Jeremias Macário | a intervenção militar e a ameaça à democracia: dois cabos eleitorais

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Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

O ontem não é o mesmo do hoje e nem o amanhã, mas a coerência e a ética devem ser. Estou falando das movimentações da política brasileira através dos longos anos, cujas mudanças de posições registradas pela história nos deixam confusos e estarrecidos com os conluios, acordos e apoios que antes seriam imagináveis. Essas alianças poderiam ser até anormais em tempos remotos quando as pessoas tinham mais caráter e pudor. Hoje perderam a vergonha e, com a cara mais limpa, dizem simplesmente que tudo faz parte da política. A questão não está em você rever seus conceitos, o que é natural e aceitável, contanto que isso seja feito longe dos oportunismos e desvios de conduta. Confira a opinão de Jeremias Macário.

Na verdade, fiz um certo atalho só para lembrar que na eleição de 2018 foi o ódio raivoso ao PT que elegeu um monstro psicopata para a presidência da República. Nesta de 2022 foram o medo de uma intervenção militar e a ameaça à democracia os principais cabos eleitorais que vão trazer o partido de volta ao poder.

Foram essas duas questões que mais mobilizaram o país nos últimos dias, a começar pelos manifestos suprapartidários de intelectuais, artistas, professores, líderes sindicais e dos estudantes ocorridos na Universidade de São Paulo que deram o tom da arrancada para derrubar o capitão-presidente, nem tanto seus palavrões e desprezo pelos negros, as mulheres, jornalistas e os grupos LGBT.

As incoerências partidárias não contam mais quando o eleitor vai à urna, mesmo porque a maioria não tem memória e acha tudo normal na hora da escolha. Ninguém lembra, ou não dá importância, por exemplo, que foi Dilma quem deu indulto de Natal ao maluco do Roberto Jefferson.

O Bozó deu o perdão ao deputado nazista Daniel Silveira que ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal, inclusive de fechar a corte, sem contar suas ofensas à democracia em campanhas pela intervenção militar, ou seja, a volta da ditadura pelas forças armadas. Gostaria de saber qual o pior dos dois entre o Jefferson e o Silveira?

Quem diria, por exemplo, que o ministro Joaquim Barbosa, o carrasco do PT no mensalão no início dos anos 2000, um dia fosse apoiar Lula? Pelo menos se houvesse certa coerência, não seria o momento dele ficar calado? Onde fica o povo que louvava e aplaudia o Barbosa nas ruas naquela época? O povo sempre foi massa de manobra, iludido pela esperança de trocar a cachorrada.

O grande erro do capitão-presidente, sem citar aqui milhares de outros, como genocida, foi se juntar aos extremistas nazifascistas para se colocar contra a democracia e a favor de uma ditadura, negando que ela tenha existido. Foi o que mais pesou na balança no julgamento da nação, que não levou também em consideração o passado de contradições nos ajuntamentos.

Muitas vezes procuramos enganar a nós mesmos para dar luz às trevas quando queremos defender a nossa “convicção” de que estamos certos na decisão, mesmo sendo contraditórios. Talvez não passe de um velho de discurso atrasado por estar esmiuçando essa besteira de ética e coerência.

Nunca conseguiremos construir uma verdadeira revolução socialista fazendo coligações com essa elite burguesa nojenta que impede o pobre de crescer na vida e sair da miséria. Não consigo imaginar, por exemplo, o Geraldo Alkmin enrolado numa bandeira vermelha da CUT, do MST ou de qualquer outra agremiação de esquerda. Na Bahia, João Leão, carlista desde criancinha, sempre teve DNA de direita. O mesmo acontece com o Otto Alencar.

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