Jeremias Macário de Oliveira | com festas, Salvador poderia ser a capital mais desenvolvida do Brasil

Foto: BLOG DO ANDERSON

Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor

Dizem o governo e seus representantes que só no carnaval giram dois bilhões de reais na economia, sem contar as outras festas (todo ano), mais intensas a partir do início de dezembro até final de fevereiro. Fala-se em um milhão ou mais de turistas vindos de todas as partes do Brasil e do exterior. Pouco divulgam sobre os milhões de reais e até bilhão na segurança, na logística e nos cachês gordos dos artistas para os mesmos afortunados, cujos nomes todos já sabem muito bem, de cor e salteado. Não sou contra prestigiar os afoxés, mas o estado vai dar neste ano quinze milhões de reais só para essas agremiações. Muitos “sabidos” passam a mão numa parte. Desses dois bilhões, 98 ou 99% caem nos bolsos dos mais ricos e poderosos. O restante fica com o pessoal do asfalto, como os vendedores ambulantes, barraqueiros, cordeiros, seguranças e operários que armam os camarotes e outros palcos. Não existe distribuição de renda equitativa e a pobreza na capital só aumenta. Confira a manifestação de Jeremias Macário de Oliveira.

Está comprovado que se festas fossem fator preponderante de desenvolvimento econômico e social, Salvador seria a capital mais desenvolvida do país e não teria tantos índices negativos na educação, no saneamento básico, na saúde e na qualidade de vida. Não existiriam tantos moradores de rua e milhares passando fome.

A desigualdade humana é gritante e tenebrosa. Quase metade dos 14 milhões de habitantes da Bahia recebe o Bolsa Família, uma das maiores ou a maior em quantidade de beneficiários e valores gastos pelo Tesouro do Brasil, tanto que o “pente fino para apurar as irregularidades atingiu mais o estado. O desemprego tem também seu alto nível na média nacional. Pelo IBGE, houve uma redução populacional.

Vá discutir isso com os donos de hotéis, de agências de viagens da aviação, dos camarotes, dos trios elétricos, dos blocos, dos cantores de músicas/lixo preconceituosas, donos da grande mídia, com os políticos e até proprietários de apartamentos da orla marítima que alugam seus imóveis entre dez a trinta e cinco mil reais por sete ou oito dias de folia!

Eles vão partir com argumentos falsos e mentirosos; falar que você é esquerda/comunista derrotista, vagabundo de merda e são capazes de lhe encher de porrada. Teve um aí que abriu a boca para dizer que o carnaval emprega mais que a construção civil, só se for durante apenas no período, e olhe lá. Não apresentou dados concretos.

Os pobres também não vão gostar, porque estes estão na pior das desgraças e, por não terem consciência política, educação, serem altamente submissos e escravos dos patrões, se contentam com o pouco, com as migalhas que caem das mesas da elite dominadora do capital.

Eles até riem e agradecem nas entrevistas. Todos querem mais festas e feriadões prolongados. O miserável físico e mental prefere o circo ao invés do pão. Ele dá um jeitinho para enganar o estômago e vai levando a vida como ela é, a vagar por aí na base dos “bicos” e até através das malandragens golpistas.
Essa é a realidade nua e crua, meu amigo, e ninguém quer mudar porque o rio só corre para o mar. A cultura é essa e já vem de séculos. Quanto mais festas, mais votos e os eleitores caem dentro da urna. Sem ao menos refletir e questionar, os jornalistas, que adoram bajulação, anunciam que tudo é de graça. Como de graça se o dinheiro sai dos cofres públicos, pago pelo contribuinte?

Tudo é vendaval! Tudo é festa e curtição! Quanto mais muvuca e fuzuê, melhor para os abonados e pobres. Na Bahia, o ano só começa em março, deixando um rastro de ressaca, doenças, crimes, violências, mortes, principalmente no trânsito. Enquanto isso, muitos setores da economia (comércio e indústria) ficam parados.

Vamos todos às festas porque ninguém é de ferro, não importando se elas extrapolam o senso comum. Nas cidades do interior onde não existe carnaval tudo é fechado na segunda, terça e até meio dia de quarta-feira de cinzas.

Os que podem e até aqueles sem condições financeiras pegam as estradas, se endividando. Entopem mais ainda o meio ambiente de sujeiras e gases tóxicos, contribuindo para agravar o aquecimento global. Depois é só colocar a culpa no El Nino e nas mudanças climáticas.


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