Declarações de amor

Foto: Blog do Anderson
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Jorge Maia

Uma declaração de amor é sempre comovente. É um momento mágico em que a criatura humana, movida pela química hormonal, transforma em verbo os seus sentimentos, e, em poesia cria as mais belas e artísticas manifestações do espírito. Tudo por causa do estado de embriaguês amorosa. Ao longo da história, verificamos que a declaração de amor modifica a sua linha poética, sem contudo, variar o seu significado. Dai podermos concluir que o ser humano continua sendo o mesmo: sempre capaz de apaixonar-se, e, em determinado momento, capaz de confessar o amor, sempre por meios  de palavras encantadoras. Confira a crônica de Jorge Maia.

 Se partirmos da idade da pedra para o estudo do fenômeno, podemos imaginar a cena: um homem atacando uma mulher com um tacape e levando-a para uma caverna significava uma declaração de amor. Bastante dolorida, é verdade, mas era a forma de dizer que aquela era a sua favorita, a sua eleita, ainda que ela não se sentisse feliz por ter sido escolhida.

De lá até os nossos tempos, podemos considerar que houve grandes mudanças. Desde Salomão a cantar o amor, ressaltando a formosura da mulher amada:- Receba eu um ósculo da sua boca, porque os teus amores são melhores do que o vinho-, até aos nossos dias, tudo continua muito expressivo.

Camões, no episódio de Jacó e Raquel, transformou na mais bela página romântica o amor tão grandioso: Mais servira, se não fosse para tão grande amor tão curta a vida.

E Romeu e Julieta! Debruçados na memória de todas as gerações guardam o eterno simbolismo de um amor impossível: Oh! Fala ainda, anjo luminoso! Porque esta noite apareceu tão resplandecente sobre a minha cabeça como um alado mensageiro celeste(…). É uma comparação fantástica , a qual só poderia ser criação de Shakespeare, imortalizando a declaração de amor.

Mas a manifestação de um sentimento tão agradável não ficou restrita somente aos considerados clássicos da literatura. Os escritores e poetas populares sempre cantaram em suas modinhas e versos os amores e encantos das suas amadas. Projeções fantasiosas, por vezes exageradas, falam, portadoras de raras qualidades, nem sempre encontradas em pobres  e realistas mortais.

A música popular brasileira é muito rica no que se refere a essas manifestações amorosas. Lá nos anos quarenta e cinquenta já cantavam ” A deusa da minha rua/ tem os olhos  onde a lua costuma se embriagar( Newton Teixeira- Jorge Faraj). Ora, se a lua se embriagava, imagine o pobre coitado!

Quando chegamos aos anos sessenta vamos encontrar profunda modificação na música popular, porém sem nunca deixar de existir que falassem de amor. Aliás, musica é sempre um meio de declarar o amor. Não são poucos os que usam a música, ainda que de outras pessoas, para declarar a sua paixão.

Quem não se lembra de Vinícius e Tom Jobim? ” Teu balançado é mais que um poema/ é a coisa mais linda que eu já vi passar”. E as canções do Roberto? Sempre falam de amor, verdadeiras confissões amorosas de detalhes inesquecíveis.

As transformações sociais e tecnológicas criaram novo estilo de vida, de cultura e mudaram os costumes. Influenciaram na criação de uma nova linguagem. A comunicação é mais objetiva. Exigência dos nossos tempos, quando a pressa é mais frequente.

Nos tempos atuais, o jovem enamorado, imagino, para declarar o seu amor, olha profundamente nos olhos da sua amada, e com voz embargada revela o seu amor, dizendo poeticamente: meu amor, segura o tchan!  (julho 1996)

 

 

 


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