Wal Cordeiro: O colecionador de lágrimas

Foto: BLOG DO ANDERSON

Wal Cordeiro | @wal_cordeiro

Ver uma criança chorando, tem-se a idéia de que ela está assustada; sentindo dor, ou, precisa de algo muito importante, segundo a sua óptica, para acalentá-la. O choro, estridente, de uma criança confronta qualquer coração envernizado e o leva ao fundo do poço existencial. Observar as lágrimas, que rolam pelo rosto, de uma mãe aflita, dá para perceber que o seu coração está inquieto e o sofrimento que a atormenta é maior do que a sua consternação. >>>>>

Sentir a expressão nos olhos de um pai que não resiste à comiseração do choro e desaba em tenras lágrimas. É ter a certeza de que algo muito grave aconteceu com o velho amigo, seu único filho.

Presenciar as lágrimas pontiagudas na face do idoso que não tem forças para gritar, e sucumbido pela tristeza agonizante que o remete para o passado de abandono e dor. É está convicto de que o desgosto é maior do que à última esperança de ver os filhos que o abdicaram numa casa de repouso há incontáveis anos.

Assistir a cena, cinzenta, do tio que leva o único sobrinho nos braços, gritando e chorando, em meio aos escombros de uma velha construção iraquiana, destruída pelos últimos bombardeios aéreos de uma guerra que não tem dono. É concluir que a guerra não tem gente e sim heróis que se lançam para salvar os poucos e indefesos mártires que não pediram para lutar, mas foram sorteados para morrer.

Olhar para a esquelética sudanesa, ao lado do cadáver ressequido do seu único filho que acaba de fenecer, que vive no meio do lixo e dispõe apenas de uma lágrima e a metade apodrecida de uma laranja, por causa da batalha para a sobrevivência que gera a fome e sede, que a acompanha por toda a sua vida. É detectar que a história não vale nada e os valores foram apodrentados pelos detentores do ilusório poder.

Acompanhar, pelas vielas mal cheirosas e escuras, a imagem da seringa reutilizada que penetra na dilatada veia de um dependente que chora pela última overdose de um alucinógeno. É reconhecer que não temos poder para mudar ninguém e a lágrima social vai continuar rolando pela consciência sinistra de homens e mulheres que só pensam em si.

Se encontrar com a entristecida e indesejável viúva, chorando e lamentando, que acabara de enterrar seu inseparável marido, vítima de uma bala perdida nas margens de uma favela carioca. É a prova de que o choro não tem fim e a lágrima da morte é maior do que a lágrima da vida que provoca momentânea alegria na hora da vitória e depois desaparece.

Se deparar com o semblante funesto do inconsolável e febril rapazote, que estivera desolado no momento após o trágico acidente provocado por ele mesmo, devido ao excesso de velocidade e álcool. É entender que o limite de cada um é a sua dor e o parâmetro para a vida é a morte. O espelho do sofrimento é o rosto ensopado pelas lágrimas noturnas de alguém que não tem forças para lutar e perdeu o sentido, e a esperança de poder conquistar o inconquistável, de alcançar o inalcançável, de obter o insaciável.

E a outra face da lágrima? Por que lágrima está ligada a dor? E a lágrima de alegria que acende a realização e a satisfação? Qual a gota mais preciosa? Por que chorar? Qual o sentido da lágrima? Para aonde ela vai?

Ao observarmos, com a lupa da introspecção, as palavras divinas, contidas no manual dos manuais, sobre o verdadeiro sentido e destino final das lágrimas, entendemos que o maior tesouro na vida de alguém não é o que se conquista e sim o que as lágrimas podem produzir na alma de cada um. Não é ter e achar que pode, e sim a falta de poder que nos leva a buscar a resposta certa para a lágrima inesperada. O refúgio em Deus, a esperança em Jesus e o consolo através do Espírito Santo. Aliás, Espírito Santo é o maior especialista em lágrimas. Ele próprio elaborou as substâncias e a mistura com o sódio que compõem a sua essência.

As lágrimas, universal, misturadas com sangue, derramadas por Jesus na Cruz do Calvário, foram enxugadas pelo Espírito Santo e o lenço que Ele usou foi guardado por toda a eternidade na gaveta do altíssimo, mesmo antes do mundo existir. A lágrima é jóia delicadíssima que ninguém pode exterminar. A lágrima jamais será um elemento execrado, nunca será abolida da terra. Sempre existirá. A lágrima é o catedrático de matemática que poucos almejam ter e muitos irão experimentá-la e extrair inúmeras lições, somas e resultados a médio e longo prazo de suas estadas no planeta terra.

O Espírito santo é o mentor da lágrima e a trindade altíssima foi a primeira pessoa a experimentar o sabor acrimonioso dela. A primeira lágrima a rolar pelo rosto de alguém, ou, a primeira pessoa a receber em seu semblante o ardor quente e desconfortante de uma lágrima hostil, foi Deus. Foi o criador da lágrima e do universo que inaugurou o escorrer da gota dela em sua face padecida, quando no jardim do Éden o homem formado para caminhar com Deus, para ter comunhão com Ele, resolveu andar sozinho. Decidiu ser independente. Gritou para todos ouvirem que não precisava mais de Deus. Abriu a porta para que o pecado entrasse no coração de todos.

A lágrima foi inesperada, a dor foi indesejada e a separação foi comprovada. A lágrima passou a existir em todas e quaisquer conjunturas da vida. Tornou-se amiga ambígua dos seres que se chamam humanos.

O Espírito Santo criou a lágrima, Deus a inaugurou e o homem a recebeu para nunca mais deixá-la. A lágrima chegou e com ela os seus ensinamentos.

Desde os primórdios da raça humana, Ele, o Espírito Santo resolveu confeccionar uma colossal caixa de cristal para armazenar e colecionar todas as lágrimas derramadas, no desenrolar da história, pela a criação de Deus, o homem.

Lágrimas de alegria, lágrimas de amargura, lágrimas de aconchego, lágrimas de satisfação, lágrimas de esperança, lágrimas de devaneios, lágrimas de vida, lágrimas de morte, lágrimas de coragem, lágrimas de desesperança, lágrimas de fé, lágrimas de receio, lágrimas de dor, lágrimas de emoção, lágrimas de infantes, lágrimas de adultos, lágrimas de todos.

O colecionador de lágrimas, o Espírito Santo, decidiu guardá-las secretamente, para que a cada momento inesperado na terra, vivido pelos produtores de choro, homens e mulheres sejam consolados e, acima de tudo, de cada lágrima derramada possam extrair lições positivas para a vida e sejam conduzidos à verdadeira adoração a Deus, adoração sem fronteiras!

Genevaldo Vieira Cordeiro, o Wal Cordeiro, é autor de oito livros


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