Jorge Maia | homenagem a domingueira

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jorge Maia | Advogado e Professor

Pessoas há que não vão a um evento sob a alegação de não ter uma roupa para ir. O simples exame dos seu guarda-roupa seria suficiente para encontrar uma profusão de roupas variadas, o que tornaria difícil a escolha: “com que roupa eu vou?” Houve um tempo que não era assim. Todos tinham uma roupa específica para sair; ir ao médico, ir votar, ao cinema, ao velório, à missa ou ao culto. Era uma roupa só. Digo, era a mesma muda de roupa. Polivalente e identificada por todos como sendo a domingueira. Identificada por todos os conhecidos e amigos. Era a roupa de luxo para ocasiões especiais. Vesti-la em dia comum era motivo para chamar a atenção de vizinhança que perguntava logo: o que houve? Vai para onde? Não trazia etiqueta, era produzida pelo alfaiate da esquina ou pela modista do bairro. Tudo muito simples, sem esconder a vaidade de quem exibia a sua domingueira, assim chamada por ser a roupa de uso a cada domingo e denunciava a vida social de cada um em seu dia especial ou da sua ida a um lugar que exigia maior cuidado com a aparência. Leia a crônica na íntegra.

A domingueira caiu de moda. A produção em massa e a presença de etiquetas não permite o reuso da mesma peça de roupa, sob pena de denunciar a condição do seu portador. É preciso renovar com mais frequência  as vestes de modo a provar que possui várias peças e pode exibi-las, sem repetição, pretendendo causar a impressão de uma vida de luxo.

Steve Jobs só usava camiseta cinza e calça jeans, alegava que não perdia tempo com escolhas. Era uma dúvida que não tinha. Qualquer uma das peças estava multiplicada em seu guarda roupa e poderia alcança-las de olhos fechados, pois eram iguais.

A domingueira tinha charme. Era guardada com carinho, reservada para o próximo evento importante, certamente no domingo, e trazia consigo um ar de importância e dava dignidade a quem era dono, ou dona.

Depois de muito tempo a domingueira era substituída, era colocada para “bater” no uso diário e nova peça era apresentada à sociedade, que percebia a mudança e perguntava pela outra e a gente respondia: “tava” velhinha, botei para bater. Hoje, não há mais domingueiras.


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