Vultos históricos de Cajaíba

Foto: Reprodução
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Marcísio Bahia

No alto da Serra do Periperi, sob um denso, branco e gélido nevoeiro, observo o túmulo de Aurino Cajaíba, ornado com o busto dele, uma das obras propensas a manter sua imortalidade, desgastada pela vontade de manter esquecido o legado de um artista pouco lembrado, certamente desconhecido das novas gerações.

 Com a frieza e solidez do concreto, o escultor deu formas a estátuas e, principalmente, bustos dos grandes nomes da história local, brasileira e até internacional (cerca de 200 obras). Ganhou notoriedade em um curto período de sua vida, aparecendo como matéria central na revista de maior circulação nacional dos Anos de 1960; no programa da Hebe Camargo, e atraindo até interesse de críticos e historiadores europeus, mas as lembranças dele guardadas na memória dos amigos são de um homem simples com seu traje branco – amarelado pelo tempo, sua boina inseparável, a barba espessa e o sorriso tímido.

Sobre registro de sua chegada à Vitória da Conquista há controvérsias. Historiadores locais afirmam que foi em 1956, mas uma equipe de universitários que estudou recentemente a vida e obra do artista afirma que foi bem antes, em 1940. Desde então, em uma casinha de sapé, no alto da Serra, esculpia sob a luz do candeeiro às mãos da companheira Gertrudes, que o acompanhava madrugada adentro em sua dedicada tarefa de dar vida a poetas, bispos e presidentes, sonhando com o dia de realizar o sonho de um reconhecido e oficializado museu a céu aberto (cerca de 6 mil m2) , abrigando seus “vultos históricos” para visitação das gerações futuras.

O artista, que deixava de comprar alimentos para adquirir o cimento que utilizava em suas obras, propôs ao poder municipal, no final dos Anos de 1970, construir um Cristo no alto do Periperi, porém preterido pelo gestor, que optou encomendar ao escultor soteropolitano Mário Cravo Júnior a obra que hoje é um dos maiores símbolos da cidade e do interior do Estado. Talvez para amainar sua frustração de não ter um trabalho em exposição pela cidade onde recebeu o título de cidadão pelos relevantes serviços prestados, lutou e conseguiu deixar a marca na Praça Sá Barreto, em frente ao Tiro de Guerra 06-006, homenagem aos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que lutaram na 2ª. Guerra Mundial.

Mesmo de forma precária, o museu resiste ao tempo, dentro do Parque Municipal de Preservação Ambiental, já sem a presença do artista há quase 17 anos, após ser vitimado por um enfarto fulminante, em uma das ruas do centro de Vitória da Conquista. Fica a esperança nesses anos que antecedem a marca centenária de seu nascimento, que as pessoas e os setores mais esclarecidos somem esforços para dar à genialidade do artista seu traço permanente, e devido, de imortalidade.


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