Pequenas Notas

Ponto para Fernando Henrique

Por Paulo Pires 

Nossa coluna hoje vai para os amigos [e desafetos] que acham que passo todo o tempo falando mal de Fernando Henrique. Mesmo que isso fosse verdade, meus amigos sabem que isso não ia dar em nada. FHC é muito maior que qualquer crítica que mereça e que, portanto, eu possa lhe fazer. O negócio é o seguinte: Diante do furdúncio nos mercados, principalmente mercado financeiro internacional, temos que expor com toda responsabilidade que a informação exige e o dever sagrado de fidelidade a História, uma constatação óbvia: O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e sua equipe econômica acertaram em cheio quando em 03 de novembro de 1995 redigiram e publicaram a Medida Provisória 1.179, para implantar o PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional.

            Para fazer mais justiça ao ex-presidente devemos fazer uma espécie de “mea-culpa” e informar que nossa esquerda radical naqueles idos, de modo juvenil, imprevidente, sem percepção futura da importância da Medida, fez duras críticas ao governo repercutindo sua indignação com um barulho infernal e inoportuno.  Atitude comum e inaceitável de quem se mete em coisas que desconhece.

            O simpático FHC, indiferente aos apelos de nossa esquerda, junto com o Ministro Pedro Malan, subscreveram o Ato. A partir daquela data, o governo brasileiro estava dando passos decisivos para aperfeiçoar nosso Sistema Financeiro, apontando os rumos a serem tomados, transformando-o em um dos mais sólidos em todo o planeta. Quem não estava ou está convencido da importância daquele ato, até hoje fala bobagens, dizendo que o Governo fez aquilo para proteger os banqueiros e que uma medida como aquela jamais seria “tomada para proteger os pobres”.

            Não é justo dizer que FHC não olhou para os pobres. Nos seus governos, por intermédio da esposa e socióloga Rute Cardoso os Programas Sociais de Bolsa Escola e Bolsa Família foram iniciados com o objetivo de proteger as camadas menos favorecidas de nossa população. As restrições que o autor desta coluna faz aos dois governos de FHC não me permitiriam jamais omitir esse tipo de informação e desmerecer a importância das Bolsas.

            Quanto as críticas aos banqueiros, não se espantem, essa história é velha. Em 1934, um dos intelectuais brasileiros mais combativos do Sistema Financeiro Nacional, senhor Gustavo Barroso, publicou um livro a que deu o título de Brasil: Colônia de Banqueiros. Nesta obra o autor já demonstrava a fúria, a volúpia e a influência dos donos do dinheiro sobre o nosso País e traçou esses danos no período de 1824 a 1934. É uma obra interessante.

            Para não ser injusto, diria com tranqüilidade que a sanha do Sistema Financeiro não é coisa exclusiva do nosso País, como pareceu na afirmação contida ao final do parágrafo anterior.

            Em todo o mundo o Sistema Financeiro especulativo é uma praga. As incursões do capital usurento é uma barbárie humana e, portanto, desgraça as sociedades. O Capital produtivo, por seu turno, é necessário, imprescindível e ninguém vive sem ele.   O que hoje há de recursos “girando” no Mercado de Derivativos, prefigura-se como  a melhor representação de um dos Cavalheiros do Apocalipse do Mundo Contemporâneo. Uma hecatombe a ser destacada. Os cidadãos conscientes dos males dessa praga no Planeta – hoje mais de duas mil cidades – estão se movimentando, a partir da matriz do capitalismo. Nos Estados Unidos, começaram o bom combate de encurralar todas as fontes de recursos ilusórios que caracterizam essa maluquice financeira.  Vide o Movimento Occupy Wall Street.

            No nosso caso, ninguém entende como o Brasil, o governo brasileiro, pode aceitar que os banqueiros façam com o País o que vem fazendo. Que Sistema Financeiro é esse que capta recursos a 0,67% e empresta a 10%? Não precisa ser financista para constatar que a diferença entre um e outro gira em torno de 1.392%. Por extenso: Um mil, trezentos e noventa e dois por cento.  Vejam que diferença monumental é cobrada a título de um negócio que eles, os banqueiros chamam de spread. Essa diferença é exigida como justificativa para cobrir todos os riscos que ocorrem nas operações financeiras. A esse spread soma-se uma pequena [?] margem de lucro, coisinha pequena, besteirinha (como se diz na gíria). É algo tão monstruoso que  nem me incomodo mais com ele. Mas se você se sentir ultrajado ou agredido com isso, é melhor esquecer: Não temos como escapar desses “cabôco donos de banco”. A não ser usando apenas recursos próprios. E isso aí é outra história.

            Para concluir: Se os banqueiros brasileiros não tivessem o amparo daquela Medida Provisória 1.179, o Brasil hoje certamente estaria dançando no Cassino da Ciranda Financeira Internacional. E nós, brasileiros, apesar de termos chiado contra ela, estaríamos mais atolados ainda na indigesta salada financeira dos pepinos europeus. É mole ou quer mais? Portanto, ponto para o simpático ex-presidente que pressentiu o desmantelo que viveríamos se não tivesse se antecipado e percebido quanto é danoso a uma nação ter o seu Sistema Financeiro enrolado. É certo que os ministros Malan e Serra e o presidente do Banco Central Gustavo Loyola sofreram o diabo, mas aquele ônus (não existe nada de graça) nos afastou dos perigos de hoje. Até a próxima e que Deus nos proteja.  Amém!


4 Respostas para “Pequenas Notas”

  1. Lidiane Linhares

    Aqui entre nós professor Paulo Pires, vou lhe conversar algo que espero que ajude-o: A política partidária no Brasil tem manchado a história de muitas pessoas de bem. Pesquisas mostram que quase a totalidade, algo próximo aos 99,9999%, de cidadãos com boa reputação se contaminaram quando adentaram ou transitaram nos bastidadoes da política partidária.

    A organização política partidária no Brasil apresentada um formato voltado para práticas que não fazem parte do rol das denominadas coisas do bem, da verdade, do respeito à sociedade. É como as Sagradas Escrituras enfatizam quando nos alerta para a escolha do caminho que devemos andar: o caminho do bem ou o caminho do mal. E ainda as Palavras de Vida, inspiradas por Deus, nos alerta: Se procederes bem, não é certo que serás aceito. Todavia, se procederes mal, o teu desejo será contra ti.

    Assim, peço a Deus que derrame sobre ti uma nova luz e conceda o seu retorno à sensatez de outrora (sabes o que digo). Volte ao teu estado inicial, ao teu primeiro amor (amor pela verdade, pela humildade, pelo respeito às diferenças, pela defesa dos mais pobres e pela expressão daquelas que necessitam de vozes para proclamar o caminho que Cristo propõs). Abandone as questões polêmicas, ao radicalismo que contaminou integrantes da esquerda radical.

    Creio que tu poderás contribuir muito para o bem da comunidade da nossa cidade sem exagerar nos elogios àqueles que hoje estão no poder da política partidária. Imagino que você não precise e nem precisará deles e pode seguir um estilo independente naquilo que escreve. Cautela, caro professor. Muitos deixaram um legado para a sociedade escrevendo com isenção. Não se esqueça que é impossível a união entre a luz e as trevas. Permaneça, pois no caminho da luz. Que a graça do Divino Mestre esteja contigo. Lidiane.

  2. PAULO PIRES

    Carissima Lidiane Linhares

    Li seu recado com a atenção merecida. Vou lhe confessar uma coisa: Minhas expressões de admiração são coerentes com o meu pensamento. Nunca deixo de elogiar coisas ou pessoas boas.

    Não sei se isso é defeito ou virtude. Ao contrário de José Guilherme Merquior, um dos grandes de nossa cultura, tenho e mantenho esse hábito de me comprazer com qualquer coisinha que fazem. Sou um cidadão simples, de hábitos simples, que adora pessoas simples e coisas simples.

    Nao exijo muito dos outros, porque aprendi que uma coisa é criticar e a outra é fazer. As pessoas quando estão à frente de suas funções querem sempre fazer o melhor. Nem sempre isso é possível.

    Veja o caso do Senhor Fernando Henrique Cardoso. O homem fêz de tudo para fazer um grande Governo (não conseguiu), e hoje fica o tempo inteiro explicando porque não realizou a Reforma tal, o Projeto tal. É um horror uma coisa dessas.

    Tenho certeza que ele, FHC, fez de tudo para realizar um Governo melhor. Mas não conseguiu. Um monte de entraves impossibilitaram seus projetos e o homem deixou nosso País com aprovação popular em torno de 40%.

    Na TV Câmara tem um vídeo com um depoimento dele que é incrível. Nesse vídeo ele diz o quanto sofrreu para vencer as turbulêncis da procela política. A coisa é séria, complicada.

    Na época que que o simpático FHC implantou o PROER, por exemplo, houve uma convulsão nacional. O Homem quase foi apedrejado. Eu mesmo, de forma silenciosa, manifestei votos contrários a ação do Governo.

    Por isso escrevi essa coluna, fazendo uma mea-culpa, para dizer que nossa Esquerda, da qual hoje faço parte errou muito na avaliaçao do PROER. O fato é que todos erramos. Ninguém é perfeito e só o senhor bom Deus é que pode nos apontar o melhor caminhho.

    Deus esteja com você, seus familiares e amigos.

    Paulo Pires

  3. Albene Ismar Silveira

    Meu grande amigo Paulinho. Vc é um cavalheiro, uma pessoa em que acredito, uma referência em relação a caráter e integralidade. Bom seria se tivéssemos mais “Paulos Pires” por este Brasilzão! Mas gostaria de colocar algumas coisas em pauta:

    Em princípio, gostaria de saber onde está a “esquerda” e a “direita” neste país? Em que lugar fica o Lula e o Zé Sarney? Ou Dilma e Renam Calheiros? Já me considerei esquerdista, hoje não sei onde está a esquerda ou a direita. Virou um balaio de gatos. Ou seriam ratos?
    Não esqueçamos o quanto a “esquerda radical” fez para brecar qualquer iniciativa do FHC. Esta “esquerda radical” (coloco as aspas, devido aos conchavos políticos com o que há de pior na classe política Brasileira).Lembremos que esta ala era contra tudo, não queria sequer que o Plano Real fosse o sucesso que foi, já que foi o único Plano que nos tirou de uma inflação acachapante. Dentro deste contexto, acredito que o primeiro governo FHC foi a base de tudo de bom que temos por aqui, além do Governo Itamar, onde tudo começou. Não esqueçamos do Fundef, do SUS, etc… O seu 2º mandato veio destruir a imagem que eu tinha dele: A compra de votos para a reeleição foi o suicídio político de FHC. Este erro crasso do FHC, não pode ser justificativa da “venda de caráter” do Governo Lula, com ligações espúrias com a escória política do Brasil. O Brasil perde atualmente 80 bilhões de reais ao ano com a corrupção! O que se está fazendo atualmente contra isto??? A impunidade proporcionada por este Governo me enoja! – Eles rebatem: “A impunidade não veio deste Governo” – Não me interessa, estamos vivendo NESTE Governo! Sou apartidário, independente, e aprendi a não “passar a mão na cabeça” de quem quer que seja, nem dentro da minha própria família, assim fui criado, e tenho orgulho disto. Por isto me revolta ver tantos pilantras no Congresso Nacional e em todas as esferas políticas nos roubando, e simplesmente.. ficando por isto mesmo.

    Precisamos dar uma “chacoalhada” nos políticos Brasileiros, sob pena de retrocedermos a todas as conquistas duramente conseguidas. Precisamos que pessoas como vc, continuem atentas a este tipo de coisa que desencanta os brasileiros: os homens que comandam o País.

    Grande abraço

    Albene

  4. PAULO PIRES

    Carissimo amigo Albene Silveira

    Antes de tudo, meu abraço fraterno a você, um dos conquistenses mais talentososo de toda a História Mongoió.

    Suas considerações como sempre são cristalinas e portanto irrefutáveis quanto a análise isenta, sincera e honesta que caracterizam sua personalidade especialmente quando dirigida a apreciação das questões ideológicas.

    No Brasil e, creia, no resto do mundo, o problema das ideologias tão marcante em décadas passadas, parece ter sucumbido no seio das Sociedades.

    Dizem os especialistas em Política que o responsável por isso foi o senhor Deng Xia Ping, sucessor de Mao Tsé Tung.

    Depois que ele afirmou que para ele, para a China e para os chineses “não importava a cor do gato”, tudo na cena política mundial se transformou.

    A partir daquela célebre manifestaão, um novo conceito em Política se instalou: “Politica de Resultados”.

    A China é o maior exemplo na atualidade sobre a chamada Plítica de Resultado. Eles conseguiram fazer e compor uma combinação de Socalismo com Capitalismo que até agora o Mundo não está entendendo.

    O fato que esse Hibridismo Doutrinário tem levado para a terra de Confúcio uma ALVANCAGEM FINANCEIRA, ECONÔMICA, ADMINISTRATIVA E PATRIMONIAL como nunca eles haviam experimentado.

    As divergências entre Socialismo e Capitalismo ficaram num segundo plano e o que interessa a eles é a expansão econômica interna e externa em sua mais excelsa amplitude.

    Os novos ricos de Xangai, Pequim e outras cidades estão se deliciando com o (in)discreto charme da burguesia (cá prá nós, uma delícia que todos adoram, até os velhos comunistas).

    Diria, para finalizar que o amigo está corretíssimo. Devemos dar uma chacoalhada no Brasil. Aliás, aos poucos nosso Povo está tomando conhecimento de nossa corrupção (que é endêmica). Ela vem de longe.

    O Lula, em cujo governo a corrupção também se manteve, compreendeu que o Brasil estava tão desarrumado que precisava DAR UM JEITO ADMINISTRATIVO no País. Daí, procurou mudar nossas diretrizes no campo da Diplomática (alterando as velhas e repetitivas práticas do Itamaratí), em consequência disso mudou nossas Relações Internacionais no âmbito Comercial, fêz crescer nosso Mercado Interno (que estava morto), estendeu o Crédito para as Camadas menos favorecidas, porque compreendeu que não teria capacidade de criar tantos empregos para quem estava desempregado e remanejou nosso PIB de 12º para 7º lugar. Ano que vem, se nos mantivermos imunes a hecatombe financeira mundial, passaremos nosso PIB para 6º lugar.

    Mas, no campo da Política Interna o amigo tem toda razão. Houve uma combinação do Capeta com Lúcifer, Romãozinho e outras entidades Satânicas que até hoje ninguém sabe quem presta ou quem não presta nesta joça.

    É uma bagunça político-administrativa infernal. Thomas Skidmore, um dos maiores Brazilianistas americanos, dizia com um sorriso largo e sorrateiro: “O Brasil é a bagunça mais bem organizada do Mundo”.

    Quando ao pessoal que você, meu amado Albene, cita em seu inteligente e indignado cometário, diria ou perguntaria também o seguinte: Que balaio de gato é esse, meu irmão?

    É que ainda temos problemas estruturais gritantes: Nosso Modelo Político Partidário é uma aberração jurídica inominável.

    Como diria o Oto Lara Resende: Senhor tende piedade de nós.

    Pior é que nem Lula nem o simpático FHC, com maioria no Congrresso, conseguiram fazer a Reforma Eleitoral. Somos o único país do Mundo em que a minoria é maior que a Maioria.

    Cordial abraço e parabéns pelo encantamento que provocou no pessoal que lhe ouviu no Uchôa Grill junto com Clovinho, JOão Omar e Massumi.

    Do amigo de sempre

    Paulo Pires

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