Causos de Advogado: Tudo que sobe, desce ou cai.

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Gustavo de Magalhães | Advogado | gustavodemagalhaes@hotmail.com

Admiro-me muito como aquele trambolho com asas levanta do chão, passa horas com um monte de gente dentro, e corta os ares de um lado para outro. Se ele levanta do chão, já é meio caminho andado para cair, porque é lei da física! Há alguns anos, eu poderia afirmar que se caísse um avião comigo dentro, seria minha inteira responsabilidade, e não tenho duvidas nem estou exagerando, porque era o que se via estampado nos rostos dos demais passageiros e da tripulação. Leia na íntegra mais um crônica de Gustavo de Magalhães.

Digo sempre que, e os que me conhecem podem confirmar isso, uma teoria de que nos gordinhos temos a missão sagrada de evangelizar o mundo. Basta ver quando entra um gordo num busão e os passageiros já sentados ao lado de poltronas vazias, começam a rezar e orar, pedir aos santos, aos protetores, aos espíritos mais desenvolvidos e a Deus para que não deixe o bolinha sentar ao seu lado. E quando isso ocorre, o magro fica gordo, e o gordo murcha. O primeiro pensa: “Ahhhh é? Vai sentar aqui do lado? Pois então vou garantir meu espaço”! E abrem as pernas o máximo permitido às calças e os braços e cotovelos, nos roubando aquele apoio de braço (que no caso do gordinho serve como equipamento de segurança, de tão apertado nos prende a cadeira e nunca mais sairemos!). O segundo murcha, encolhe, emagrece imediatamente (na imaginação), e passa a viagem toda com as pernas dormentes com vergonha de incomodar o passageiro inflado.

Agora o pior momento: acomodar-se na poltrona do avião. Após a via crucis acima declinada, o fofíssimo já entalado na micro poltrona do pássaro de ferro, morrendo de vergonha pede a aeromoça um extensor de cinto de segurança. Algo que só os gordos entenderão. Um complemento para o cinto que não fecha em que pese no máximo expandido.

A cidadã com aquele sorriso sarcástico, sínica, vai até a frente do avião e volta com aquele objeto pendurado exibindo-o a todos e causando curiosidade para saber de quem será atravessando o corredor da aeronave como se a dizer“atenção todos, aquele gordo ali pode derrubar o avião”!

E o banheiro a aeronave? Quem planeja um banheiro de avião é magro, maquiavélico e piadista! Entra um gordinho, já morrendo de medo do voo, enfrentou a maldição do extensor, o sorriso maroto da aeromoça e ainda a levantada em pleno movimento e agora entrar no banheirinho.

Naquele dia em especial, no meu lado estava aquele deputado de Salvador não menos corpulento, e tive a absoluta impressão de que o avião voava de lado, particularmente o que nos dois estávamos.

Levanto-me e passo por ele, espremido e amassado, e já no corredor, com a perna dormente, formigando e mancado com aquela sensação da falta de circulação, pretendo entrar no WC.

Uma pequena turbulência me arremessa para dentro do cubículo e com isso me seguro na porta e a tranco de forma a emperrar. Feito o que tinha de ser feito, virar era difícil, então tento abrir a porta e vejo que nada e ruim que não possa piorar. Com o solavanco a porta passou do trilho, e estava travado.

Três batidinhas de pedido de socorro. Nada. “Oi… alguém empurra ai pra destravar”. Sem efeito prático. De meu sepulcro somente ouvia o bla bla bla das aeromoças, e nada de me ouvirem; eu já nervoso e suando, claustrofóbico começo a espancar a porta, vingando-me de todo o vexame do dia. Somente aí fui notado. “Senhor, precisa de ajuda?”. Pensei e não falei, “não, tenho essa mania de me prender no banheiro, me deixem aqui até aterrissar”. Vendo que já não respondia, por conta da timidez da situação, a aerovelha (como dizia Clara, minha linda filha), chama um colega, que atravessa o corredor e já aproveitando o ritmo da corrida, se lança porta à dentro, arrobando a mesma e me espremendo mais ainda no recinto.

Saio do banheiro, e noto que toda a aeronave e ate o piloto La na cabine está virada para trás, vendo o desfecho e quem era que estava preso no banheiro. Noto aquela expressão que em resumo significa “ahhhh só podia ser um gordo”.

Volto a me acomodar no meu assento, encolhendo a cada passo, murchando, sento ao lado de meu parceiro também extra fofo, e a minha posição alpha, aquela de meditação que você some, fica invisível desaparece.

No final dessa semana vou para a Brasília, a trabalho, e já que vou ao Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, quem sabe eu peça, implore aos ministros a edição de uma súmula que determine que as empresas de aviação serão terminantemente proibidas de contratar projetistas magros e piadistas? E prometo, não vou ao banheiro em pleno voo. ([email protected], whatsapp 7799198-2859.)


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