Pequenas Notas

República, consciência e ética

Por Paulo Pires

Em boa hora o IBGE acaba de publicar dados econômico-sociais sobre o Brasil. Antes de discorrer brevemente sobre parte dessas informações, este autor repete o que disse há algumas semanas: O Brasil de hoje está melhor, moderadamente melhor, que o de ontem. Se alguém duvidar – e alguns até se aborrecem por esse tipo de assertiva – é fácil comprovar: Basta acessar todos os números do IBGE, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e os da Fundação Getúlio Vargas entre outros, para se surpreender ainda que um tanto aflito sobre os dados atuais do País. O lado ruim da realidade trazida pelo IBGE é que ainda estamos mal colocados nos indicadores sociais.   

Por que usamos o termo “aflito” no parágrafo anterior? Pelo fato de termos melhorado, mas não tanto quanto deveríamos. O vocábulo melhor se justifica quando comparamos nossos dados com os de outros países – inclusive alguns da América Latina. É desagradável, mas é verdade. Quando confrontamos a qualidade de nossa Educação com as do México, Chile, Uruguai e Argentina, confirma-se que estamos bem abaixo dos índices internacionais quando o tema é este. Isso provoca aflição? Provoca sim. Muita aflição. Mas não adianta ficar apenas aflito. Não temos tempo para chorar o leite derramado. Boa parte dos brasileiros, pelo menos aquela mais esclarecida, sabe como, quem e porque nos colocaram numa situação dessas. O Brasil, ou melhor, os governos brasileiros nunca tiveram muito zelo com o nosso Povo.

            Construímos e organizamos um Estado irresponsavelmente injusto. Ontem no Programa Entre Aspas apresentado pela jornalista Mônica Waldvogel, Globo News, o tema abordado foi “O que o Brasil tem a comemorar com o regime republicano”. Participaram do Programa o historiador Marco Antônio Villa e o renomado jurista professor emérito da USP, Dalmo de Abreu Dallari. Ambos dispensam maiores apresentações.

            Conforme as primeiras idéias colocadas pelo historiador Villa na tentativa de aguçar nossa compreensão sobre o que é uma República e, por extenso, especificamente a brasileira, ficou claro que desde o Manifesto Republicano de 1870, era possível prever que as elites paulistas (e as dos demais estados também) queriam tudo com a República, menos que ela fosse republicana no sentido lato do termo. Estamos falando de 1870. Aquelas elites nunca “foram sopa”. Eles nunca foram [ou atuaram] na cena política brasileira com visão séria para construção de uma grande Nação, um Estado equânime que promovesse para o Povo um tratamento republicano, pautado em igualdade de condições. Há cento e quarenta e um anos passados “os caras” já haviam se especializado em ações baseadas na “dolce vita” da tranquibérnia nacional.

            Construimos uma Nação sem rumo e organizamos (?) nosso Povo com uma consciência mínima de cidadania. Norberto Bobbio disse: “Os fundamentos de uma boa república é a virtude dos seus cidadãos”. Perguntaríamos nós: Mas que virtude, que cidadãos? O País deixado por Juscelino Kubitscheck em 1960 possuía apenas (?) 60% de analfabetos. Eu falei 60% de analfabetos. Será que nossos governantes tiveram zelo pelo País, pelos seus cidadãos?

            Doutor Dalmo Dallari, para minha alegria, disse que fosse ele o Ministro da Educação, faria constar dos Currículos do Ensino Fundamental uma disciplina denominada Introdução à Cidadania. Fiquei feliz porque há tempos defendo que nossos meninos e meninas precisam, ao lado da matemática, do português e outros conhecimentos básicos, serem conduzidos para o conhecimento introdutório e conceitos referentes a Estado, Constituição, Código Penal, Civil e outros componentes indispensáveis à formação da cidadania.   Nossos alunos, mesmo os mais aplicados, concluem o segundo grau sem saber o que é uma Constituição, um Código Civil, um Código Penal e por aí a fora. Cabe perguntar: Esse jovem tem consciência de cidadania? O que é cidadania?

            Para tentar responder, diríamos que o primeiro passo para adquiri-la se dá por intermédio da educação familiar, ou seja, o berço. O berço em seu mais amplo significado social. Mas considerando que o País tem 50 milhões de domicílios, cabe uma rápida pergunta: Desses domicílios quanto são capazes de prover os filhos de consciência para a cidadania? Os dados do IBGE informam sobre a composição dos novos núcleos familiares, os novos tipos de relações e os jovens dentro do contexto das relações monos-parentais. A sociedade moderna não se compõe apenas daquele modelo familiar tradicional (papai, mamãe e filinhos). Hoje a coisa está diferente. É homem com mulher; homem com homem, mulher com mulher, mulher com homem (a primeira sustentando a casa), domicílio sustentado pela avó porque o casal abandonou os filhos e por aí vai. 

            Será que todas as pessoas foram educadas para entender seu papel social? Resposta: Não! Parte de nossa sociedade não teve nem tem preparo sócio-educacional para o enfrentamento da vida. Ela é culpada ou vitima desse modelo de Estado? Doutor Dallari disse que é inacreditável, mas nosso Sistema Político criou uma contradição insólita e desprezível: O povo vota contra o povo. E explicou: Somos um povo que apesar do alerta e de todo o noticiário contido nas mídias, as pessoas continuam votando em candidatos desclassificados ético e moralmente. Isso é verdade. Como explicar que tal fulano, politicamente falando, um pilantra, é eleito em todos os pleitos que disputa pelo voto popular? Como explicar isso? Conclui doutor Dalmo: Para mudar essa realidade só uma enorme transformação de consciências nos redimirá politicamente de tantos erros. O historiador Marco Antônio Villa acredita que só por intermédio da ética e da moralidade pública será possível transformar nossa História. É isso aí. O Brasil reclama três valores: República, Consciência e Ética.


2 Respostas para “Pequenas Notas”

  1. Augustinho Linhares

    Minha tia que foi professora da UESB sempre falava lá em casa, na companhia dos meus avôs: escrever é um ato que permite expor ideias que se aproximam da nossa realidade cotidiana ou se afastam totalmente dela.
    Cada um tem o seu estilo de escrever. Alguns escrevem para distanciar o povo da realidade, pois visam vender uma imagem faceada da realidade brasileira.
    No caso brasileiro, os graves problemas sociais requerem cidadãos capazes de exercer plenamente a sua cidadania. Isso implica saber analisar criticamente as realidades sociais e organizar a ação para intervir nessa realidade. Ou seja, a sociedade atual precisa de cidadãos atuantes, que não se limitem a observar a realidade, mas que nela saibam agir, examinar os fatos, articular acontecimentos, prever suas possíveis conseqüências para a qualidade de vida das pessoas, da cidade, do país, do planeta.
    Por outro lado, exercer plenamente a cidadania significa saber agir utilizando a informação. Em uma sociedade letrada, obter informações analisá-las criticamente, saber divulgá-las e agir utilizando essas informações passa pelo domínio de um objeto social fundamental: a linguagem escrita.
    Tenho observado que na defesa do indefensável muitos utilizam da linguagem escrita para defender a manutenção do sistema político brasileiro. Alguns querem vender a imagem que tanto marca as nefastas práticas políticas de comemorar pequeníssimos avanços.
    Lembro-me das histórias de meu avô ao descrever a atitude de um determinado Prefeito que mandar divulgar entre os moradores que a cidade por ele administrada era melhor do que aquela do passado. Meu avô dizia que o mencionado Prefeito mandava os seus assessores comprar fogos de artifícios para comemorar até mesmo a pintura de meios-fios.
    Quando, no século V, Atenas, politicamente democrática, foi derrotada por Esparta e seu esplender começou a decair, o pensador Platão começou a questionar a democracia. Platão criticou a democracia, pois dizia que esta favorece a demagogia (a arte de incensar a opinião pública por meio da oratória) e a tirania, pois havia o perigo do homem seduzir e canalizar a opinião pública para seu proveito, para em seguida, subjulgá-la.
    Minha pergunta é bem clara e objetiva: Quem são aqueles que, na cidade de Vitória da Conquista, utilizam da linguagem escrita para seduzir e canalizar a opinião pública para o seu proveito político? Quem são aqueles que soltam “foguetes” para comemorar pequeníssimos avanços e buscam esconder a realidade de graves problemas nas áreas de educação, saúde, cultura, infra-estrutura, transporte, moradia, esporte e lazer, segurança pública, dentre outros tantos problemas que a Conquista enfrenta?
    Onde está verdade acerca dos cidadãos brasileiros, baianos e conquistenses que vivem sem teto; que não possuem renda; que são vítimas de assaltos, furtos e crimes; que estão doentes e não recebem assistência médica; que se deslocam diariamente em ônibus superlotados; que choram por não ter dinheiro para comprar alimentos para os seus filhos; que não sabem ler e, por isso são denominados de analfabetos políticos, presas fáceis para os políticos profissionais e para os novos políticos?
    Minha avaliação sincera é seguinte: Aqueles que entram para a política partidária e precisam do voto se metem em muitas loucuras na corrida pelo prêmio da conquista de um cadeira no legislativo ou um cargo político no executivo. Quem pena o professor Paulo Pires escolher lutar por tal premiação.
    Por falar em Paulo Pires, lembro-me da história do apóstolo Paulo. Rico, culto e arrojado, Paulo, o apóstolo, se filiou a um grupo radical e ofereceu-se para perseguir os cristãos. Foi nessa hora que Jesus lhe apareceu e ele pôde perceber que estava errado. Seu arrependimento foi seguido por uma transformação e ele se tornou um grande pregador do evangelho.
    Viajando a pé ou em barcos, Paulo andou quase 7000 Km anunciando a Palavra de Deus, uma distância maior que a percorrida por Cabral desde a Europa até ao Brasil! Enfrentando dificuldades e perseguições, ele se manteve fiel, até mesmo em face da morte, pois foi decapitado na época em que Nero era o imperador de Roma.

    Próximo da morte, ele escreveu: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. E agora está me esperando o prêmio da vitória, que é dado a quem vive uma vida correta, o prêmio que o Senhor, o justo Juiz, me dará naquele dia, em ao somente a mim, mas a todos os que esperam com amor a Sua vinda”.II Tim. 4:7-8.

    Que tal sermos como apóstolo Paulo e aguardar o prêmio de Deus e não o prêmio da política partidária?

  2. PAULO PIRES

    Senhor Augustinho Linhares

    Nosso papel é fazer o ser humano se aproximar da realidade. O senhor tem toda razão.

    Faço isso buscando aproximar historicamente os leitores não apenas se aproximando de nossa realidde como da realidade de tempos passados, que, creia, era muito pior que a atual.

    Naqueles tempos, os contratadores de escravos, os coronéis, os usineiros, os barões do café, os políticos vagabundos viviam à solta (Rui Barbosa foi proscrito para o Chile e a Argentina por fazer aquele famoso discurso sobre a vergonha de ser honesto) e a pilantragem era muito maior que hoje.

    Chegamos a ter um presidente aqui que montou um esquema aqui cujos “parceiros preferenciais” eram três banqueiros e uma “banca de advogados” competentíssima para “legalizar” as ações do citado cidadão.

    As opiniões que emito sobre o Brasil e nossa Conquista são ou estão rigosamente coerentes com o que vejo, independentemente de Governo e Partido. Por exemplo, posso dizer com tranquilidade, que Pedral ainda continua como um dos maiores homens publicos de Conquista. E digo isso em qualquer lugar, para todos que quiserem me ouvir, sem nenhuma preocupação de ser admoestado por quem quer que seja.

    Nunca, porém, disse que o Governo do PT seja aqui, no Estado ou no Brasil realizou o governo que saneou, por exemplo, nossa Corrupção. Tem corrupção no Governo do PT? Tem sim senhor.

    Mas não posso deixar de dizer para quem nos lê, que foi no Governo deste Partido que foi instalada a C.G.U. e houve o maior fortalecimento da Polícia Federal em todos os tempos.

    Procure saber da Polícia Federal qual Governo mais proveu meios para o fortalecimento da Instituição.

    Conquista, por exemplo, não é a cidade mais maravilhosa, nem é a mais rica, nem a mais arrumada. Ainda assim é uma das 100 melhores do País e isso se deve a todos os seus gestores. Ou será que nossa cidade piorou com Doutor Guilherme ou Doutor Zé Raimundo? Sinceramente, eu acho que não.

    Avançamos. Avançamos bem. E uma prova cabal disso é a chegada de novos Investimentos, novas Empresas, novas iniciativas em todos os campos.

    Temos problema com Educação? Temos sim senhor. Temos problemas com a Saúde? Temos sim senhor.

    Mas isso pode ser saneado. No caso da Saúde, informo ao amigo que existem dezenas de “Embaixadas da Saúde” de outras cidades aqui instaladas, cujo objetivo é acolher doentes dessas dezenas de cidades, acolhendo inclusive mulheres grávidas com sérios problemas de pré-natal (geralmente não feitos em suas origens) e que aumentam sensivelmente a taxa de mortalidade infantil do nosso município.

    Mas não devemos entrar em pânico. É no grande agito do mar que a gente sabe quem realmente é bom marinheiro.

    A experiência (soma dos nossos erros) me ensinou a ter calma na avaliação e resolução dos problemas. Nossa cidade daqui a uns dias vai receber a ampliação do Conquista Sul, mais duas lojas da Casa Bahia, lojas Renner, ampliar o número de empregados e vai buscar mais recursos para a saúde, baseado em Mapas de Atendimento, que hoje supera em muito os recursos recebidos.

    Reconhecemos que há uma enorme massa de excluídos. Mas, creia, essa massa já foi maior. O País tem uma História de Injustição enorme. O Povo, como disse uma Ministra, sempre foi aqui um detalhe. Só um detalhe. Lembra dessa fala da Ministra Zélia Cardoso de Mello? Nosso Povo sempre foi maltratado.

    Só a partir dos Governos de Itamar e mais fortemente no Governo de Fernando Henrique (por intermédio das Bolsas criadas por doutora Rute Cardoso) é que o Povo mais necessitado passou efetivamente a integrar uma Rede de Proteção. Tivemos governantes horríveis. Mas, agora não é mais hora de chorar leite derramado.

    Sugeriria ao amigo ler a próxima coluna escrita por mim. O título é EU AMO NOVA IORQUE.

    Precisamos urgentemente de tomar uma consciência de cidadania, independemente de qualquer partido, qualquer governo. Precisamos dar ao Brasil condições para ele se desatolar.

    Não podemos nos “dar ao luxo” de colocar a pendenga política com os dois Partidos principais fazendo aquele jogo de um puxar para um lado e o outro puxar para o lado oposto. Quando ocorre isso (e foi isso que sempre nos atrasou) o Partido não andou, não andava.

    Agora é hora de construir e para isso todos devemos meter a mão na massa (e prender quem mete a mão nos cofres, que aliás tem sido feito).

    Se hoje estamos metendo os vagabundos na cadeia é porque já avançamos. Em tempos passados, ninguém ia em cana por nos roubar. E, confesso ao amigo, não era pouco. Era dinheiro prá dar de pau. Todo mundo roubava e mantinha-se tranquilo.

    Agora estamos descobrindo e botando os vagabundos em cana. Aos poucos vamos reduzindo nossa corrupção.

    Quanto a verdade e a realidade, são dois aspectos fascinantes. A gente busca a verdade para interpretar melhor a realidade.

    Mas lembrando um velho pensador alemão, diria ao amigo que não basta interpretar a realidade. Temos que fazer o que for possível de lícito para mudá-la.

    Precisamos mudar toda realidade que for perniciosa ao Povo, ao cidadão. Precisamos expurgar os maus elementos que usam a Política para benefícios pessoais.

    Para finalizar, diria que uma função pública é objeto de apreciação pública. Eu, se for ou fosse eleito teria minha atuação sob julgamento do Povo. E teria essa atuação de forma transparente para que os julgamentos fossem honestos. Como honesto seria o meu mandato.

    Saudações e não esqueça de ler a coluna EU AMO NOVA IORQUE, preferentemente acompanhada de suas inteligentes observações.

    Paulo Pires

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