A delação e o corredor polonês

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário

Você vai escrever um assunto e ai aparece outro que o supera. Nesta era de tantas informações cruzando nossos céus, o jornalismo está sempre desatualizado. Dos Estados Unidos, a presidente Dilma fala da delação premiada como se o Brasil estivesse em plena ditadura militar. Lembrando o seu tempo, ela diz “estive presa na ditadura e sei o que é. A ditadura fazia isso com as pessoas presas…” Primeiro, o instrumento da delação premiada para facilitar a denúncia dos corruptos foi sancionada por ela. Segundo, a impressão que se tem é que os presos da Operação Lava Jato estão sendo barbaramente torturados e alguns resolveram delatar porque não suportaram os choques elétricos e os paus-de-arara. Leia mais.

 Ora, ela declarou que sabe como é isso, pois foi forçada a ser delatora, mas não fez para proteger seus presos de outras torturas. Se tortura física está ocorrendo dentro da Polícia Federal é caso gravíssimo de denúncia junto aos órgãos nacionais e internacionais dos direitos humanos.

  Dona Dilma confundiu, talvez intencional, presos políticos do regime ditatorial que defendiam a liberdade com presos acusados de formação de cartéis para subtrair dinheiro do Estado. Mistura alhos com bugalhos. Ideologia política de libertação com ladroagem.

  Além do mais, pelo que sabemos do esquema vigente de delação, o delator que mentir perde direito na redução da pena. Então, por qual motivo ele mentiria? Sei que estamos longe de uma democracia ideal, mas não sabia que estava vivendo em plena ditadura dos generais. Para desviar o foco, ela comparou o delator a Joaquim Silvério dos Reis que traiu os inconfidentes mineiros que lutaram pela emancipação do Brasil. É até uma heresia.

  A presidente acha também que tudo não passa de uma trama política para estraçalhar com o PT e o seu governo. Existem até os que agem assim, mas não se pode dizer que a Operação Lava Jato é uma mentira, como afirmou Lula com relação ao mensalão.

   Acredito que as “doações” coercitivas para as campanhas políticas foram depois legalizadas e oficializadas no Tribunal Eleitoral. A questão está nos métodos de pressão como elas foram obtidas. Aí fica difícil provar a estratégia. Ademais, a sujeira é generalizada entre todos os partidos.

  Mudando de pau pra cassete, o assalariado brasileiro, endividado e obrigado a reduzir o gasto com sua feira no supermercado, está levando pauladas no corredor polonês dos índices negativos da economia. Está se virando num malabarista e contorcionista de circo.

  Mas, por incrível que pareça, em meio a esse bombardeio, a mídia local de Vitória da Conquista alardeia aumentos de mais de 50% nas vendas do comércio em todos os segmentos. A imagem que passa é que aqui é um oásis nesse deserto de depressão. É otimismo para dar e esbanjar!

  Segundo dados do IBGE, a inflação no país nos últimos 12 meses atingiu a cifra de 8,47%, podendo chegar até o final do ano a 9%, mas deve alcançar os dois dígitos. A renda real do trabalhador caiu 6,5% em maio último em relação ao mesmo mês de 2014. Em abril deste ano era de 5%.

  Na conta do desemprego, o índice cravou 6,7% em maio contra 6,4% em abril. Em maio de 2014 o número de desempregados se situou em 4,9%. Na Região Metropolitana de Salvador a coisa é bem pior. Em maio o índice foi de 11,3% contra 9,2% do mesmo período do ano passado. Pelos estudos da Sei/Dieese, a taxa é de 18,2% e o PIB decresceu 1%.

  Diante desse quadro desolador, o comércio varejista da Bahia sofreu uma queda em torno de 5% no primeiro semestre. Não se tem dados exatos de Conquista, mas se propaga por aí nas datas festivas que as vendas no varejo aumentaram.

  Não estamos ainda nem no meio do caminho. Vem coisa pior por aí, pois a Receita Federal que recolheu 91,5 bilhões de reais em maio registrou uma queda de 4,03% nos impostos em relação ao mesmo mês de 2014. De janeiro a maio o montante foi de 510 bilhões, redução de 2,95%. Falam num PIB de 1,1% menor, mas pode baixar para 2%.

  O superávit primário de janeiro a maio deste ano foi o menor dos últimos 17 anos. O Tesouro acumulou apenas 6,6 bilhões de reais (menos 67,5%) para pagar a dívida pública de trilhões. Por outro lado, a dívida externa do país supera as reservas internacionais, o que só aconteceu em 2007. A projeção para as reservas neste ano é de 367 bilhões de dólares contra uma dívida de 368 bilhões.

    O governo pede aperto, mas a ONG Contas Abertas mostrou que o Palácio do Planalto comprou um afiador de facas elétricas por 9,3 mil reais e outros 9,1 mil na aquisição de 10 baldes de gelo. Cada balde custa mais de 900 reais, bem mais que recebe um trabalhador brasileiro por mês. Haja paciência continental para suportar tantos abusos!

 Na verdade, os cortes do governo têm sido feitos nos investimentos, de 37,25 de janeiro a maio. No seu plano para até 2019, a própria Petrobrás anunciou redução de cerca de 40% nos investimentos. As despesas governamentais com custeio caíram apenas 1,9%.

A economia está toda travada e os ajustes fiscais propostos pelo governo ainda não surtiram totalmente os efeitos indigestos no estômago do assalariado que vai continuar por muito tempo no corredor polonês levando pancada e bordoada.


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