Meu vestibular pra Direito II

Paulo Ludovico

Já contei essa história em outra oportunidade e, agora repito, em razão de vários pedidos pra contá-la novamente. Escuso-me dos que já a leram. Mas, se até a TV Globo repete os causos dela, porque não eu?. Então, aqui vai. Durante o período regular de estudos, lá pelos meus 20 anos de idade, fiz vestibular pra Engenharia Civil, o que me possibilitou (pela matéria estudada) ser professor de Matemática, por muito tempo (em Salvador e em Conquista). Depois, já recentemente, fiz vestibular pra Direito, me formei, fiz pós-graduação e há três anos e meio sou professor no Curso de Direito da Fainor. Mas como foi esse entrar na faculdade, depois de tanto tempo e já carregando nas costas o peso dos janeiros? Foi assim:

Certo dia, Matheus, um de meus três filhos (os outros dois são: Thaise e Thiago), quando ainda cursava Ciências Contábeis (hoje, ele já concluiu o Curso), me disse: “Pai, acho que você deve cursar Direito”. No início, não o levei muito a sério e até pensei: “Eu, aos 47 anos de idade, estudar mais, pra que?” Mas, aos poucos, fui mudando o meu pensar e, incentivado pelo próprio Matheus, de início, e, depois, por todos lá em casa, resolvi fazer vestibular para o Curso de Direito. Ainda meio descrente, fiz a inscrição, no último minuto, da última hora, do último dia. Torci até para que um motivo “involuntário” qualquer impedisse essa inscrição.

Chegou o dia do vestibular. Novamente, quase não cheguei a tempo. Não sei se coincidência ou propositalmente. Foi eu entrar na escola e fecharem os portões. Parece até que estavam, só, me esperando. Lembrei-me da primeira vez em que fiz vestibular para Engenharia Civil, na UFBA, lá pelos idos de 1977. E hoje, como poderia concorrer com os candidatos mais jovens (cerca de 2 mil), recém saídos dos bancos do 2º Grau? Eu, que havia concluído o 3º ano (enchíamos o peito para dizer: “o Científico), há mais de 30 anos. Não ser aprovado seria agora uma decepção, pra mim e pra minha família.

Fiquei numa sala onde o mais velho era eu. Aliás, o velho era eu. Senti, na pele, o significado e a força da expressão “um peixe fora d’água”. Excluindo eu, na sala onde fiquei o de mais idade teria, no máximo, 25 anos. “Acho que ele não tem nem 15 anos”, pensei na hora, num desconcerto total, o que me fazia sentir como se tivesse 80. Cheguei a imaginar que aquelas cotas na universidade deveriam ser estendidas, também, para “idosos”. Depois de distribuídas as provas, sumiu tudo que estava em minha volta. Era eu sozinho. Só enxergava as questões e o gabarito a ser marcado. Que idoso, que nada, senti o que era ter, novamente, 20 anos de idade. Ser ou não “peixe fora d’água”, era o que menos importava, mesmo porque, passei a me achar o mais novo da sala. Viajei nas idéias de minha Redação. Parágrafo após parágrafo, o difícil, mesmo, foi parar de escrever. As questões de Biologia, Química, Física, História e Geografia pareciam sonetos que me levavam de volta à minha juventude. Fazendo a prova, estimulado pelas rimas exatas da Matemática, senti de novo nas aulas de Edna (de saudosa memória) Ednalva e Edméia do São Tarcísio, as três, até hoje, senhoras de minhas mais queridas lembranças escolares. Naquelas quatro horas de prova, conversei com cada um de meus antigos professores. Todos bem vivos em cada esquina de minhas memórias: Nilda Figueira, Dona Celina Cordeiro (também de saudosa memória), Fernando Eleodoro, Alzair (irmã de Jânio Freitas), Margarida Bacelar, Durval Menezes, Itamar Assis, Denise Aragão, Stela Bacelar, Ubirajara Cairo, Norilde Chequer, Helena Glass, entre tantos outros que contribuíram para a minha construção de mim mesmo. Como agradeço a todos eles. Faço minhas as palavras de Albert Einstein, depois de um elogio: “Grandes são os mestres, nos ombros dos quais me elevei”.

No dia seguinte (tal qual naquele passado de meus 20 anos, quando fui aprovado no vestibular de Engenharia da UFBA), fui conferir o gabarito. Pelo número de acertos (fechei a prova de Matemática), tinha grande chance de ser classificado. Não havia como saber sobre o resultado da Redação, o que me deixou mais ansioso, ainda que tentasse disfarçar. Quatro ou cinco dias depois, não me lembro bem, saiu o resultado. A-PRO-VA-DO! De novo estava eu, mais de 30 anos depois, outra vez na escola, dessa vez, como estudante.

Foram dez maravilhosos semestres. Conheci colegas que jamais esquecerei. Hoje, já se vão quatro anos da formatura da minha turma, a do primeiro semestre de 2004. Como foi o curso? Bem, isso aí já é outra história. Fica pra outro dia. Mas que foi divertido, lá isso foi!

 

 


2 Respostas para “Meu vestibular pra Direito II”

  1. Alba Rejane

    Acho voce o maximo adoro ler as suas cronicasv fico lendo e lemprando do meu tempo de escola , claro que sou mais jovem , mas não muito rsrsrsrs
    adorei
    um abraço
    ALBA

  2. solon guimaraes pereira

    GOSTO DAS HISTORIAS DO AMIGO, IRMÃO E PROFESSOR PAULO

    ABRAÇOS

    SOLON

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