Jeremias Macário: As crianças de Monte Santo

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário

Poucos lembram, mas por volta de 2011/12, a cidade de Monte Santo, na Bahia, foi alvo de repercussão nacional na mídia envolvendo um juiz e famílias de São Paulo que adotaram cinco crianças pobres filhos de Silvana Mota da Silva. Casais foram acusados de tráfico e de aliciarem pais a doarem seus filhos com a conivência de um magistrado. Leia na íntegra.

  Foi o bastante para a imprensa cair de pau, enveredada pelas trapalhadas do judiciário (caso Escola de Base-SP). No caso específico, basta haver uma adoção para os veículos de comunicação começarem a enxergar crime em tudo, sem investigar mais a fundo o processo. De acusados de maus-tratos, a mãe e o pai das crianças foram tratados como coitadinhos inocentes como se seus filhos tivessem sido arrancados à força do seu lar.

  Passados três ou quatro anos as coisas começam a se esclarecer. Duas das cinco crianças vítimas de suposto tráfico de pessoas foram devolvidas à família adotiva pela própria mãe biológica Silvana Silva que, na época, foi induzida e influenciada por uma ONG para denunciar a decisão do juiz. Fizeram um teatro com Silvana indo para Indaiatuba (São Paulo) toda arrumada para buscar os filhos.

  De acordo com o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan, a transferência de guarda, neste ano, foi feita de forma consensual, e a própria Silvana reconheceu que não tem condições de cuidar dos filhos. “Eu não posso dar o que meus filhos precisam. Se eu soubesse que meus filhos estavam na vida que estavam, eu não tinha pegado meus filhos para cá, não. Me arrependo e muito. Se eu soubesse, voltava tudo atrás”. Prova de que foi enganada e entrou na onda da mídia.

  Sobre as outras três crianças, a notícia é que o pai Gerôncio Brito de Souza esteja com elas, em Camaçari, na Bahia, mas existe informação que estão com a mãe porque o pai é alcoólatra. A ex-advogada do caso Lenora Panzetti diz que as crianças sempre pedem para voltar para os pais adotivos.

   Os casais que foram acusados de tráfico de pessoas quando o fato foi divulgado por toda imprensa, foram inocentados na Comissão Parlamentar de Inquérito que tratou do tema no Congresso Nacional. Quando as crianças foram retiradas de São Paulo, o Cedeca chegou a ajudar Silvana a criar os filhos e arranjou até um emprego para Gerôncio, mas a mãe preferiu sair de Camaçari.

  O processo, na época, foi julgado pelo juiz Luis Roberto Cappio Guedes Pereira, que apontou Vitor Manoel Sabino Xavier Bizerra como participante da suposta quadrilha de tráfico no sertão. Várias sentenças foram deferidas e anuladas.

  Neste ano, desembargadores da 2ª Câmara Civil do tribunal de Justiça da Bahia determinaram, por unanimidade, a anulação da decisão que havia determinado a devolução das crianças à família biológica. Nesse caso, os pais adotivos ficam livres para entrar com novo pedido de adoção.

  Imagine os transtornos psicológicos e o sofrimento dessas crianças pra lá e pra cá porque a mídia com sua ânsia de angariar espaços e audiência se arvorou ser defensora dos pequenos e “fazer justiça”. Qualquer adoção já aponta logo que foi tráfico. Acontece muito disso também na “indústria do racismo”.


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