Pequenas Notas

Por Paulo Pires

Este colunista, em breve reflexão sobre alguns jornalistas da atualidade, encontrou diferenças que impiedosamente comprimiram meus pensamentos para um juízo pouco complacente sobre suas posições.   Jornalismo é uma das mais sagradas invenções do homem civilizado. Sem ele o mundo não teria uma janela tão aberta e grandiosamente analítica para examinar, contar, medir, ponderar e repensar as condutas desse bicho naturalmente instável e quase inexplicável chamado ser humano. Mas por que me dei ao luxo de refletir sobre o jornalismo atual? Porque, velho leitor e, melhor ainda, pessoa com o privilégio de ter lido em vida [minha e deles] grandes figuras da nossa imprensa, considero adequado fazer algumas observações sobre o que temos no cenário atual. Antes disso, porém, é preciso dizer…

Nos idos de 1960, abríamos os jornais e nos deparávamos com textos de Carlos Castelo Branco [e sua crítica política fina, elegante, não raivosa, fruto de um homem culto, respeitoso], Alceu de Amoroso Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Assis Chateaubriand, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Oto Lara Resende, Austregésilo de Ataíde, Alberto Dinis, David Nasser, Fernando Pedreira, Millôr e Hélio Fernandes, enfim, uma plêiade de nomes que faziam do nosso Jornalismo elegância, independência e referências profissionais inquestionáveis.

Muitos desses nomes receberam prêmios mundo a fora (EUA e Europa). O que os diferenciavam dos nossos jornalistas atuais? Alguns aspectos fundamentais: Todos esses homens – e mais alguns não citados da imprensa de outrora – faziam da escrita jornalística um texto enxuto, grave, num estilo primoroso e, pasmem, com raríssimas afetações ou inclinações político-partidárias. Todos escreviam só pensando na função social do seu oficio.

Alguns desses aí quando queriam se declarar a favor ou contra ações de um governo ou de um determinado empresário ou empreendimento, o faziam com a maior explicitude e afirmavam que suas matérias ou artigos eram para expressar tal ou qual discordância e que, portanto, havia nelas, uma dose de pessoalidade ou dever profissional que eram obrigados a cumprir. Cumprir para atender à filosofia de suas concepções políticas ou determinações da empresa para a qual trabalhavam. Pronto, isso bastava para o leitor “sacar” o nível de interesse pessoal ou empresarial embutido sobre essa ou aquela opinião.

E hoje? Bem a coisa hoje está diferente. Os jornalistas estão condenados a viver o tempo inteiro escrevendo para atender exclusivamente aos interesses de suas empresas. Parece-nos que nenhum deles tem opinião própria.  Alguém dirá que sempre foi assim. Em tese isso seria admissível, mas o fato é que havia em muitas redações jornalistas com muita independência e, é óbvio, não chegavam a escrever contra os patrões, mas alguns chegavam a por em cheque o direcionamento para onde sua empresa apontava. Quando a discordância era muito acentuada, o sujeito pegava o boné e ia embora. Partia para outra empresa ou abria a sua própria.

O caso mais histórico desse tipo de conduta (mudança de trabalho) se deu quando Samuel Wainer começou a discordar das idéias do patrão Assis Chateaubriand. Este cidadão, que não era sopa, disse pro Wainer: “Se quiser expressar suas idéias, faça o seu jornal. No meu tem que obedecer minhas diretrizes”. Wainer pegou o chapéu, procurou Getúlio Vargas e fez o seu jornal chamado Última Hora. Deu um show de bola!

Mas por que resolvi refletir sobre o jornalismo atual? Porque estou observando há anos, desde quando começou a peleja política entre PT e PSDB que os nossos jornalistas resolveram partidarizar sua profissão.   Hoje temos revistas e jornais no País (Veja e Estadão de São Paulo, por exemplo) que disseminam, ou melhor, destilam um ódio mortal contra os governos do PT.  O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, tratou de arranjar também seus jornalistas defensores e o que se assiste é uma guerra de informação, deformação e contra informação que deixa o leitor desatento, meio biruta e quase ou totalmente atônito.

Alguns jornalistas da atualidade se denunciam diariamente quando falam do ex-presidente Lula. O tom afetado, raivoso e irônico contra o ex-presidente é espantoso. Qual a razão disso? Será que é só porque este homem, em que pese alguns percalços, fez pelo Brasil muito mais do que aqueles [aqueles de sempre] que esses jornalistas, inexplicavelmente admiram? Quem é que entende o ser humano? Uma coisa é certa: O povo brasileiro entendeu e adora o Lula. Quem não gosta do grande Petista vai ficar eternamente afetado, raivoso, ressentido e com dor de cotovelo. Lula é um marco de nossa história. Quanto a esses jornalistas não se pode dizer o mesmo.  É isso aí…


Uma Resposta para “Pequenas Notas”

  1. João Batista

    Prezado Paulo Pires,
    Nem tudo está perdido, ainda temos homens preparados e que transbordam civilidade e alto nível nas colocações.
    Parabéns e continue no seu trilho…
    Com admiração,
    João Batista Oliveira dos Anjos

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