
Jeremias Macário de Oliveira | jornalista e escritor
Não aponte esta máquina fotográfica para a favela senão você pode receber uma bala de volta, alertou o vigia do alto do Santuário da Penha, no Rio de Janeiro. Este é o quadro de terror que se vive hoje no Rio de Janeiro, onde vários pontos turísticos, que antes eram bem frequentados, se tornaram perigosos para se visitar, tudo por negligência dos nossos governantes, que abandonaram aquela gente por anos na área social.
As favelas hoje, não somente no Rio de Janeiro, se transformaram em estados paralelos nas mãos das facções do tráfico de drogas e dos milicianos, que ocuparam o espaço social que deveria ser, por obrigação, dos governos. É uma realidade cruel e talvez irreversível, porque os governantes, há anos, decidiram combater a violência com mais violência, com tanques, metralhadoras, fuzis e mais armamentos nas ruas, esquinas e becos, uma política insensata, sem resultados práticos.
Os bandidos que tomaram conta desses territórios e exploram a população pobre com suas extorsões se armaram até os dentes e formaram estados paralelos, onde prepostos dos governos e entidades privadas precisam da permissão deles para entrar, como se fosse um passaporte exigido no exterior. Por que essa política que, comprovadamente, não está dando certo há mais de 50 anos continua sendo aplicada? Programas sociais e educacionais do governo Brizola foram desmantelados. A quem interessa essa ação tão desastrosa de embate de fogo contra fogo? Continue a leitura do artigo de Jerêmias Macário de Oliveira.
Ao lado da Igreja da Penha de França, na zona norte da Cidade Maravilhosa, construída no século XVII por devoção do capitão Baltazar de Abreu Cardoso, dono daquela área, fica o Complexo da Penha, reduto dos traficantes que, vez ou outra, trocam tiros com os policiais.
Confesso que fui visitar aquele monumento turístico com medo e ainda apontei minha máquina em direção à favela, sendo imediatamente repreendido pelo guarda do Santuário. Nessa hora, falou mais alto meu instinto jornalístico.
O local não é mais tão visitado como antigamente por causa da violência, como tantos outros no Rio de Janeiro. Passar hoje pelas linhas Amarela e Vermelha, para quem vem do Aeroporto do Galeão, é uma temeridade.
Aqui, ao lado, é o Complexo do Alemão, cuidado! O visitante de fora sempre é comunicado pelo motorista ou algum morador acompanhante quando atravessa aquela localidade. Todos ficam em estado de alerta quando entram num túnel.
No entanto, muitas vezes a fé ainda fala mais alto. Ao subir a pé os quatrocentos degraus da Penha, enxerguei quase na metade uma moça solitária que se arrastava de joelhos, se apoiando naquela corrente, para cumprir sua devoção.
Com meu passo firme, segui em frente, entrei na igreja e lá o padre estava realizando um batizado entre velas e castiçais. Também era uma renovação de fé e mistério. Presentes somente os padrinhos e os pais.
No retorno, dei de frente com a jovem da promessa, que estava sentada no último degrau e soltou aquele sorriso de alívio para mim. Muito simpática, troquei um dedo de prosa com ela e senti o seu contentamento espiritual por ter cumprido com sua tarefa. Para não ser indiscreto, não indaguei sobre sua devoção. Só disse que ela era corajosa e forte.
Aquela imagem ficou guardada em mim. Em meio a tanta violência, o brasileiro ainda mantém sua fé e esperança de dias melhores. Acredita que as coisas podem melhorar um dia, só não se sabe quando, diante de tantas incertezas de mudanças na política atrasada e arcaica dos nossos governantes.
Se quiser que eu prepare uma versão com título, subtítulo e linha fina para publicação digital ou impressa, posso fazer também.