Jeremias Macário: Por uma política cultural própria

Foto: BLOG DO ANDERSON
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Jeremias Macário | Jornalista | [email protected]

Antes de começar a falar sobre uma política cultural conquistense, daria um prêmio de um milhão de dólares para quem descobrir na propaganda eleitoral onde está o terminal de passageiros do novo aeroporto de Vitória da Conquista, cujo processo de licitação está completando um ano e quatro meses para ser divulgado. Daria dois milhões para quem acertar o mês e o ano de conclusão da barragem de abastecimento de água da cidade e quando a educação será prioridade de qualidade. Quando vai terminar a reforma do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, fechado há dois anos? Fiquei envergonhado quando uma pessoa em Juazeiro me perguntou como estava o nosso centro em termos de atividades artísticas. >>>>>>

 Bem, deixando de lado estas questões sempre pendentes e de grande importância para o município e região, atrevo-me a tratar da nossa cultura que continua sendo capenga e um objeto decorativo dos governantes, mais para enfeitar a mesa do que para incentivar, preservar tradições e disseminar conhecimento. Não me refiro apenas às festas juninas e natalícias, mas da criação de uma política cultural própria.

  Vou procurar ser objetivo e ir direto ao assunto. Como em Salvador e outros municípios pelo Brasil, Conquista precisa ter também sua própria lei de incentivo à cultura que contemple todas as linguagens artísticas, como a música, o teatro, a dança, a literatura, as artes plásticas e as expressões populares diversas. O que temos hoje é muito pouco.

   Falo de uma política planejada com projetos estruturantes que disponibilizem recursos orçamentários próprios destinados à realização dos nossos eventos culturais, tão carentes em Conquista, não dependendo tão somente das verbas estaduais e federais. Junto com a Câmara, Salvador, por exemplo, conta com a Lei de Incentivo à Cultura.

  Não sou especialista em legislação, mas nos moldes do Fazcultura, da Lei Rouanet, Fundação Pedro Calmon e Gregório de Mattos, poderíamos ter nosso fundo e nossos próprios instrumentos, trabalhando em parceria com o setor privado no levantamento de recursos suplementares, tornando o acesso dos fazedores e produtores locais da cultura bem menos burocrático na seleção de suas obras.

  Por que numa cidade como Conquista, a terceira maior do interior da Bahia, polo regional de mais de mais de 80 municípios em seu entorno, com universidades e faculdades não existe uma feira literária como a Flip, em Paraty, e a Flic de Cachoeira? Não temos concursos de poemas, contos, romances e outras expressões culturais visando estimular e divulgar trabalhos de novos talentos?

 Numa cidade que não é litorânea, sem muita opção de lazer e entretenimento, Conquista é carente de eventos culturais nos finais de semana. A não ser algumas realizações pontuais, não existe uma programação cultural mais intensa que atraia as crianças, os jovens e adultos à prática e à convivência das artes. Não me refiro à cultura de massa.

  Aqui, por exemplo, têm passado despercebidas as datas comemorativas ao livro, à poesia, à fotografia e a outras linguagens artísticas. Por que não recriar aqui os verdadeiros festivais da música popular das décadas de 60 e 70?  Pelo seu tamanho e pela sua rica história, temos poucos museus em Conquista.

  Só para citar um exemplo, certa feita comentei sobre a viabilidade de criação do museu da imprensa do sudoeste onde seria memorizada toda trajetória dos jornais que aqui circularam. Hoje temos exemplares, equipamentos gráficos e redacionais em mãos de particulares que poderiam fazer parte deste museu.

  Temos uma universidade estadual, uma federal e um curso de Comunicação que poderiam contribuir e apoiar na produção de conhecimento para a comunidade a que estão inseridos, tudo feito em parceria com estas instituições de ensino e empresas locais.

   Mesmo com o advento da internet e das redes sociais ainda existe espaço para um jornal diário ou uma revista de cunho cultural. Neste setor, a cidade de Conquista, que poderia ser porta receptora para o turismo da Chapada Diamantina, não tem um roteiro de bares, restaurantes e locais atrativos para visitantes.

  Tem muito por fazer em Vitória da Conquista além das festas de São João, Natal no final de ano e do festival de massa que está mais para shows musicais de bandas e cantores. O povo de um modo geral tem sede de cultura e gosta de apreciar coisa boa e de qualidade. Para tanto, precisamos de uma política cultural própria.


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