Herberson Sonkha: uma epístola ao vicariato da docência crítica do professor Paulo Pires

Foto: BLOG DO ANDERSON

* Por Herberson Sonkha

Caro professor Paulo Pires da província do Brasil.  Escrevo-lhe essa missiva do mundo de baixo para validar a escrita de sua cátedra ao tempo em que vos digo que sua historia e sua postura política nos representa. Sua abordagem dialoga com a nossa pauta e isso tem sido exercido aí na Província do Brasil pelo amigo professor com muita coragem e compromisso intelectual com nossas pautas em franco processo de desintegração.  Contudo, não poderia fazê-lo sem antes dizer ao amigo professor que sua cátedra tem sido muito insurrecta, pois ousa escrever coisas verdadeiras contra o império da bizarrice humana. Eu bem sei que escrever contra as hostes imbecis é uma tarefa que exige um conhecimento pedagógico voltado para desconstruir a coisificação dessa legião de fanáticos mumificados (ou brisados, como dizem nessas rodas virtuais). Confira a íntegra.

Mas, tem sido exitosa essa tática de aceleração de leitura (dinâmica?) para a (des)infantilização e tem obtido resultados surpreendentes, pelo menos aqui pelo mundo de baixo. Portanto, reconheço no amigo uma habilidade indispensável para combater essa pestilência desarranjada nas mídias sociais (aliás, em todos os espaços humanos) e isso requer uma mira pontual e certeira.

Às vezes fico imaginando as coisas aí na Província do Brasil, na qual o domínio norte-americano além de não permitir que avancemos socialmente, está apagando os vestígios da memória do povo de tudo que se refere às ações institucionais que iniciou o processo de remodelagem da vida socioeconômica e política do país entre os anos de 2002 ao ano de 2014.

O meu amigo que é cantor, compositor e intelectual uesbiano em sua área de conhecimento cientifico (ciências contábeis), publicou em sua mídia social (face book) certa vez que a musica é a expressão de uma alma que sempre tem algo profundo a dizer as pessoas sobre o tipo de sociedade que vivemos, sobretudo sobre suas mazelas no âmbito individual ou coletivo.

Se eu entendi bem, o notável musicista nos revela com sua analogia uma das genialidades quase indecifráveis da boa musica. Se considerarmos essa premissa como sendo razoável, torna-se quase indissociável a ideia de que se a alma está saudável a alma canta coisas profundas e liberadoras da opressão do mundo desalmado gritando uma saída honrosa do cotidiano, mas se está doente ela plange copiosamente gemidos inexprimíveis de sofreguidão.

Entendido ou não, confesso que gostei dessa definição porque acredito na riqueza do saber vocalizado pelo conhecimento empírico desse ser humano com pés no chão, cravado no cerne da sociedade contemporânea sem perder a criticidade de homem de ciência, o homo sapiens- sapiens. Mas, também exprime poeticamente o tipo de sociedade do anthropos porque vem das entranhas de um poeta cantador com raízes profundas na sensibilidade lírica inimaginável.
Que tipo de poética exprimiria adequadamente essa sociedade contraditória em que se vivenciam imbecilidades usadas para camuflar retrocessos de toda ordem, senão a do amigo? Essa poética do professor Paulo Pires me lembra em certa medida àquela poética satirizada por Ronald Golias interpretando na Praça o angustiado pacifico com seu bordão “Ô Cride, fala pra mãe…” que a banda de punk-rock dos nãos 80, Titãs eternizou em sua crítica mortífera ao sistema (Rede Globo e etc..) de idiotização e coisificação da espécie humana que leva o nome do aparelho eletrônico na letra “Televisão”.

Quando leio suas postagens vejo muito dessa agonia intelectual do professor comprometido com a docência emancipacionista no esbravejar dessa horda de imbecis e como se estivesse dizendo: “vê se me entende pelo menos uma vez, criatura!”. Sobretudo nessa conjuntura de revés, onde próspera o embrutecimento da desfaçatez política e a ignomínia institucional que degrada a vida humana em sociedade para favorecer economicamente a megalucratividade de rentistas, grupos de parasitas que vivem da extorsão de rendimentos das colônias.

Um mundo desenhado pelo professor e poeta Paulo Pires é um lugar triste e terrivelmente deprimente para o pensamento humano. O comportamento comezinho dessa gente do andar de cima é algo depreciativo a dignidade das pessoas, principalmente depois dos últimos acontecimentos no país que aos olhos do mundo, não passamos de imbecis que colocaram nas mãos de outros imbecis o destino de sua própria existência e de gerações futuras que passaram a ficar comprometidas.

Termino minha carta mandando um forte abraço daqui do mundo de baixo por intermédio do amigo professor para os resistentes que ousa enfrentar nas planícies da Província do Brasil, os fascistas e sua maldita kukluxklam. Na certeza de que o mundo aqui de baixo amplificara a resistência de sua cátedra revolucionária para poder enfrentar politicamente as idiossincrasias fascistas dessa turma de cima, aquelas elites do atraso que só pensa em lucro, orgia, prostituição, arroubos, tortura, perseguição e colonização.

Um forte abraço!
Vitória da Conquista, Bahia.
Inverno de 2019.


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