O padre e o prefeito

Por Paulo Ludovico

Conta-se que na história de Conquista existiam muitas “brigas” entre famílias. As histórias sobres as valentias de algumas delas eram de fazer inveja a qualquer “western” americano. Bala comia pra todo lado. Morria gente todo dia. Em alguns casos, essas rusgas (se é que se pode chamar assim) não atingiam famílias, às vezes, elas ficavam apenas entre pessoas. Muitas dessas pessoas até exerciam funções destacadas na velha Conquista de outras eras. E justamente uma dessas “brigas” aconteceu entre o Padre Palmeira, diretor do então Ginásio de Conquista (ali, perto do Clube Social), onde estudou muita gente boa que faz a história da cidade nos dias atuais, e o prefeito de Conquista, na época, Edvaldo de Oliveira Flores (sobrinho de D. Olívia Flores). A carroça, que até hoje faz parte da nossa paisagem, é parte integrante dessa história, ou melhor, o burro que puxava uma determinada carroça é que, depois de ”tombar sem vida”, passou a protagonizar esse, digamos…”causo”.

Pois muito bem. Numa bela tarde de segunda-feira, morre um desses animais. E o danado “escolhe” para se deitar justamente a calçada da Ginásio de Conquista, cujo Diretor era o Padre Palmeira. Manhã do dia seguinte, perto do meio dia, o falecido ainda está no local, sem que as “autoridades competentes” tomem qualquer providência para remoção dos restos cadavéricos. O padre, na sua “santa” certeza, conclui que aquilo só pode ser “picunhinha”, vinda das bandas da Prefeitura e provocada pelo seu maior desafeto na cidade, o prefeito Edvaldo Flores. Zeloso como ele só, no que se refere às coisas do Ginásio, que o padre tem a idéia de escrever um bilhete, solicitando ao prefeito que tirasse os restos do animal da calçada do Ginásio. E, vencendo o seu “sacro” orgulho, teria escrito:

“Sr. Prefeito.

Peço, encarecidamente, que o digníssimo mandatário do Município providencie a remoção de um animal que desde a tarde de ontem se encontra morto em frente ao nosso ginásio. O odor que emana do local já começa a incomodar a toda vizinhança. No breve aguardo de providências despeço-me respeitosamente, etc. etc. etc.”

O prefeito, por sua vez, vê naquele bilhete (se é que existiu mesmo) a oportunidade de zombar do “santo” diretor. Há quem jure que ele responde, assim:

“Caro Diretor.

Sei que compete à Prefeitura tomar as providências que hora são solicitadas, mas, cristão como sou, aguardo apenas que Vossa Senhoria encomende a alma do morto. Esperando que essa religiosa providência seja tomada, para uma posterior ação desta Prefeitura,despeço-me etc. etc. etc.”

Irado pelo debochado e desrespeitoso gracejo, padre Palmeira, que, quando queria, não era afeito às boas maneiras e não deixava qualquer desaforo sem resposta, devolve o deboche, escrevendo essas linhas:

“Prezado Prefeito.

Mais uma vez escrevo ao digníssimo mandatário mas, desta vez, para uma justificativa. Realmente compete a mim encomendar a alma do pobre animal mas, Vossa Excelência é sabedora de que só posso encomendar a alma do burro a seu pedido, isto é, alguém da família”.

Tudo pode não passar de apenas um “causo” desses tantos que circulam de boca em boca, mas que tem gente que afirma ter sido verdadeiro esse episódio, lá isso tem.

 


Uma Resposta para “O padre e o prefeito”

  1. Luis Paulo

    Hilário! Muito bom!

    Sou conquistense, vivo em Salvador, mas acompanho a vida e os “causos” de Conquista através deste blog.

    Boa estória esta. Parabéns.

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