Jorge Maia: O ateu caridoso

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jorge Maia | Professor e Advogado | [email protected]

Eu era menino, e não faz muito tempo, mas realmente muito menino, e não sei como pude compreender aquela história, gravá-la na memória e relembrar agora depois de tantos anos. Eu era um intruso no meio daqueles adultos e ouvi a narrativa contada por Zoraide, minha prima. O fato é engraçado, na verdade tragicômico, como verão os meus sete leitores. Aliás, o professor Darci, da UESB, informou-se que é o meio oitavo leitor, vocês se lembram: meus primeiros seis leitores eram os meus três filhos e mais três amigos, os que liam por obrigação, depois o professor Cássio, que se juntou ao grupo, agora Darci, um aumento de mais de vinte e cinco por cento. É um bom ritmo. Leia na íntegra.

Mas, vamos ao caso. O Dr., a quem chamarei de A, era obstetra, a quem o povo chamava de médico parteiro. Era um homem rico pelo exercício da profissão, naquela Vit. da Conquista que ainda possui um bom inverno. Costumava fazer partos sem nada cobrar, quando a família era pobre, nunca se recusando a atender.

O Dr. A, porém tinha uma característica pouco comum para aquela época: era ateu. Era tão ateu que isso beirava os ares da religiosidade, tal era a sua convicção na inexistência do sagrado e do místico, era uma perfeita contradição com a sua prática da caridade.

Era inverno, um daqueles que fazia nascer limo nos passeios, garoar três meses e jipe atolar nas estradas das roças. Em noite daquelas alguém procurou o Dr. A, que fazia o seu jogo de cartas de que tanto gostava. O homem o localizou e pediu para acudir a sua mulher que estava em trabalho de parto. Não hesitou, pegou a sua maleta e acompanhou o homem até a sua modesta residência para atender a parturiente.

Ao chegar à porta do quarto, parou, pois a mulher em dores de parto clamava: Valei-me Nossa Senhora do Parto, Valei-me meu Jesus, velei-me meu Deus! Dr. A permaneceu parado junto à porta. A mulher em seus gritos de dores clamava por todos os santos, mas olhava para o Dr. A, quando de repente gritou, valei-me Dr. A, que entrou e disse: não entrei antes por que você chamava algumas pessoas e eu não queria atrapalhar o trabalho de ninguém. Agora que você me chamou vou fazer o seu parto. Bom houve um final feliz.

Dr. A era ateu, mas nunca se recusou a atender nenhum pobre, a qualquer hora do dia ou da noite. Seu trabalho era típico de um cristão. Penso que nós, cristãos, precisamos nos espelhar no exemplo daquele ateu, que generoso, sempre soube servir. 020416


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