Eduardo Moraes: Do suplício ao amor

Foto: BLOG DO ANDERSON

Há um ditado popular que diz: “Devemos sempre esperar pelo melhor, mas estar preparado para o pior”. Em se tratando dos brasileiros, após todo o processo conturbado das últimas eleições presidenciais (2018), o país se dividiu, e democraticamente saiu vitoriosa das urnas a chapa menos preparada, que espalhou divisão e ódio entre as famílias. Presidente eleito e empossado, o país, mesmo conhecendo a trajetória política, belicista, misógina, homofóbica, xenófoba, belicosa, preconceituosa e miliciana do presidente eleito e dos seus familiares, esperançou em Deus, que tudo desse certo e que acontecesse o melhor para a nossa nação. Entretanto não se preparou para o pior, pois assim como no futebol, nem sempre a torcida e as orações levam o seu time à vitória. Leia a íntegra.

Vivemos um tempo de narrativas e práticas obscurantistas sejam na política ou nas relações sociais em várias partes do mundo. Para tentar entender um pouco do que se passa no Brasil, voltei a ler um clássico da literatura, Vigiar e Punir escrito no século passado pelo filósofo e historiador francês Michel Foucault, que nos ajuda compreender o que se passa hoje no país. O livro conta a história do suplício que eram impostos aos corpos dos criminosos condenados e as horrendas execuções em forca, roda, esquartejamento, decapitação, fogueira e outras formas inimagináveis de torturas. Organizado em quatro partes: “Suplício”, “Punição”, “Disciplina” e “Prisão”, poder e direito de punir. Não pretendo dissecar ou fazer um tratado sobre a obra do autor, mas pinçar pontos da passagem sobre o “Suplício” e disciplina claramente apropriada pelo atual presidente que já ainda em campanha, declarava publicamente do seu desejo em eliminar cerca de no mínimo 30.000 mil vidas de brasileiros e brasileiras, reparando assim de acordo com as suas convicções o que não fez a ditadura militar. Diferente de muitos, não falo mal e nem considero o presidente um energúmeno ou pusilânime. Ele age de forma pensada. Vejo em suas falas e ações um claro objetivo de conquistar mentes, almas e corações desesperançados. Desacreditando e desmanchando todas as instituições representativas que possam se opor ao seu desejo de governar de forma autoritária com o poder de vida ou de morte sobre os nossos corpos.

A história da humanidade tem sido uma história da violação de corpos. É assim que se controlam os desejos, sonhos de liberdade das pessoas, lhes negando uma renda, o que comer, um trabalho bem remunerado, lazer, moradia, acesso à saúde pública e educação de qualidade, como se ainda vivêssemos em uma sociedade servil. É o que Foucault chama de “economia política dos corpos” medida pela força, utilidade e submissão, do vigiar e punir. O governante escolhe os alvos de ataques microbianos ou de vírus, de como e quando lhe interessa definir pelo prolongamento ou encurtamento ou duração da vida dos trabalhadores, trabalhadoras, crianças, jovens, idosos e idosas. Até porque os corpos estão diretamente mergulhados no campo político das relações de poder. E essas decisões políticas têm alcance imediato sobre eles, os corpos. Observem que tudo o que testemunhamos acontecer no governo do presidente Bolsonaro, trata-se de ações cuidadosamente orquestradas. Antecederam as eleições as campanhas de fake news, o uso em vão do nome de Deus, a falta de um plano de governo para combater o desemprego, o fortalecimento da indústria, a reforma previdenciária, as privatizações, renúncia da nossa soberania, colocando a nação de joelhos diante dos EUA, o desmanche da pesquisa científica, o Ministério da Educação entregue a um ignorante, a secretaria da cultura a uma fanática, dentre outros tantos absurdos. Enquanto isso os seus adoradores, não admitem qualquer espécie de comentário ou crítica ao “mito”.

É como se estivéssemos tendo um pesadelo ou dentro de um filme de ficção , como verdadeiros zumbis, que não expressam qualquer sentimento de amor próprio ou empatia, mesmo que seja de forma sutil. Sabe-se que o poder produz em nossos corpos uma sensação de prazer, mas será que o poder também enlouquece? E se o louco do alto do seu suposto poder absoluto passa a ter como objetivo seguir o caminho de uma vingança pessoal contra o seu próprio povo, dos seus críticos e opositores, ratificando assim a sua força política? Na história da humanidade, em algum momento, os dominados extrapolam a cela do medo e põe fim a repressão e ao domínio dos seus corpos “disciplinados” pelo poder.

Independente de credo ou visão política, não podemos admitir em qualquer hipótese a banalização de tantas mortes de irmãos brasileiros, que já somam até aqui mais de 16 mil corpos sepultados após serem submetidos a uma suplica e punidos com a morte. Vivemos uma tragédia e não podemos continuar assistindo a tudo isso de forma inerte, vendo corpos amontoados em necrotérios como monturo. O presidente demonstra não ter qualquer apreço especialmente pelos mais pobres. Com esse comportamento insano, repleto de ódio e fechado ao diálogo põe em cheque a nossa frágil democracia. Felizmente parece surgir um fiapo de esperança, quando se percebe o povo ensaiar uma reação ao egocêntrico do presidente pondo fim a esse governo desumano. E que assuma o poder aqueles (as) que apresentem a nação como programa de governo, fazer as transformações políticas, sociais e econômicas pela via do respeito, integridade dos corpos e amor à vida em todos os sentidos e dimensões.

Antônio Eduardo Santos Moraes,

Historiador e Contador

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do BLOG DO ANDERSON


Uma Resposta para “Eduardo Moraes: Do suplício ao amor”

  1. Marcos Antônio

    Votei e votaria novamente para o Presidente que aí está , a outra opção seria a continuidade da corrupção , e maquiar servicos . Um assistencialismo barato , toma lá , da cá , em toda epidemia ( exceto governador de Minas Gerais ) buscou diálogo , maioria usa epidemia para para se justificar , ninguém dar ideia , sugestões , só crítica, a Verdadeira Democracia é se expressar e não falar , o que o outro deseja , o PT , PC DO B , não fez bem para o país , tudo que tocou , destruiu , ainda fico sentido , RUY Costa fazer parte do PT ( bom gestor ) do não sei se trabalha por dinâmica , ou por ter ACM NETO , na sombra dele. “ Vamos todos nós apegar somente a Deus , este não falha , nem nos decepciona , jamais ) ** Oratória bonita não coloca mesa

Os comentários estão fechados.