De “Uma Conquista cassada” a “Andanças”

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário

Vem aí a obra “Andanças” do jornalista e escritor Jeremias Macário que há pouco tempo lançou “Uma Conquista Cassada” – Cerco e Fuzil na Cidade do Frio” que ainda pode ser encontrada nas principais livrarias e bancas de revistas de Vitória da Conquista.  De um trabalho que exigiu muita pesquisa sobre a ditadura militar em Conquista, na Bahia e no Brasil, dessa vez o autor resolveu partir para uma fase mais libertária e imaginativa, misturando ficção com a realidade. A previsão é que até o final deste ano, ou no início do outro, o livro já esteja à disposição do leitor. Leia na íntegra.

O autor fala de  “Andanças”

Diferente dos dois últimos lançamentos “A Imprensa e o Coronelismo” e “Uma Conquista Cassada”, a obra “Andanças” é uma mistura de ficção com a realidade da vida em prosa, crônicas, contos e versos, numa retomada do livro “Terra Rasgada”. Pode ser lido do início, do meio ou a partir do fim.

Como já é uma sina em toda linguagem artística haver vestígios de DNA do autor, não sendo necessário ser bom detetive nem usar lupa para perceber isso em suas digitais, “Andanças” também tem uma pegada autobiográfica, além de um recheio de pesquisas em diversos temas abordados, como “1964, o Ano que nos Separou”, “As Tiradas Tiranas da Ditadura” e “Nas Brenhas do Mundo”.

Por abrigar uma variedade de assuntos, fatos reais e causos independentes, o livro, que considero dois em um (um brinde ao leitor), pode ser degustado de trás para frente, de qualquer ponto, reta ou curva sem essa de sequência linear.  Pode começar por “Andanças” ou “Na Estrada”, tanto faz. Vai depender do interesse e da viagem de cada um pela atração, ou identificação com o título da história e das estórias.

Posso dizer que abrir em qualquer página e começar a ler vai ser prazeroso numa viagem, num momento de relaxamento da mente, numa fila, no sanitário, se quiser, ou quando se espera pacientemente ser atendido num escritório ou consultório médico. É um bom calmante, sem contra indicações, para passar a raiva e desobstruir as veias entupidas pelo estresse do dia-a-dia.

O livro não fala apenas do Nordeste árido, do homem do campo, da sequidão, do retirante da seca, da coivara e do jeito matuto catingueiro, mas também de amor, de ódio, raiva, morte, tempo, saudade, mulheres, erotismo (Desejos Atados – erótico divino), incertezas, consumismo urbano desumano, fingimento e ainda tece duras críticas à nossa degradante política nacional. Sobrou também espaço para a cultura da corrupção, do calote, da gatunagem, do levar vantagem em tudo e dos ratos que infestam nossos lares e levam nosso queijo.

Nos versos rolam a imaginação, o fingimento, o olho visível no invisível, a imagem escondida, o foco no real e no irreal, a dúvida e o mistério como sinais característicos do poeta, embora não seja um deles como bem pode confirmar a crítica literária. Não sou caçador de títulos, nem tampouco ligo para nomeações e denominações. Sou apenas mais um que tenta escrever emoções e sentimentos com a razão e o coração. Sou apenas mais um imitador da vida

Apenas faço versos de rimas e estrofes livres para falar do social, da coisa política mal resolvida, da politicagem, dos gatos, ratos, das baratas, do regional, da nossa aldeia dividida pelo individualismo, do sertão nordestino e da angústia do próprio poeta a quem presto minha homenagem.

“Andanças” não segue regras acadêmicas e literárias. Nasceu da veia jornalística e tem o tempero do realismo e do emocional imaginativo. É só o viajar, sem roteiro e manual, sem mapas padronizados, sem estilos e gêneros, sem formas didáticas e teóricas.

Conceitos politicamente corretos cheiram com patrulhamento de ideias, tropa perfilada em linha e violam o livre pensar, o livre escrever e o livre expressar, sem dores e gemidos. Simbolista, impressionista, expressionista, concretista, barroco, rococó, renascentista, parnasiano ou modernista não fazem diferença quando se fala o que sente. Não sou teórico para ficar preso a normas.

A única coisa que posso garantir é que se trata de mais uma obra sem pretensões didáticas e sem firulas. É mais outra homenagem aos meus inesquecíveis pais que, apesar de analfabetos, fizeram questão, com muitos sacrifícios e dor, que eu trilhasse os caminhos das letras e do conhecimento, e não o da enxada e do machado.

É uma obra que tem o sopro divino de Alá e de Jeová, dos deuses do Olimpo e de todos os orixás, como de Oxóssi, o caçador das florestas e arqueiro do arco e da flecha; de Xangó, mestre do fogo, do machado e atirador de pedras; de Ogum, senhor temperamental das guerras, do fogo e das ferramentas; de Iansã, rainha dos ventos e das tempestades; de Exu, mensageiro dos orixás que come de tudo; de Oxalá, filho de Olorum e pai dos homens e de todos os demais espíritos que já estão na outra margem do rio.


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