Academia do Papo

Isaac Nunes Filho – um Poeta na praça

Por Paulo Pires 

 Está na praça – para alegria de todos – um livro intitulado Mochila de Cego. O autor? Bem, o autor?  Um velho [não no sentido da idade] e grande amigo de boa parte da sociedade brasileira cujo nome [privilegiado] é Isaac Nunes Filho. Isso mesmo: Isaac Nunes Filho, tio do outro Isaac (o Neto) também muito conhecido em nossa sociedade e pelos habitantes do sul do nosso Estado.  A ambos Conquista e parte do Brasil devem muito. Eu pessoalmente os admiro e penso que raros discordarão dessa opinião.

 Pois o nosso Isaac, amado e estimado pelos amigos, adorado e admirado por todos, detentor de um charme pessoal que o distingue aonde chega, lançou sem nenhum estardalhaço, pelo menos no plano das inúmeras amizades que cultiva seu livro Mochila de Cego.

 Quando soube de suas investidas no campo da literatura, perguntei-me se encontraria nos escritos qualidade literária justificável para lançamento de um livro com edição (pasmem!) de 10 mil exemplares. Se o leitor amigo ou leitora amiga pensarem na mesma direção tomei concluirão que fiquei e estou surpreso com a obra! O livro [Mochila] é um conjunto de textos, poemas, versos e causos que nos encanta e o tornam absolutamente delicioso. Cativa pela originalidade e surpreende pelo timbre fortíssimo do autor. Sente-se a presença de Isaac em todas as passagens. Mesmo quando o texto não é de sua autoria, como no caso do belo poema escrito pelo famoso conquistense [residente em Salvador] Ernane Gusmão, seu amigo e médico, grande giboieiro, membro de fina linhagem do clã Gusmão.   Essa presença viva [e quem o encontra pessoalmente impressiona-se com sua vivacidade] nos leva a passeios por imensos cenários-territórios.  O poético território da rica vida desse inquieto Poeta. Todas as referências do livro [coisas, causos, fatos, pessoas] são descritos com  uma verve que prende a todos voluntariamente. A presença do Poeta na descrição de cada acontecimento impressiona. Seus poemas, ora em decassílabos, ora em quadrão, sextilhas e octetos, revelam um artista consciente do seu ofício.

   E os sonetos? Seus sonetos (a maioria) tem influência formal italiana. Isso significa Escola de Petrarca, o pai do soneto na terra dos Césares. Quando informo “influência formal” o faço para assinalar que se a obra obedece a formas, sob o ponto de vista estético é absolutamente original no plano da criação. Claro que ele não se propõe como fez João Guimarães Rosa, inventar uma nova literatura. Mas qualquer pessoa medianamente culta chegará a uma bela conclusão: A obra de Isaac é original [autêntica] porque nela se sente imediatamente seu timbre de cantor. Seu jeito de trovador, menestrel e homem de estrada.   Sim. Ele é, ao estilo dos grandes escritores de meado dos anos de 1950 nos Estados Unidos [Jack Kerouak, Allen Ginsberg, Neal Cassady] um estradeiro nato. A vida do poeta [Isaac] é idêntica a do nosso Luiz Gonzaga: “minha vida é andar por este País”…

   Votando à questão da originalidade, como convém a todo bom autor, o poeta é “implacável” em suas observações. A mais radical dos seus puxões de orelha, em relação originalidade, encontra-se no poema Protesto de Poeta (pg. 99): “Quem copia o trabalho dum poeta/e assume dizendo que é seu/é um reles beócio, um fariseu/um moleque ordinário, um vil pateta/Da mentira, do engodo, o estafeta/ignóbil, canalha, ignorante/energúmeno, ladrão horripilante/ a cavar, ignavo, o próprio abismo/é um bruto hospedeiro do cinismo/um sem classe, um boçal, um meliante”.

O tom aparentemente agressivo no trecho do poema tem como propósito advertir os poetas menos criativos para a responsabilidade “do fazer poesia”. Isso mesmo. Não se deve, em nenhuma arte, copiar coisas dos outros para depois, de forma dissimulada, querer crescer dizendo que aquela obra foi criada graças ao seu talento, sua cultura. É neste sentido que o poeta puxa a orelha.

Os seus sonetos são muito bons. Especialmente um dedicado à neta Maria Clara. Sente-se quão profundamente ele mergulhou nas palavras para melhor traduzir o sentimento a uma filha de um dos seus filhos. Fantástico. Outro neto, o Gustavo Pereira, também é homenageado em dois decassílabos, além, claro dos filhos e inúmeros amigos espalhados pelo Brasil inteiro.  

Não poderia deixar de mencionar que o personagem [cego] é o nosso querido amigo-capeta, o endiabrado Bira Bigode. Bira aceitou o convite para fazer o personagem e se saiu muito bem. Quero me encontrar pessoalmente com o Poeta e seus inseparáveis companheiros (Guilherme, Paulo Gonçalves e outros) para cumprimentá-lo pela obra e dizer-lhe que a cultura brasileira, principalmente a nordestina, fica-lhe muito grato pela preservação de um pouco de nossa memória. O poeta Bule Bule fez o prefácio e teceu loas ao autor chamando-o de doutor em Sertão. É isso. Parabéns então ao doutor sertanejo Isaac Nunes Filho e até breve!


Uma Resposta para “Academia do Papo”

  1. MÁRIO CORREIA

    OLÁ!
    PORQUE QUE A FOTO QUE SAI NA REPORTAGEM NÃO É DO PRÓPRIO ISAAC. EU O CONHEÇO. ESTOU DESAPONTADO.
    UM ABRAÇO.
    MÁRIO CORREIA.

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