Aracatu, 1927

Jorge Maia

Jorge Maia

Até parece história de pantaleão, aquele de Chico Cite que iniciava seus casos sempre dizendo: em 1927, e por aí seguia narrando seus exageros. Mas foi em um dia de 1927, próximo do meio dia. A pequena praça de Aracatu repousava em sua calma permanente quando um ruído estranho quebrou o silêncio comum e assustou a todos. Era um ruído de  máquina, estranho à maioria dos seus moradores.

Alguns gritavam, outros se persignavam e olhavam para o céu pedindo socorro. Naquela ocasião, meu pai, com quatro anos de idade, foi pegado às pressas por Alzira, que dele cuidava, e carregado na cacunda, alguém se lembra dessa palavra? O certo é que Alzira, assombrada, correu para o mato tentando fugir do monstro que invadia a nossa cidade.

Aos poucos, as pessoas foram se acalmando e os mais bem informados passaram a explicar que aquilo era um carro. Uma máquina que servia para levar e trazer às pessoas para lugares distantes. Alguns entenderam que era um cavalo de ferro, fruto de uma profecia revelada pelos mais antigos.

Foi meu pai, noventa e um anos, quem me contou. O veículo era um “Ford bigode”, suponho que seja um modelo T, adquirido pelo “Coronel” Cândido Silveira, que residia em Aracatu. Era político e chegou a ser Prefeito de Brumado, de onde Aracatu era distrito. Era um dos homens que podia comprar um carro.

“O “ Coronel” era pessoa influente na região e muito insistiu com o meu avô para que adquirisse a patente de “ Capitão”, mas não conseguiu convencê-lo. Do ponto de vista histórico para mim foi prejuízo, pois hoje eu seria conhecido como neto do “Capitão” Júlio Maia. Para uma sociedade que valoriza tais títulos, talvez eu levasse alguma vantagem.

Hoje, os veículos  tomaram conta do mundo. Não há pequena vila em que não seja  poluída por tantos veículos, com os seus combustíveis e ruídos. Sem falar dos equipamentos de sons destinados à surdez coletiva, com músicas de gosto duvidoso a que somos  submetidos. Sabe, é certo! O desenvolvimento científico e tecnológico que gera o conforto torna-se nocivo quando a educação não é completa e gera o mau uso da riqueza.  Não se cuidou do transporte público  e falta até estacionamento para tanto carro e vias para conduzi-los, isto sim, assusta. VC131014


Uma Resposta para “Aracatu, 1927”

  1. Newman Silveira Gomes

    Fiquei feliz ao ler a matéria, sou filha de um sobrinho dele me pai Nataniel Silveira e tenho uma foto “Coronel” Cândido Silveira em tamanho grande.

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