Jorge Maia: A casa é de papel

Foto: BLOG DO ANDERSON

A série espanhola é uma diversão. Uma obra para entretenimento e que justifica o seu sucesso. O final de cada episódio eleva a tensão e deixa o expectador apreensivo, e não se contendo quer assistir ao próximo. Tudo muito natural e feito sob a marca da diversão em que a saída da situação criada é uma mistura de emoção e surpresa. A escolha dos membros da quadrilha pelo “professor” relembra o estilo Tarantino em “Cães de aluguel”, o que me parece ser uma homenagem ao diretor norte americano. A criatividade quanto ao objeto do crime é que se trata de uma novidade: primeiro a casa da moeda de Espanha, depois, o assalto ao depósito do banco central da Espanha, onde estão guardadas e empilhados milhares de barras de ouro, reserva de capital daquele pais. >>>>>

Não é uma obra de arte no sentido clássico da expressão de levantar grandes questionamentos de ordem social e político, mas apenas tem caráter de entretenimento, o que não tira o seu valor como obra cinematográfica. Cabe observar um pequeno lance introduzido pelo autor/roteirista; uma música que relembra a luta contra o fascismo ( Bella Ciau) acrescido de pequena dose de anarquismo. Nada disso retira a finalidade da diversão a que se destina a série, mas não podemos ignorar aquelas nuances de confronto entre o assalto, o crime, a incapacidade de reação do Estado, a entrega do caso exclusivamente à polícia, ignorando a simpatia da população pelos assaltantes, na película e entre os expectadores. É que o Estado do século XXI não se modernizou, não cuida da população e no estertores da sua agonia cobra da polícia a solução para os seus próprios males.

No mundo moderno, alguns Estados cumprem fielmente sistema de freios e contrapesos, dos três poderes de Montesquieu, os três podres: O Estado, as milícias e o tráfico. No meio, o quadro patético da população e da Polícia, perdidas no meio desses desastres, que apavoradas, não sabem como será o próximo episódio. Apenas têm medo.

Há uma crescente antipatia, em todo o mundo, contra a figura do Estado. A insatisfação é geral; a fome, o desemprego, a violência, a falta de liberdade, a questão da saúde e da educação são revelações bastantes graves. O estado não tem cumprido o seu papel de produtor de bem estar em favor da população.

Não sei o temos pela frente, ou seja, como será o episódio final. Penso que a História ainda não chegou ao fim. A História não acabou e há um caldo político social em efervescência no mundo inteiro. A insatisfação com o papel do Estado tem gerado descontentamento permanente em diversas camadas da sociedade, exceção de uma minoria que faz de conta que não sabe o que está acontecendo.

Os agentes estatais tem agido de forma equivocada. Parecem não entender os fatos e os custos sociais e políticos os quais podem sair bem caros. A continuar agindo com tal incompetência, o Estado provará o sabor da sua omissão. Será uma experiência amarga. Necessário compreender que a casa é de papel e por isso sujeita a tempestades ou incêndios destruidores. Vamos tentar um final feliz. VC.05082019


Uma Resposta para “Jorge Maia: A casa é de papel”

  1. Alberto

    Amigo Jorge. “Noves fora “ alguns deslizes da série, que bem frisou serve como diversionismo, a abordagem sócio-político é bem acentuada no sentido da atuação do Estado. A enquanto mantenedor das demandas dos seus dos cidadãos. Divirjo da sua colocação quanto a globalização dos Estados. Alguns ( vide países nórdicos) tem se pautado por tentar prover o bem estar social . Infelizmente os nossos rumos, enquanto sub desenvolvidos não estão nesta mesma ótica. Oremos para acharmos o caminho.

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