Lembranças eleitorais

Jorge Maia

Jorge Maia

Até meados da década de 90 do século vinte, as eleições era realizadas por meio do voto em cédulas. Aqueles que iniciaram a votar  usando a urna eletrônica não podem imaginar como ocorria a apuração dos votos. Hoje basta acionar uma tecla e  temos o resultado de cada candidato, sem a possibilidade de impugnação, graças à fé que depositamos no tal dispositivo eletrônico.

A cédula, aquilo que chamávamos de chapa, para o executivo trazia um quadrículo à esquerda do nome de cada candidato. Era simples, bastava assinalar no quadro e era aquele o seu candidato. Na verdade, aí era que a coisa complicava.

Não sabemos porque, ninguém consegue explicar, nem Deus e nem o diabo na terra do frio, porque alguém assinalava fora do  quadrículo.  Fazia um xis em  cima do nome do candidato, outros assinalavam na frente do nome do candidato. A complicação se dava quando o xis era no meio de dois nomes, ou quando assinalando a certa distância dos nomes, você não sabia em qual candidato votou o eleitor.

A lei eleitoral diz que deve ser interpretada a intenção do eleitor, então, era aproveitado o voto dirigido para o nome mais próximo do xis. às vezes usava–se uma régua para tirar a dúvida. Era grande a discussão com fiscais e candidatos que queriam saber mais que a régua. A cédula era também um meio democrático de comunicação. Eleitores escreviam palavrões, recados para as mães dos candidatos e até davam notícias sobre certos  assuntos.

Fui convocado para apurar todas as eleições realizadas entre 1978 até a última eleição anterior ao uso da urna eletrônica e presenciei toos os disparates possíveis em busca de validar votos, em especial aqueles destinados aos candidatos para o legislativo. Neste caso o voto era válido ao se escrever o nome ou o número do candidato, ou o seu apelido, quando registrado no TRE.

Mas e a tal intenção de voto, no caso do apelido não ter sido registrado? Era tarefa para a junta apuradora, sempre requisitada nos momentos mais tensos. O entendimento era de aproveitar o voto de modo a alcançar o quorum  eleitoral.

Assistir às folclóricas discussões em busca do voto perdido. Mas duas delas permanecem na memória pelo aspecto engraçado que elas retratam. A primeira é referente ao professor e candidato a vereador: Said Suff, o qual, inconformado,  discutia com a mesa apuradora sobre um voto que entedia lhe pertencer. O leitor escreveu na cédula a palavra SURF e ele entendia que o voto era  válido. Não logrou êxito e ficou aborrecido.

O outro episódio refere-se a Raul Ferraz que brigava pela validade do voto atribuído a Raul Seixa, defendia que era o único Raul, na região, que era candidato a deputado, portando a intenção do eleitor era votar nele. Raul foi eleito, mas não com aquele voto. VC02082014.


2 Respostas para “Lembranças eleitorais”

  1. Itapuan Cunha

    Gostei do seu artigo, sr. Anderson, mas a maneira mais segura de se votar, aconteceu bem antes, quando os eleitores depositavam as chapas com os nomes dos candidatos.
    A contagem dos votos era bem mais segura do que as tais urnas eletrônicas, segundos muitos passíveis de burla.
    Se assim não fosse, países como Estados Unidos, Inglaterra e tantos outros, optariam pelo nosso sistema.
    Recentemente, por exemplo, houve uma recusa do presidente do TSE, egresso do PT, que não aceitou uma verificação das urnas. Muito estranho, por sinal. Se elas fosse tão confiáveis, porque barrar a curiosidade do nosso povo?

  2. RICARDO

    CARO JORGE.COM O INTUITO DE REGISTRO AO SEU ARTIGO ME RECORDO DE UMA APURAÇÃO EM QUE O ELEITOR ESCREVEU NA CÉDULA O NOME “COUVE FLOR” E O VOTO FOI VALIDADO PARA CLÓVIS FLORES ENTÃO CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL.ABRAÇOS.

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