Edvaldo Paulo de Araújo: Acumulando

Foto: Divulgação

Edvaldo Paulo de Araújo

A história humana remonta a milhares e milhares de anos. Desde todos os tempos, o homem vem aprendendo, desaprendendo, apanhando, ao longo do tempo, por sua falta de consciência e seu espírito destrutivo e ainda muito brutal. Desde os tempos e tempos, que o homem adquiriu uma forma de autoproteção, a acumular alimentos, reservas, prevendo a escassez, dias difícieis, secas, doenças, imprevisibilidade dos tempos. Esse hábito foi-se tornando maior, foi ficando cada vez mais amplo e às vezes incontrolável. Leia a íntegra.

O que mais me chama por demais a atenção não é apenas o acúmulo de riquezas, bens materiais, mas um acúmulo íntimo de diferenças destrutíveis. Vejo famílias sendo destruídas por diferenças guardadas, raivas, ciúmes, malquerenças, tudo no acúmulo íntimo de cada pessoa.

Numa relação de amor, vejo casais, que vão acumulando diferenças, pequenos desgostos, palavras ditas em momentos difícieis, gestos mal interpretados, mas o pior é o seu acúmulo, é guardar esses sentimentos negativos como se fossem um bem precioso, que faz infelicidades, destrói relação, simplesmente porque guardou, ressentiu, não perdoou, não esclareceu e, quando o casal acorda , o que existe são duas pessoas; que com a derrota de um, o outro se sentiu vitorioso, como se disse “toma, coisa boa!”, num jargão popular. Isso é amor? O que fizeram do amor que existia? Deixou o acúmulo de diferenças se transformar em embate que fugiu de todo companheirismo que o amor faz existir.

Como sou estudioso da ciência da logoterapia (sentido da vida) cujo pai e criador é Mestre e Dr.Viktor Frankl, sempre me deparo, nas minhas amizades, com casos interessante, que para as pessoas intimamente são instransponíveis, imensos, quando, na realidade, com um olhar de consciência e conhecimento ampliado, vê-se como uma coisa simples. Lp´´´Desde que retire do estoque mental de acúmulo e resolva de uma vez por todas.

Uma moça amiga minha, em diversos diálogos comigo, senti o quando sua autoestima era tão baixa que a fazia infeliz, por não se sentir amada por ninguém, originado de um fato do seu passado. Em idade infantil, ainda pequena, sua mãe mandou-a morar com avó, que vivia na zona rural, velhinha e sozinha. Durante a sua infância em companhia da avó, passou por um episódio terrível, já com sete anos, de um estupro por um adulto. Isso foi terrível na sua vida, tendo desdobramentos de toda ordem. Anos depois, sua avó veio a falecer e a sua família a levou de volta pra casa. Em vez de ir para a casa dos pais, inicialmente, foi morar com uma irmã, depois de algum tempo foi morar com os país. Ao longo de muitos anos, permanece, dentro dela, a rejeição, a questão de por que sua família colocou para ela morar com a avó, por quê? por quê?.

Dentro do seu coração e do seu íntimo, nunca superou esse fato e é uma pessoa triste.

Solicitei dela que começaria a resolução  no dia em que enfrentasse a situação com sua mãe e seu pai, questionando isso, e colocando seu sentimento aos olhos deles, abrir seu coração, contar tudo o que passou, estar apta a ouvir os argumentos deles, depois tem que haver o perdão, por mais difícil que seja para seguir livre, deixando pra trás esse passado de traumas. O sofrimento é inevitável, quase sempre. Se for evitável, que faz sentido é remover sua causa, porque sofrimento desnecessário é masoquismo e não ato heroico. Por outro lado, mesmo se a pessoa não puder mudar a situação que causa sofrimento, pode escolher sua atitude. É inteligente não deixarmos quebrar a nós mesmo por causa de acontecimentos passados. Diz Espinoza  em sua ética: “Affectus, qui passio est, desinit esse passio, simulatque eius claram et distinctam formamus ideam” (“A emoção que é sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que dela formamos uma ideia clara e nítida”- Ética, quinta parte:” Do poder do espírito ou a liberdade humana”, sentença III).

Como diz o evangelho de Jesus, na carta de São Paulo aos coríntios, o amor é tudo, o amor é o que há de mais sublime, entre nós seres humanos. Amor é a única maneira de capacitar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena de essência última de outro ser humano sem amá-lo. Por seu amor a pessoa se torna capaz de ver os traços característicos e as feições essenciais do seu amado; mais ainda: ela vê o que está potencialmente contido nele, aquilo que ainda não está, mas deveria ser realizado. Além disso, através do seu amor, a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar essas potencialidades, conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria vir a ser. Aquele que ama faz com que essas potencialidades venham a se realizar. Quando amamos, não podemos , nem devemos, não é inteligente o acúmulo de diferenças, de diálogos sem término, sem pedir perdão, sem perdoar e, mais que tudo, ser livre no seu mais absoluto estado íntimo.

Todos os seres humanos dependem de um sentido da vida, para viver e buscar além do bem-estar íntimo, a sua tão sonhada felicidade. Não acumular diferenças negativas com ninguém, jamais! Para sermos felizes há uma série de condições, imensas para alguns e simples para outros.

Se quisermos manter a nossa liberdade, felicidade e alegria, temos que ter algumas condições básicas íntimas. Ser livre em tudo, sentir-se livre em tudo, ter o íntimo totalmente livre de doenças degenerativas geradas pelo acúmulo de diferenças, gerando ódios e malquerenças com nossos irmãos.

Numa sessão de grupo de casais, questionaram uma senhora se seu marido a fazia feliz. Prontamente ela responde: “não, não faz. Eu sou feliz”. Ao tomar conhecimento destas colocações, fiquei a pensar e meditar sobre essa questão. Eu sou feliz, por quê?

Porque me amo, me respeito, tenho a mais absoluta liberdade íntima, não guardo nenhuma diferença com ninguém, digo sempre com voz calma e pausada o que penso, não quero mudar ninguém, eu sou o que sou sem querer que as pessoas pensem como eu. E sigo buscando sempre o lado bom das coisas. Encaro o sofrimento, todas as vezes como algo que me faz fortalecer, não o busco e o evito, mas fatalidades busco em mim, através do agradecimento diário, força e superação, seguindo sempre em busca do melhor, da luz, do amor e da divindade do maior mestre, o Mestre Jesus.

Não cumule, não guarde diferenças, ódios, raivas, sentimentos negativos. Deixe o seu coração para amar, para ser feliz, para emoções verdadeiramente humanas e grandiosas. Acumule momentos de felicidades, a beleza dos encontros, as lembranças de lugares inesquecíveis, as viagens maravilhosas, pessoas lindas, felicidades emocionantes. É para isso que você tem sua mente e seu coração.

Precisamos urgente saber o que estamos fazendo, como estamos vivendo!

Para isso, podemos nos inspirar em seres humanos maravilhosos, dentre tantos, que merecem ser lembrados. Ouso citar:  Francisco de Assis, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Albert Schwitzer, o Dalai Lama, Papa João Paulo II, nossa amada Dulce dos Pobres, Divaldo Franco e tantos espíritos maravilhosos, nomes em que milhares de páginas não caberiam.

Não acumule dentro de ti, impregnado no teu espírito coisas negativas!

Guarde o teu coração, tua mente, teu corpo mental, tuas ações para o amor, de que tanto o Mestre dos Mestres, Jesus, falou.

Não se poupe nunca e jamais, para o amor e para amar! O mundo precisa disso e eu, como seu irmão, agradeço.


Os comentários estão fechados.