Jeremias Macário | o empréstimo e o São João com o descaso na Câmara Municipal de Vitória da Conquista

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

  “pegaram a nossa cultura e jogaram para debaixo do tapete como se fosse lixo”

A Câmara Municipal de Vitória da Conquista realizou quarta-feira (31) uma sessão mista sobre o empréstimo de R$ 160 milhões  solicitado pela Prefeitura Municipal e na sequência uma solenidade em homenagem às Festas Juninas, que foi esvaziada pela grande maioria dos parlamentares e da plenária logo após a aprovação do projeto do executivo. O ato de esvaziamento foi uma falta de educação por parte dos vereadores e dos presentes à sessão, bem como uma prova incontestável de como é tratada a nossa cultura, como uma coisa sem importância, inútil e sem interesse, quando, na atualidade os equipamentos culturais [Teatro Carlos Jheová, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha] do Município se encontram fechados há anos por falta de uma reforma nas respectivas unidades. Continue a leitura na íntegra.

  É como se a cultura não fizesse parte das nossas vidas e das nossas almas, e somente obras de infraestrutura (calçamentos, drenagens e pavimentações de ruas) nos bairros resolvessem tudo. Infelizmente vivemos num país inculto onde a arte não tem valor algum. Como cultura não dá voto, joga-se ela debaixo do tapete como se fosse um lixo. Vá dizer que sem arte não existe vida e você será por certo tripudiado!

   O empréstimo de 160 milhões de reais a ser contraído através da Caixa Econômica Federal foi aprovado pela maioria dos 21 vereadores, inclusive pelo grupo do PC do B, menos os quatro edis da bancada do PT (Valdemir Dias, Viviane, Jacaré e Alexandre Xandó) que argumentaram endividamento do município e o mesmo que dar um cheque em branco para a prefeita Scheila Lemos.

  Houve até vaias e xingamentos para os que votaram contra, sob alegação de que eles se posicionaram contra o povo, só que não se tem certeza quando esses recursos serão liberados depois dos processos burocráticos e se serão mesmo investidos nos projetos de pavimentação, principalmente nos bairros de Panorama, Porto Seguro, Jardim Guanabara dentre outros. Alguns até sonham que as obras sejam semelhantes aos serviços feitos na Avenida Olívia Flores.

    Não sou de forma alguma contra as pavimentações e esgotamento sanitário de ruas em bairros, cujos moradores convivem há anos com vias de chão batido, na lama quando chove e na poeira nos períodos de estiagem. Há anos que essas obras estão sendo prometidas e nada tem sido concretizado.

    Quem vive nessa situação precária tem pressa, como quem passa fome. No entanto, é bom que se frise que não vivemos somente disso. A cultura também tem pressa e é ela que forma a consciência política do cidadão para não ser ludibriado e enganado pelos políticos, especialmente em época eleitoral.

   O que mais me decepcionou foi a debandada geral, quando no final da sessão, por volta das 11 horas, a promotora do evento do São João, vereadora Lucia Rocha, abriu os trabalhos. Só ficaram os artistas sanfoneiros, alguns personagens da área da cultura, os convidados que fizeram composição da mesa e os parlamentares Ricardo Babão, Bibia e o Subtenente Muniz.

   Nas falas, todos defenderam a contratação de músicos forrozeiros durante os festejos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro) no lugar de bandas de outros ritmos (arrocha, axé, rock, lambadas, sertanejos) pagas com altos cachês por determinados prefeitos nordestinos.

    Os pronunciamentos, incluindo o do secretário de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer- Sectel, Xangai, foram no sentido de que seja mantida a tradição do forro, da dança, dos costumes e dos hábitos, como das comidas e bebidas típicas da época.

    O presidente do Conselho Municipal de Cultura, Jeremias Macário, pediu mais atenção para a cultura em Conquista e fez um breve relato sobre a história, as origens e o surgimento do forró (Luiz Gonzaga, Sivuca, Marinês, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro) a partir da década de 1930, com sua popularização nos anos 50 e a introdução de outros instrumentos (guitarra, sax, teclado, bateria no ritmo nos anos 70, 80 e 90 (Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Elaba, Falamansa, Mastruz com Leite, Calcinha Preta, Rastapé, Forroçacana, Frank Aguiar, Aviões do Forró e tantos outros).

   Do forró (sanfona, triângulo e do zabumba), com sua dança arrasta-pé autêntico, termo africano forrobodó, nasceram o baião, criado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, o xote vindo dos salões da Europa (Alemanha) e o xaxado com o cangaço nordestino. Suas letras tratam de temas do Nordeste, da vida do povo dessa região, de amor e saudades da terra natal.


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