Negoçano e coisano

Foto: Blog do Anderson
Foto: Blog do Anderson

Jorge Maia

Há palavras que possuem o dom da universalidade, isto é, a possibilidade de significar múltiplas realidades verbais. É próprio da riqueza que a língua oferece. Embora de significado variado, no contexto o ouvinte entende o que o outro está dizendo, é o caso dos verbos ” negoçar e coisar”. Verbos da primeira conjugação que permeiam o nosso dia com o s seus significados variados. Transitivo direto, indireto, dificilmente intransitivo, porém sempre com alguma metamorfose. Leia mais uma crônica semanal do advogado, professor e escritor Jorge Maia.

Se uma mãe perguntar  a dois filhos que o estavam fazendo, as mães perguntam demais, um poderá responder que estava negoçano certa coisa, enquanto o outro responderá que estava coisano outra certa coisa e ela entenderá tudo. Lógico que algumas pessoas não entendem os verbos negoçar e coisar, mas isso é próprio das pessoas impacientes e exigentes que querem uma palavra para cada significado.

Outro dia atendi uma pessoa que relatava o seu problema e usava ambos os verbos, e usava com tanta abundância que me perdi no assunto e me sentia obrigado a perguntar o que significava negoçar e coisar em cada frase, não era possível adivinhar cada um dos significados, dado a profusão com ela usava aqueles verbos. Dizia ela: depois que eu negocei tudo, ainda tive coisar as coisas.

É surpreendente como as palavras, em especial verbos, podem esclarecer ou complicar o mundo, facilitar ou piorar o diálogo, mas sobre tudo podem transformar o mundo em algo doce ou azedo, principalmente quando quem diz não sabe o que diz, ou que ouve não sabe decifrar o significado do que ouviu. Bem às vezes é melhor não entender que alguém negoçou a coisa e assim podemos ser felizes.

Imagine Deus em sua imensa sabedoria dizendo: vou coisar o mundo, p’ra começar vou negoçar a luz. Lógico que todos entenderiam pois a luz está aí, embora o mundo não esteja nem aí para nada, pois ao que parece o mundo quer é coisar, aliás sempre usado no gerúndio e sem ndo no final.

Fico imaginando um diálogo entre marido e mulher, em que ambos os verbos são usados com frequência, quando um deles diz: amor vamos negoçar? Enquanto o outro responde: só depois de coisar. E eles entendem do que se trata. 030515


Os comentários estão fechados.