Pela vida vale até o extremismo

Ezequiel Sena

A época é de Copa do Mundo. É inevitável que todos só pensem em futebol. Mas fugindo um pouco do esporte, já que a nossa Seleção foi desclassificada, a Rede Record, domingo último de junho, (27),  exibiu uma interessante reportagem, no Domingo Espetacular, sobre o drama vivido pelo engenheiro mecânico Adolfo Celso Guidi que, ao tomar conhecimento de que seu filho Vitor Giovanni Thomaz Guidi, à época com 9 anos, era portador da gangliosidose GN1 tipo 2 – doença degenerativa rara e incurável, manifestada quando o menino tinha ainda quatro anos –; largou tudo, mas tudo mesmo, abrindo mão inclusive da profissão, exercendo a função de gerente de uma empresa de Curitiba, para se dedicar exclusivamente ao tratamento do filho. A determinação do engenheiro na busca incessante de um medicamento capaz de prolongar a vida do garoto é algo comovente.

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Aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir, eu tomo a liberdade de tentar repassar uma síntese dessa admirável história. Em princípio, faz-nos recordar do filme “O Óleo de Lorenzo” (George Miller, 1982), devido à semelhança da enfermidade do Vitor com a do personagem do cinema, bem como os idênticos caminhos escolhidos e percorridos pelos pais de ambos na procura desenfreada pela cura dos filhos. “Nenhum médico no Brasil foi capaz de desvendar a misteriosa doença. Larguei tudo e fiquei uma semana em Buenos Aires com minha família, onde foi diagnosticada a gangliosidose”. Disse o engenheiro. “Quando eu retornei para o Brasil, um médico me disse: não tem mais o que fazer as chances de sobrevivência é por pouco tempo. Quanto? De 6 a 8 meses”, completou.

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Inconformado com o descrédito científico e desesperado com a situação de Vitor, hoje com 21 anos, e mentalidade de dois, Seu Adolfo iniciou o seu calvário estudando por conta própria na biblioteca da faculdade de medicina da UFPR – Universidade Federal do Paraná, tudo que dissesse respeito à moléstia. Foram dias e noites pesquisando, catalogando pequenas soluções, entrando em verdadeira paranóia. “Dizem que sou herói, mas herói é o Vitor, ele luta todos os dias pela vida. Tem dia que brigo, subo pelas paredes e ele sorri para que eu me acalme. Com todo esforço ele me faz um carinho. Que pai não dá a vida pelo filho?”, relata emocionado Seu Adolfo.

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“Em 2001, quando minhas esperanças estavam desfalecendo, depois de ler e pesquisar uma imensidão de livros agarrei-me aos pés de Deus e repentinamente retirei da prateleira um volume e comecei a folhear, foi quando encontrei uma fórmula por meio de um processo homeopático, que funciona como um antídoto de veneno de cobra, a gente fornece essa enzima e o organismo trabalha”, explicou Guidi. Ainda, segundo o engenheiro, com a enzima que é produzida na farmácia de manipulação que é fundamental para o organismo repor as células do cérebro e com a alimentação que prepara para o filho o resultado tem sido muito bom. “Vitor não tem mais dificuldades de engolir devido a não contração da musculatura como antes”, completa. Atualmente, Adolfo Guidi com a fórmula homeopática da enzima, por ele desenvolvida, tem trabalhado no auxílio de outras duas crianças que têm a mesma doença.

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Mas para alcançar esse resultado, o pai disse que gastou todas as suas economias, na época, cerca de R$150 mil reais. Teve que vender o carro e deixar de pagar as prestações da casa. “Tudo saiu do meu bolso, não pude mais pagar nada e meu único patrimônio foi a leilão”, afirmou. O processo na Justiça da Caixa Econômica Federal contra Adolfo Guidi iniciou também em março de 2001. “Para minha redenção, após vários recursos, o caso caiu nas mãos abençoadas da juíza federal Anne Karina Costa, da Vara do Sistema Financeiro de Habitação de Curitiba”, conta o engenheiro.

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Para quem pensa que a justiça é cega, muda e surda, e que banco tem cofre e não coração deve estar redondamente enganado. Após algumas audiências e conhecendo o drama vivido pelo engenheiro, tanto a Justiça como representantes do Agente Financeiro sensibilizaram com o caso reduzindo drasticamente o valor da dívida. E em uma decisão, pelo conhecimento da juíza, inédita no Brasil, o Ministério Público e a Vara Criminal do Paraná autorizaram que o Fundo de Penas Pecuniárias fosse utilizado para a liquidação da dívida de Adolfo Celso Guidi junto a CEF.

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Embora os desdobramentos dessa história tenham contornos extremistas, reflito que ao invés de recriminá-lo, como fizeram alguns internautas, prefiro ver mais o mérito da luta do engenheiro pela determinação que desencadeou em fatos notáveis com desfecho de esperança, e o mais extraordinário disso tudo é que a sua descoberta estacionou a progressão da doença e surpreende até a ciência. E para uma experiência assim nada mais convidativa à nossa reflexão do que esta pérola: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional” (Carlos Drummond de Andrade).


5 Respostas para “Pela vida vale até o extremismo”

  1. Mercia

    Comovida com a reportagem, a minha admiracao por esse pai que lutou e nao se deixou abater pelo diagnostico dos medicos, e sim foi atraz da solucao pra saude do seu filho amado. Mais uma prova que tudo e possivel e que nos temos que lutar pelo que almejamos, nada cai do ceu, mas com perseveranca podemos quebrar muralhas e alcancar aquilo que deseja o nosso coracao. Deus abencoe voce Vitor e ao seu maravilhoso pai tambem.

  2. Newton

    Maravilha. valeu!

  3. Karina

    Vitor,vc é um vencedor.E Deus te deu um super heroi,como pai!
    Que Deus continue os abençoando.

  4. Karina

    Lutar pela vida,vale muito a pena.

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