Será novamente fenômeno?

Por Ezequiel Sena

Depois do estrondoso sucesso com a música-xarope “Florentina, Florentina”, Francisco Everardo Oliveira Silva volta ao cenário midiático, desta vez no horário eleitoral gratuito inventando gracejos e fazendo barulho. As mãos escondendo o rosto: ‘advinha quem tá falando?’ ‘Sou eu, o Tiririca. Sou eu, o abestado!’ Contando ninguém acredita, parece anedota de programa infantil, mas é desse jeito que ele anuncia sua candidatura a deputado federal por São Paulo. “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica”; “2222 ô numerosinho lindo!” – alguns dos seus slogans preferidos –. Insígnias da ousadia e da despolitização absoluta. É possível conhecer melhor os amigos e a família do palhaço no blog oficial da campanha e também outras informações sobre a biografia do candidato, como ele mesmo costuma dizer: ‘tudo bonitinho e colorido’. Contudo, o link para as ‘propostas’ remete de forma proposital a uma página praticamente em branco. Com essas e outras, o sujeito chega a ser fabuloso, mesmo não querendo fazer rir é engraçado.

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Não restam dúvidas que a plataforma política dele seja bem mais extensa, como assegurou em recente entrevista. “De cabeça, assim, não dá pra falar; mas como tem uma equipe trabalhando por trás, a gente tem os projetos que tão sendo elaborados, tá tudo belezinha”, jura Tiririca, com a prosódia característica e a peculiar cara de pau que o levou à fama. Um especialista em humor tipicamente autodepreciativo, capaz de fazer o público rolar de dar risadas da própria miséria e tragédias íntimas. Com as famosas roupas coloridas e boné, o comediante admite desconhecer o que realmente um deputado faz e se intitula o “candidato lindo”.

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Com esse aparato todo na campanha, certamente ocupará uma das 513 cobiçadas cadeiras da Câmara dos Deputados de Brasília, em janeiro próximo. Dias antes, outro conterrâneo seu é quem iria dar o que falar nas eleições de São Paulo, o Ciro Gomes. Chegou até a transferir o domicílio eleitoral e, por algumas semanas, tomou conta do noticiário político; imaginando que a sua candidatura ao Palácio dos Bandeirantes estava sacramentada. Todavia foi ignorado pelos correligionários, ficando numa sinuca de bico, na rua da amargura, só lhe restando emergir no rancor e silêncio apropriado aos traídos.

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Agora, em seu lugar, apareceu o garoto prodígio Tiririca (PR), provocando gargalhadas de uns e arrancando protestos eufóricos de outros. Como aconteceu com o ministro da cultura Juca Ferreira: “Tiririca faz deboche com a democracia”; “a piada chamada Tiririca não tem graça nenhuma”. Com todo o respeito, discordo do ministro, acho que tem sim, já que a descrença com os políticos de carreira no Brasil é indiscutível. O comediante retrata com letras maiúsculas a insatisfação do eleitorado com a gatunagem corporativa que há muito tempo tem desmoralizado o Congresso Nacional, salvo raríssimas exceções.

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Mesmo não caracterizando como uma piada, mas humor é o que não falta na campanha – “Vote no Abestado”. Dessa forma bizarra e infantilizada ele vem conseguindo liderar todas as pesquisas de intenção de votos. O contraponto disso tudo é a sua ingenuidade que mal percebe o quanto vem sendo seduzido pelo partido para compor votos à legenda e, consequentemente, eleger outros aventureiros do inexpressivo PR. Vale dizer, de acordo as estimativas publicadas na internet, a pouco menos de 13 dias das eleições, o palhaço Tiririca vai ter mais votos do que muitos candidatos a governador. “Não acharia uma aberração se Tiririca recebesse 1 milhão de votos”, foi esta a avaliação do presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Sites e blogs comemoram com galhardia o sucesso do novo fenômeno das pesquisas.

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Pra ser sincero, confesso que jamais votaria em um candidato com a esfinge do Tiririca, não porque um voto de protesto com esses atributos faça alguma diferença, ou transforme em algo que aprimore a qualidade política no nosso país. Entretanto, imagino que essa ridicularização explícita poderá pelo menos sinalizar o início de uma assepsia de notáveis proporções nas altas cúpulas do Congresso Nacional.


2 Respostas para “Será novamente fenômeno?”

  1. Renato Senna

    Valeu primo!

    Gostei de como você analisou o garoto palhaço Tiririca, hoje deputado federal, e os abestados que o elegeu.

    Abraços

  2. Cezar Nolasco

    Rapaz vc está melhor que as pesquisas. Em setembro vc sabia que o fenomeno seria Tiririca. Parabens!

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