todos, evidenciando a necessidade da criação do Estado, a partir de um contrato social. Como os homens têm o direito a todas as coisas, a condição de paz não pode ser alcançada e nada pode ser injusto. “…Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei, vale o estado de natureza, vigora a lei do mais forte”…

Além disso, nessa condição em que vivem os homens, apresentada por Hobbes, não há propriedade, a cada homem só pertence aquilo que ele for capaz de obter, e somente pelo tempo que tiver capacidade de mantê-lo. Rousseau adiciona que essas características apenas fazem sentido para os que estabelecem algum tipo de relação social, logo elas não são uma realidade aos selvagens justamente pela falta de uma relação moral entre eles. Nesse momento a chamada ordem internacional passa por uma série de contra-senso que nos coloca de volta aos primórdios, a sociedade refém do medo e o novo “velho” jargão: “do homem é o lobo do homem”, ou seria  “ do homem é o lobo do lobo homem”… voltamos as origens do romano Plautus (230 – 180 a.C )  frase é traduzida na íntegra  como “ homo homini lúpus ”… o homem, lobo do homem.  No entanto, esta frase ficou mais conhecida através do Leviatã, de Hobbes que foi publicada em (1651). Onde argumenta que a paz civil e união social só podem ser alcançadas quando é estabelecido um contrato social com um poder centralizado que tem autoridade absoluta para proteger a sociedade, criando paz e uma comunidade civilizada. Hobbes defendeu que todos os homens são iguais por natureza e que, num estado de natureza anterior a qualquer governo, cada um, num impulso de autopreservação, deseja não só preservar a liberdade própria, como também adquirir domínio sobre os outros.  Isso nos remete a pensar sobre a atualidade dos versos de Gregório de Matos (1691), sobre a sociedade e a justiça “ … O demo a viver se exponha, por mais que a fama a exalta, E que justiça a resguarda?… Bastarda. É grátis distribuída ?… Vendida. Que tem, que a todos assusta ?… Injusta. Valha-nos Deus, o que custa. O que El-Rei nos dá de graça. Que anda a Justiça na praça … Bastarda, Vendida, Injusta”.

A ONU, foi criada em 1945, para restabelecer as relações de forma civilizada entre os povos, no entanto, nesse limiar de século XXI, ela se transforma em palco para os reacionários de plantão, manifestarem-se as suas plataformas mais ardilosas sobre o que pensam e o que querem para a sociedade humana. É bem verdade que nós, seres humanos, possuímos incríveis qualidades. Porém, como a história de nossa espécie mostra, e o século XX ratifica isso, podemos ser capazes de coisas fantásticas que enobrece a raça. E ao mesmo tempo, realizar atrocidades inimagináveis que se tornaram em algo danoso para a sobrevivência da nossa espécie ao longo do tempo. Como os estoques de artefatos nucleares hoje existentes, daria para extinguir a raça humana algumas dezenas de vezes. Sem falar, que o montante de recursos investidos em armas, alguns (trilhões de dólares)… É válido lembrar que com apenas 5% desse montante daria para acabar com a fome na terra e elevar substancialmente o Índice de desenvolvimento humano em todo o planeta.

O Senhor Trump, na última assembleia da ONU, assim se posicionou “… Se os Estados Unidos precisarem defender a si ou aos seus aliados, nossa única alternativa será a de destruir totalmente a Coreia do Norte”. Essa foi a frase de Donald Trump em seu primeiro discurso no maior encontro “diplomático” do mundo.  Ele chamou os norte-coreanos de “bando de criminosos” que agora querem se armar com bombas nucleares e mísseis e, usando um apelido que ele mesmo deu ao ditador Kim Jong um.  Afinal o que querem esses senhores…? …Estado de natureza é o estado primitivo. A civilização é incompatível com o estado de natureza… 

 

**contribuição do Prof. Dr. Dirlêi A Bonfim, Doutor em Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente/Rede/Prodema/UESC., Cursos: ADM. ARQ//CONTABEIS/ENGENHARIAS ; para as Disciplinas : ÉTICA, TA, TGA, AMPE, Gestão Ambiental(1,2,3, 4.º e 8.º.9.º.10.º.)Sem.Contábeis/Administração/Arquitetura/Eng.Elétrica/Computação/Produção.FAINOR.01.2017.2**


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