Futebol, vida, emoção

Paulo PIRES

Paulo Pires

Poucos esportes refletem tanto a Vida como o futebol. Suas regras, seu campo de atuação, seus personagens, suas ilusões, suas oportunidades concretizadas  e perdidas, seus esforços úteis e inúteis, seus sonhos e pesadelos, nenhum esporte, quando praticado por  times  equivalentes  é mais imprevisível que uma partida de futebol.

O passe, o drible, o cabeceio, o tempo atrasado, o tempo exato, a visão do campo, a visão do adversário, do companheiro, a  bola passando a frente, a perna, o corpo pesando,  não alcançando, a lamentação pelo chute na trave, a bola fora, o pênalti convertido ou perdido, são movimentos  que  às vezes são feitos ou desfeitos por sorte e  infortúnios representando sonhos e pesadelos  que o homem, por ventura ou  desventura vivencia simultaneamente. Tudo no futebol, como na vida,  tem um ritmo difícil, quase inexplicável. Por isso, para o  futebol a para a vida cabe a pergunta:  Por que certos lances dão certo e por que outros não?

O que faz o futebol se parecer tanto com vida? O campo de bola seria o próprio território de nossa existência em nosso cotidiano pessoal e social?  Parece que sim.  As regras são  convenções, normas  às quais devemos estar atentos para não infringirmos o que se exige  no jogo da vida e nesse apaixonante esporte.   A bola é o instrumento que representa nosso destino e será ela  que nos permitirá ou indicará o movimento para o lado certo e o errado. O gol, palavra inglesa que significa objetivo, é o alvo que deve ser alcançado por processos bem definidos e não meramente pela finalidade sem moral.  Por isso só deveria ser validado  quando atendesse  aos meios  e limites éticos. O futebol e a vida são caleidoscópios repletos de engrenagens  representados por  símbolos que se misturam e nos fascinam compondo  o lúdico e o onírico

Um dos lados oníricos  desse esporte   foi retratado pelo poeta João Cabral de Melo Neto ao descrever magistralmente o modo de jogar de Ademir da Guia, um dos nossos mais laureados atletas.  Disse o poeta: Ademir impõe com seu jogo o ritmo do chumbo (e o peso) da lesma, da câmara lenta, do homem dentro do pesadelo. Mais  à frente continua o poeta: Ademir deu aos pés a habilidade das mãos.  Cabral usa o ritmo do chumbo, seu peso, como uma metáfora que ajuda a explicar a relação do homem, sua agilidade ou ineficiência ante os impedimentos que surgem  numa indesejável  lentidão, os quais matam a  concretização  dos objetivos.

O torcedor somos todos, nossos amigos, nossos parentes, toda a sociedade. Quando torcemos, sofremos nos contorcemos, nos entusiasmamos, nos decepcionamos, roemos unhas, bebemos cerveja, drinques, nos olhamos reclamando  aprovação para acertos e reprovação para erros, enfim, nos entregamos  na alegria e na angústia de ver, querer fazer ou não poder impedir. Nosso orgulho se mistura com nossos sonhos,  desejo de vitórias, como se aqueles que estão no campo fossem nossos soldados, nossos gladiadores e nos representassem  e por isso não podem perder, porque acontecendo derrota, essa não  será apenas deles, mas de todos nós, nossa Pátria.

Precisamos sair às ruas, gritar que ganhamos, que somos vitoriosos, que não nos derrotaram, que temos muitas conquistas e sonhos pela frente. Precisamos dizer que além de nossas florestas, nossas belezas naturais, nossa Inteligência, nossa cultura, há um conjunto humano que presenteia o mundo com ginga, passes, dribles, gols, soluções  que  outros não conseguem.  Sim, queremos que os outros saibam que somos brasileiros, com muito orgulho, com muito amor.  O Brasil precisa ganhar, não apenas por ganhar, mas para crescer sua alma no refrigério da vitória. É necessário crescer no bom combate.  Precisamos repetir: Somos brasileiros, com muito orgulho, com muito amor e emoção.


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