Academia do Papo

   

Um telefonema (que caiu) de Cansadinho

Por Paulo Pires

Recebi um telefonema de Cansadinho. Grande amigo, nascido em Guanambi e hoje cidadão do mundo. Sempre traz consigo papos agradáveis quando entra em contato comigo. Ele surpreende tanto, que até pessoas de relativa convivência comigo, desconfiam que ele seja eu. Sim, ele seria uma espécie de alter ego de Paulo Pires. Mas não é. Ele é outro cara. Aliás, um cara engraçadíssimo. E agora que está com grana, está mais engraçado ainda. Embora insistam por aí que dinheiro não traz felicidade. Bem, isso é outra coisa… Perguntou como eu estava e, prá não fugir ao trivial, disse-lhe que estava bem. Lembrou nosso último encontro no Restaurante e Bar Santa Fé (Maurício e Érica Coelho) e rimos das bestagens que falamos por lá. Maurício e Érica são dois tesouros da noite e da vida Conquistense (gostam de culinária, artes plásticas e música como poucos). Para não ser injusto, informo que há outro casal no mesmo nível: Lorena e Otávio do Café Society, gente maravilhosa, que recebe muito bem a todos.

Cansadinho em tom quase suplicante lembrou que precisávamos nos ver mais constantemente e que essas longas ausências não lhe faziam bem (dei uma boa gargalhada, claro).

Em nosso último encontro, ele discorreu sobre vantagens e desvantagens de se morar por longo tempo em uma cidade, que ainda não é tão grande, tipo Vitória da Conquista. A primeira vantagem é que a gente conhece e fica conhecido por muita gente. Desvantagem, segundo ele, a gente acompanha as pessoas ficando velhas e, pior ainda, muito feias (menos a gente, óbvio).

Disse-lhe, em tom filosófico (professor Itamar Aguiar que me perdoe a pretensão) que nem sempre isso ocorre. E que mesmo quando “isso se assucede” é por causa do tempo. Concluí com tom sapiencial: O tempo é implacável. Ele me olhou de soslaio, suspirou e desvanecido falou: Sim, mas tem gente Paulinho, que tá ficando velha e muito feia, feia demais. Feia e chata, muito chata. Eu, mais filosófico ainda, trepliquei dizendo que depende de quem. Quando a gente é amigo verdadeiro de outra pessoa não vê nem maldade nem feiúra no outro ou na outra. É verdade, disse ele aceitando minha ponderação. Mas acrescentou, que o povo, de um modo geral, tá ficando feio e chato.

Neste telefonema da semana passada, perguntei-lhe se ainda estava preocupado com a feiúra do povo. Ele riu e disse que agora estava mais tolerante (até porque ele mesmo já se reconhecia no rol dos que estão ficando horrorosos). Portanto, estava mais condescendente com os “bicho feio” que estava vendo em nossas ruas.

Perguntei-lhe sobre as novidades e ele disse que por causa das viagens constantes que anda fazendo, está gostando cada dia mais de Vitória da Conquista. Sente-se aliviado quando chega à terrinha, revê os amigos, abraça os filhos e beija a mulher amada. Nada melhor que estar de volta ao aconchego do lar.

Disse-me que anda comendo muito. Perguntei-lhe o quê! Comida, claro, respondeu-me. Lembrei-lhe, que é preciso reduzir a comilança. A gente não tem mais piquei prá ficar se entupindo de buchada, torresmos (como aqueles deliciosos de Nena) ou língua como aquela de Duchinha. Ou então rabadas como as de dona Ana e dona Isabel lá do Ceasa do Bairro Brasil. Nosso tempo é de mais moderação.  Whisky até que não faz muito mal, quando bebido do bom e também com moderação.

Lembra-se daquele dia de tarde no bordel do nosso amigo X, perguntou-me. Claro que sim, respondi. Aquele dia foi muita loucura, muita doidice. Essa cidade Paulinho, é muito doida. Aliás, aqui tá cheio de malucos.

Aquele concurso que Mcdonald e Bramont fizeram na Band prá escolher o homem mais feio de Conquista, tu lembra? Respondi que sim. Lembra quem ganhou? Sim, respondi: Foi Galego Pega Frete. O prêmio foi um fusquinha branco.

Aquele concurso quase acaba na Justiça. O segundo colocado, Argeu, o famoso candidato a vereador (aquele cujo slogan era: Quem comeu, comeu, agora é a vez de Argeu), sentiu-se logrado, porque percebeu que havia um Fã Clube fazendo campanha para Galego Pega Frete. Argeu pensou em entrar com um mandado de segurança argumentando que mais uma vez o Poder Econômico estava interferindo no Processo Eleitoral. Imagine você, amigo, como essa Cidade é gostosa prá se viver. Até em disputa para se saber quem é o mais feio, a concorrência é grande.

Quando íamos reiniciar outro assunto a ligação caiu e eu, voltei para o whisky que estava bebendo. Ninguém é de ferro. Mas que o Cansadinho é uma figura agradável, isso é. Amigo prá toda hora. Até a próxima e cordiais saudações.


Uma Resposta para “Academia do Papo”

  1. Dantas de BH

    Nobre Paulo Pires,
    Sempre leio os seus textos, aprecio a forma em que dosa o humor e o saudosismo, pois, é prazeiroso lembrar o tempo que fazíamos isso ou aquilo.
    Embora eu nunca tenha sido personagem em seus textos, consigo reprisar os anos maravilhosos em que vivi em Conquista, por volta de …1968/69/70…algumas doses de cachaça na noite, bons companheiros, o seu irmão Adelmo, os amigos José Augusto, a loirinha Eliane, Murilo, Luciano, Cassy, enfim, outros mais que no momento não recordo os nomes. “Ai que saudade me dá”, dos bailes animados pelos conjuntos OS TREPIDANTES ou OS IMBORÉS, saudades também, das festas juninas, licor de jenipapo, fogueiras, da boa prosa, violão, enfim, coisas simples que estão cada vez mais raras.
    Pois é, nobre Paulo, o meu comentário tem nadica de nada com o “causo” acima, maaaaas, os seus textos sempre me fazem lembrar dessa Vitória da Conquista, esquecida pelos nossos governantes mas amada como nunca por todos nós.

    Abraços.

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