Qual seria o nome?

Paulo Ludovico

Paulo Ludovico

Tem uns caras de raciocínio rápido. Conheço alguns assim. Daqueles que respondem na tampa e até parecem ter a reposta pronta, na ponta da língua.

Um conhecido, certa feita, comprou um tênis, daqueles mais espalhafatosos possíveis. Era cor de todo tipo e largura, algumas delas, fluorescentes. Parece até que acendiam. Um verdadeiro arco íris nos pés.

Era costume em Conquista, os amigos se encontrarem para a velha roda de papo. Na Alamenda Francisco Santos, depois na Praça do Gil. Era como se fosse a Olívia de hoje.

Pois muito bem. Um belo dia (na realidade, uma bela tarde), esse conhecido (o do tênis) chega para encontrar com os amigos e, depois dos costumeiros cumprimentos, um deles, sem esperar, arrisca uma pergunta, ao perceber aquele enfeite nos pés do que chegava.

– E aí? Onde você comprou esse tênis, tinha pra homem?

O dono do espalhafatoso calçado, que era um sujeito de raciocínio rápido e bom de resposta, sem titubear e na bucha, diz:

– Por quê? Você quer comprar pro seu?

Seu moço, a gozação foi geral. O perguntador passa o resto da tarde, mudinho da Silva.

Outro também assim era um amigo desse grupo. Estávamos nesse jogar conversa fora, quando, passa uma menina, uma aeronave (hehehehehe), no máximo 20 anos, daquelas que sabem que são “bonitas e gostosas” (to velho, lembrei do extinto grupo musical “As Frenéticas”) e andam de narizinho empinado. Esse amigo, também de resposta rápida, saiu em direção à jovem e disse:

– Como você é linda!

Disse isso do nada, na maior cara de pau. Ela, percebendo que o danado era a feiúra em pessoa, responde, com o narizinho mais empinado ainda e com uma cara de total desprezo, tipo nojo:

– Infelizmente não posso dizer o mesmo do senhor!

O senhor aí foi mesmo pra estabelecer distância. O nosso amigo não perde o rebolado e arremata:

– Então faça como eu, minta!

E são muitas dessas histórias. Uma delas, que conto agora, acontece entre eu mesmo e um grande amigo, o velho Vitorino. Tio Vito (é assim que, carinhosamente, até hoje, todos nós o chamamos) é um contador de “causo” e piadista de mão cheia. Não há quem fique junto a ele e permaneça sério. Onde tio Vito estiver, ecoam as gargalhadas. Estamos numa mesa de carteado. Jogamos o tradicional buraco. O de onze cartas, morto, essas coisas. Uma piadinha daqui, outra dacolá. O jogo está divertido porque, além das duas duplas, rodeam a mesa os costumeiros perus. Que ficam a ponto de tomar as cartas dos jogadores. Aqueles que vez ou outra deixam escapar um comentário de qual seria a melhor jogada. Bebidas, tira gosto e tio Vito manda, vez ou outra, um a piada. Risada geral, sempre que isso acontecia. O brabo era (e é) mesmo engraçado. Amigo desde os tempos da juventude, sou fã de carteirinha dele. Numa determinada hora, o parceiro de tio Vito faz uma jogada de campeão e ele sai com essa, em voz alta e jogando um beijo em direção ao destinatário daquele carinho:

– Muito bem, princeso!

De repente, ainda com as risadas no ar e sem que, nem pra que, tio Vito, dirigindo o olhar em minha direção (eu era um dos perus), pergunta:

– Paulão, se você fosse um travesti, de rodar a bolsinha, nas bocas de Salvador, que nome adotaria?
Na hora, sem pensar, no instinto, respondo:

– Vitorino

A partir desse momento, calado, tio Vito perdeu todas as partidas.


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